O Suicídio como Depuração

“O homem é o único ser vivente que, possuindo claro conceito de morte e vontade para vencer qualquer instinto, pode tirar a própria vida, ao dar conta que do balanço entre alegria e dor, a dor é o que predomina” (TANZI).

Vários são as razões que levam uma pessoa a cometer o ato do suicídio. A média de suicídios aumentou 60% nos últimos 50 anos. De acordo com os dados atuais (2014) da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3.000 pessoas cometem suicídio por dia no mundo inteiro, aproximadamente uma pessoa a cada 30 segundos se mata. Ainda segundo a OMS estima-se que para cada pessoa que consegue se suicidar, existem mais de 20 que tentam sem sucesso. O mais preocupante é que a maioria dos casos de suicídio poderia ser previsto e evitado.

Atualmente o suicídio é uma das três principais causas de morte no mundo, porém o suicídio é antigo, mesmo a Bíblia faz referências ao assunto. Na década de 1950, mais precisamente no ano de 1957, no município de Soledade – RS ocorreram diversos suicídios, segundo análises em processos crimes encontrados no Arquivo Histórico Regional (UPF). Para cada dez suicídios cometidos entre 1950-1960, 8 eram de mulheres, e em 80% dos casos os fatos que levavam as mulheres a suicidar-se eram amorosos.

Existem diversas pesquisas realizadas com base em análises de autopsias, processos judiciais, cartas ou diários. É de suma importância conhecer o contexto social e a realidade em que cada ato transcorreu.     Os processos que conduziram o artigo são como dito anteriormente da década de 1950, neste período as mulheres já tinham conquistado muito mais liberdade e autonomia se comparado com a década anterior. Porém, muitos autores como Estela Meneghel, Napoleão Teixeira, Charles Fauqué, entre outros, ainda afirmam que neste período as mulheres eram muito frágeis e dependentes do marido ou família. As mulheres solteiras ou noivas dependiam tanto dos pais quanto do futuro marido. Os processos observados são de mulheres solteiras, mas prestes a casar-se. Os três processos escolhidos as mulheres suicidaram-se por terem sido usadas (manterem relações intimas) e abandonadas pelos noivos antes do casamento. Talvez a vergonha e a humilhação fosse insuperável para tais mulheres, de forma que a única maneira de não sofrer as consequências fosse a própria morte. Em uma das cartas das suicidas encontradas junto ao processo crime há a seguinte frase:

“Ele me fez me perder por três vezes e agora diz que não quer casar comigo... E assim como fui uma pobre desventurada termino com a minha vida para não dar desgosto a meus pais e irmãos.”.

Conhecendo o contexto histórico e social de Soledade na década de 1950 e com as análises das cartas deixadas explicando o motivo do suicídio fica claro que uma mulher que mantivesse relações sexuais antes do casamento e fosse descoberta perderia o respeito e causaria desgosto e humilhação à família. De certa forma segundo os casos analisados era melhor morrer do que “manchar” o nome da família.

Embora os suicídios relacionados a fatores amorosos ainda sejam comuns, a maioria não se define pelos mesmos motivos de 60 anos atrás. “Manchar” o nome da família ou ser apontada na rua já não tem a mesma importância. Os motivos atuais são na maioria das vezes mais pessoais e estão relacionados a questões de depressão. Ou seja, hoje as pessoas tendem a se matar para evitarem o seu próprio sofrimento e não o sofrimento alheio. O suicídio passa a ser encarado como a única alternativa para conflitos sociais e interpessoais.

Seja qual for o motivo que leve a pensar na própria morte o fato é que o suicídio seja de homens ou mulheres têm preocupado diversas organizações e órgãos de saúde, como a OMS que criou programas de prevenção ao suicido. Aparentemente após milhões de suicídios em todo o mundo, os órgãos de saúde estão tratando o caso como um problema público, uma vez que o ato de um suicida abrange não somente sua vida, mas causa danos aos familiares e amigos. O suicídio como apontou Durkheim (1858 -1917) é antes de tudo, um fato coletivo e social.

Acadêmica: Gabriela de Andrade Porto (7º semestre do curso de história).