Um espaço, três pedras lançadas, duas construções e uma demolição: a Matriz de Nossa Senhora das Dores, uma história pouco conhecida

Jonas Balzan
Mestrando em História – PPGH/UPF

Criada em 1847, a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida possuía sua sede onde se localiza a atual Catedral Arquidiocesana de Passo Fundo. Por questões estruturais e logísticas (as primeiras casas erguidas na área que hoje abrange o município de Passo Fundo foram a ocidente, no Boqueirão, ao longo da estrada geral das tropas, hoje Avenida Brasil), fora lançada a pedra fundamental da atual Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em terreno doado por Ramon Rico, no dia 1º de janeiro de 1893. Essa igreja ficou pronta por volta de 1907 e 1908 e se localiza na Rua Uruguai, na Praça Tamandaré.

Na Igreja anterior, ou seja, na localizada na atual Praça Marechal Floriano, mais conhecida como Praça da Cuia, foram feitos apenas os reparos necessários para que essa não viesse ao chão e a população pudesse ter um local para realização de suas cerimônias religiosas enquanto o novo templo era edificado. Após a construção da nova matriz, situada na Praça Tamandaré, a antiga foi demolida, em 1909.

Anos depois, em 1935, foi lançada a pedra fundamental da atual Catedral, porém, antes disso, neste mesmo local existia outro projeto: a construção de uma nova Igreja Matriz sob a invocação de Nossa Senhora das Dores.

Em 1910 foram criadas três novas dioceses no Estado do Rio Grande do Sul, por meio da Bula Praedecessorum Nostrorum do Papa São Pio X. São elas: Diocese de Pelotas, Diocese de Uruguaiana e Diocese de Santa Maria. Porém, o território dessas continuou sendo administrado pelo Arcebispo de Porto Alegre, Dom Cláudio José Gonçalves Ponce de Leão, até 1911, quando são designados seus respectivos bispos pela Sé Romana. Neste sentido, o primeiro bispo da Diocese de Santa Maria foi Dom Miguel de Lima Valverde, que tomou posse em 1912 e exerceu essa função até 1922, quando se tornou Arcebispo de Olinda e Recife, Estado de Pernambuco. 

Em 1913 Dom Miguel de Lima Valverde foi recebido em Passo Fundo para realizar a benção da primeira pedra da Igreja Nossa Senhora das Dores, que seria edificada no lugar da antiga matriz. Este ato foi acompanhado pela população, pelos vigários locais Padre Valentin Rumpel e Padre Rafael Iop, e pela Comissão construtora da Igreja. 

Anos depois, em publicação n’ O Nacional, em 1926, com o título Donativos para a Igreja N. S. das Dores (em construção), a matéria trazia o seguinte conteúdo: “Foi aberta, nesta cidade, uma lista para angariar donativos para a Igreja N. S. das Dores, cuja lista se acha em poder do thesoureiro, sr. Eduardo Kurtz, a quem devem ser entregues as importancias, encarregando-se o “Nacional” de publicar as quantias recebidas”. O valor estipulado inicialmente para a obra seria de mais ou menos 400 contos. Mais tarde, cessam-se os comentários sobre tal construção, possivelmente por começarem os debates referentes ao bispado e a possível construção de uma Catedral, sede de uma nova Diocese, neste mesmo local. Acreditamos ainda, que o dinheiro, até então arrecadado, tenha sido transferido para a construção da atual Catedral, em vista que a composição de ambas as Comissões, tanto de construção da Igreja Nossa Senhora das Dores, quanto da Comissão Pró-Bispado, possuírem os mesmos integrantes. À exemplo: Otto Bade, Octacilio Ribas, Herculano Trindade, Eduardo Kurtz e Almiro Ilha. 

Curiosamente, das 53 paróquias que abrangem a atual Arquidiocese de Passo Fundo, nenhuma leva o nome de Nossa Senhora das Dores, o que nos leva a crer, que não tenha sido uma comunidade de devotos que tenha sugerido o nome, mas sim o próprio Dom Miguel, algo comum no período de romanização no Brasil.