História e imprensa: a Revista Seleções no Brasil

A imprensa é um instrumento de pesquisa significativamente importante na área de História, pois reflete a visão da sociedade frente aos acontecimentos que fazem parte de uma memória coletiva.

Os jornais locais, além de guardarem esta memória, servem de fonte para novas interpretações acerca de uma época.

As revistas, menos procuradas do que os jornais para fins de pesquisa, também trazem elementos importantes na análise histórica da sociedade.

Há, porém, que se destacar que o uso da imprensa como fonte histórica exige do pesquisador um senso crítico para reconhecer o posicionamento ideológico do jornal ou revista.

No Arquivo Histórico Regional de Passo Fundo temos um vasto acervo de periódicos entre jornais e revistas de abrangência regional, estadual, nacional e até internacional, como é o caso da Revista Seleções da empresa norte americana Reader’s Digest.

A revista Seleções foi criada nos Estados Unidos em 1922 por De Witt Wallace, ex-combatente da Primeira Guerra Mundial, e passou a ser distribuída, mensalmente, no Brasil em 1942, quando já era distribuída para o restante da América. Atualmente esta revista circula no Brasil, ainda mensalmente, num formato que foi mantido desde sua primeira edição.

No ano em que Seleções foi traduzida para o espanhol (1940) e veiculada no Brasil (1942), a Segunda Guerra Mundial encontrava-se em momento decisivo e os norte americanos buscavam projetar uma imagem de proximidade e dualidade entre EUA e América Latina, visando afastar o perigo nazista. Sendo este o propósito ou não da expansão da veiculação de Seleções, o fato é que a difusão da revista e a propaganda anti Eixo que trazia em suas reportagens, artigos, comerciais e até na seção humor, contribuiu para uma adesão aos Aliados, em resposta ao recorrente e apelativo “...em defesa das Américas” trazido nos exemplares mensais.

Ao final da Segunda Guerra, a Revista Seleções, mudou o discurso. Os interesses já não são os mesmos por parte dos norte americanos. O apelo ao consumismo nas páginas comerciais, os recorrentes discursos frisando os benefícios de uma sociedade capitalista e os malefícios, muitas vezes maximizados, de uma sociedade que se rende ao socialismo, procuraram convencer o leitor a aderir ao modo de vida capitalista, o American way of live.

Da mesma forma, a Revista Seleções destacava o contexto da Guerra Fria, um mundo polarizado entre capitalismo e comunismo, constituindo-se uma das mais importantes armas deste conflito ideológico, sobrepondo-se até ao combate armado.

A reconstrução da história é possível de ser feita com base nos documentos de imprensa. Nesse sentido destacamos a importância da preservação dos acervos jornalísticos e da sua visitação, o que contribui para aproximar o leitor da sua própria história e das variadas interpretações que encontramos nos diferentes veículos de imprensa.

Cláudia Regina Schäffer
Acadêmica do 8º nível do Curso de História e
bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica – UPF
Fonte: Acervo AHR