O caso da dissidência trabalhista

Luiz Alfredo Fernandes Lottermann
Mestrando em História - PPGH/UPF

Há 60 anos concretizava-se a ruptura que causaria grandes consequências na vida política de Passo Fundo durante o período democrático. Em 1959, importantes líderes do trabalhismo passo-fundense, como Daniel Dipp, Múcio de Castro e Mário Menegaz abandonaram o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de Getúlio Vargas e João Goulart, para ingressarem nas fileiras do Movimento Renovação Trabalhista(MRT). O resultado disso viria anos mais tarde, nas eleições municipais de 1963.

Os atritos entre as lideranças trabalhistas do município começaram ainda em 1957, durante a eleição da diretoria da Ala Moça do Partido. Os jovens Romeu Martinelli e Augusto Trein tumultuaram o evento no intuito de desafiar a executiva municipal petebista. A desordem gerada pelos jovens promoveu inclusive agressões físicas, quando o membro da executiva partidária Ney Menna Barreto arremessou um jarro na direção de Martinelli e acabou acertando o acadêmico Paulo Totti. 

No mesmo ano, ocorreu a convenção partidária para escolha dos candidatos do trabalhismo local para as eleições legislativas federal e estadual de 1958. Daniel Dipp, então deputado federal, foi escolhido como candidato à reeleição à Câmara Federal mesmo não estando presente na cidade na data da convenção, o que o deixou extremamente descontente com a agremiação. O então deputado estadual Múcio de Castro, também ficou insatisfeito com os rumos da convenção. Múcio de Castro não gostou do fato de seu nome sequer ter sido cogitado para a reeleição à Assembleia Legislativa.

    Já em 1959, em vias da escolha dos candidatos para a sucessão na Prefeitura Municipal, a insatisfação levou à dissidência. Enquanto o PTB decidia-se pelas candidaturas de Benoni Rosado e Sinval Bernardon, a prefeito e vice-prefeito, respectivamente, os dissidentes garantiam que Mário Menegaz e Daniel Dipp (registraram-se pelo Partido Trabalhista Nacional) seriam os candidatos dissidentes, em uma eleição que contaria ainda com Bittencourt Azambuja, concorrendo a prefeito, e Anildo Sarturi, candidatos a vice pela “Coligação Democrática de Passo Fundo”. Nas eleições municipais de 1959, os candidatos petebistas venceram, ficando os dissidentes em segundo lugar.

    Apesar da vitória em 1959, a saída de importantes lideranças trabalhistas do partido de Jango e Brizola fragilizaram a agremiação em Passo Fundo. Nas eleições de 1963, Mário Menegaz logrou êxito nas urnas, derrotando o candidato petebista Sinval Bernardon. A vitória do dissidente encerrou o ciclo de domínio do Partido Trabalhista Brasileiro nas eleições municipais de Passo Fundo, que vinha comandando a política local desde a primeira eleição após a redemocratização, em 1947, sendo o fim da supremacia do PTB a grande consequência da cisão do trabalhismo municipal.