Igreja Matriz da Conceição

26 de novembro de 2013

Meio Século de planejamento: a construção da Igreja Matriz de Passo Fundo

A igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, que muitas vezes pode passar despercebida por pedestres e motoristas apressados em seu dia a dia dentro do contexto urbano do século XXI, deixou de ter a mesma importância de localização estratégica e geográfica que já teve no final dos anos de 1800 na cidade de Passo Fundo. Se a observarmos mais a distância podemos ver que ela está em cima de um morro, pois para todos os lados – das ruas Paissandu, Uruguai e Teixeira Soares – há generosos declives.

Pois bem. Isso não se deu por acaso, já que em meados do século XIX quando a Vila do Passo Fundo ainda estava nascendo os aspectos geográficos de relevo e localização eram levados mais em consideração, tanto que a referida região já tinha sido escolhida pelo primeiros moradores de nossa cidade para iniciarem o povoamento. Contudo, foi em 1830, segundo Delma Ghem, que foi efetivada a doação de uma área para ser erguida a capela de N.S. da Conceição Aparecida. Ela foi construída num local ainda mais alto – atualmente a avenida General Neto. Ainda denominada capela, foi inaugurada em agosto de 1834.

Em novembro de 1847 foi criada a paróquia de Passo Fundo, no entanto seus alicerces, à frente da Praça Tamandaré, foram lançados apenas em 1891. Mas, para tanto, houve um longo processo de planejamento. Desde a metade da década de 1850 já havia sido constituída uma Comissão Encarregada das Obras da Igreja Matriz de Passo Fundo que organizava os projetos, buscava os recursos e relatava para a comunidade seus resultados. O primeiro projeto foi apresentado pelo engenheiro Paulo Maurício Lischke (há informações de que Lischke, antes de desenvolver suas atividades em nossa região, teria participado de projetos cartográficos no Amazonas) no ano de 1853 com o custo total para a execução de 47:324$800 (quarenta e sete contos, trezentos e vinte e quatro mil e oitocentos réis).

O fato que nos chama a atenção em relação a esse primeiro planejamento – que tivemos acesso no acervo do Arquivo Histórico Regional – é que o mesmo foi alvo de várias contestações pelo engenheiro Antônio Mascarenhas Telles e Freitas (engenheiro e militar que trabalhava para o governo da Província, como também na Secretaria de Obras Públicas) que escreveu o parecer técnico a respeito do trabalho de Lischke, em 1864, por solicitação da Comissão através da Câmara Municipal de Passo Fundo.

O documento vem encaminhado pelo Palácio do Governo e assinado pelo Presidente da Província João Marcelino de Souza Gonzaga e, no qual, já na apresentação mostra a indicação da necessidade do levantamento de uma nova planta “corrigindo-se os defeitos” da que havia sido analisada.

Segundo o parecer do engenheiro Telles e Freitas havia irregularidades em todos os aspectos do projeto no tocante à disposição, proporções e harmonia de tal maneira que “seu autor se esqueceu um por um a todos os princípios de arquitetura”. Também quanto à estética e a modernidade já que a parte frontal fazia recordar as pesadas construções coloniais e não poderia atestar às futuras gerações o estado de desenvolvimento em que se achava a sociedade do final do século XIX. Ainda, quando se detém nos detalhes mais técnicos o profissional demonstra os equívocos quanto a falta de higiene que haveria por conta da pouca ventilação e iluminação propostas pelo primeiro planejamento. Segundo o engenheiro, isso poderia ser prejudicial para as senhoras que diariamente frequentariam por “algumas horas” o futuro templo. Finaliza, relatando que essas são apenas breves colocações e que se houvesse interesse de uma análise mais minuciosa se poderia realizar. Em anexo ao documento está o orçamento original.

Após um trabalho de meio século o início da construção se deu em 1893 – ainda suspensa durante certo período pela Revolução Federalista – e sua inauguração aconteceu entre 1907 e 1908. 

O planejamento original foi refeito e após o início da construção este episódio acabou por esquecido. Todavia, esse foi apenas mais um dos tantos percalços enfrentados pela Comissão Encarregada das Obras até a materialização de tão almejado projeto. Pois a comunidade viu a concretização de seus planos e em meados da década de 1920 a Matriz já atendia a vinte e oito capelas na região. E, para orgulho da população local, a primeira missa rezada por um passo-fundense, padre Argemiro Della Méa, foi no já distante Natal de 1942.

Benhur Jungbeck
Professor de História
Fonte: Acervo AHR
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