1957: As Festividades do Centenário de Passo Fundo

Alex Antônio Vanin e Roberto Biluczyk
Mestrandos em História – PPGH/UPF

Desde sua organização inicial, passando por sua emancipação em 1857 e chegando aos dias atuais, a cidade de Passo Fundo enfrentou severas transformações em sua apresentação estrutural, nos meios urbano e rural, cedendo territórios para composição de novos municípios, adquirindo em si características de polo universitário, comercial, empresarial e hospitalar.

A plantação de trigo nos canteiros da Avenida Brasil fez parte das festividades do Centenário e da Festa Nacional do Trigo. Na foto, os canteiros localizados no trecho entre as ruas Marcelino Ramos e Dez de Abril. Fonte: Revista Manchete. Rio de Janeiro, 23 nov. 1957, p. 74.

Em 1957, uma sucessão de eventos celebrou o centenário da emancipação de Passo Fundo, comemorado em 07 de agosto, data da instalação da Câmara Municipal do município cem anos antes. A comunidade se mobilizou durante o ano todo para a realização de festas, circuitos de corrida, desfiles e exposições alusivas à data. Um hino, composto por Arthur Süssenbach e Irene Wagner Teixeira, foi escolhido através de um concurso para as comemorações.

Naquele ano, Passo Fundo promoveu a sétima edição da Festa Nacional do Trigo. À época, a cidade se destacava pela cultura agrícola e ostentava o título de Capital do Trigo. O Governo Federal subsidiou cinco milhões de cruzeiros, moeda de então, para a realização das festividades. Plantações do cereal se estendiam ao longo dos canteiros centrais das avenidas Brasil e Presidente Vargas.

A solenidade de abertura da festa contou com a presença do então Vice-presidente da República, o sul-rio-grandense João Goulart, bem como do prefeito Wolmar Antônio Salton e de políticos de destaque, como Leonel Brizola, então prefeito de Porto Alegre que mais tarde se tornaria governador do Estado e protagonizaria o Movimento da Legalidade, em favor da posse de Goulart como Presidente, contestada por militares em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros. O então Presidente da República, Juscelino Kubitschek, foi convidado para a festividade no entanto não se fez presente, apesar dos convites enviados pelo prefeito.

A Exposição do Centenário ocorreu em quatro pavilhões construídos para o evento. Estes se localizavam atrás da atual Prefeitura Municipal, em amplo terreno. Durante duas semanas, milhares de pessoas visitaram o local, onde foram realizados também diversos espetáculos.

Três mulheres foram eleitas para representar a cidade nos muitos eventos realizados naquele ano: Célia Ferreira ganhou o título de Miss Passo Fundo; Marcia Kozma foi a Rainha do Centenário; e Gládis Maria Marson, a Rainha da Festa do Trigo. As rainhas, após serem empossadas, tornaram-se as figuras principais de festas, jantares, bailes e desfiles das comemorações do Centenário.

O circuito de corrida do Primeiro Centenário de Passo Fundo foi realizado em diversas fases, durante o ano de 1957. O evento final, marcado para fins daquele ano, em razão de problemas climáticos foi adiado para fevereiro de 1958, sagrando a vitória a Orlando Menegaz, um dos tantos corredores passo-fundenses do circuito, que contou com a participação de Ítalo Bertão, Sinval Bernardon, Arístides Bertuol e Aido Finardi, além de pilotos de toda a região. No circuito, os corredores se notabilizaram pelo uso das chamadas carreteras, veículos personalizados pelos próprios corredores para o automobilismo, muitos preservados e acessíveis para a visitação ainda hoje, sob o intermédio do Sr. Paulo Trevisan, junto ao Prix Hotel, no bairro Boqueirão. 

Ainda no âmbito esportivo, ocorreu o Concurso Hípico Divisionário, junto ao quartel do 20º Regimento de Cavalaria, tendo como campeão o Tenente João Edi Kraemmer. O evento contou com participantes de São Luiz Gonzaga, Santa Rosa, São Borja, Itaqui e Santiago. No futebol, realizou-se o Campeonato Citadino, no qual o Clube 14 de Julho conquistou vitória de 1 x 0 sobre o Sport Clube Gaúcho, em partida realizada no Estádio da Baixada, conquistando o título de Campeão do Centenário. 

O ano do Centenário foi intenso e ainda permite aprofundamento em termos de divulgação e pesquisa. O Arquivo Histórico Regional (AHR) disponibiliza consulta local de diversos jornais e revistas, a exemplo do jornal O Nacional, fonte para a pesquisa descrita anteriormente.