Cruz Vermelha em Passo Fundo, a guerra chegou por aqui? (Parte I)

Noite de sábado, 9 de maio de 1942. Clube Comercial. Casais dançam ao som do jazz tocado pela Banda Marcial da Brigada Militar. Homens e mulheres elegantemente vestidos enchem o salão de baile unidos por uma causa mundial: a segunda Grande Guerra.

Horas antes, em sessão solene realizada no mesmo local, reunia-se a elite passo-fundense. Representantes civis, militares, eclesiásticos de âmbito nacional, municipal e internacional estavam atentos à fala do Dr. Armando Vasconcellos, chefe do Posto de Higiene Local. Estava instalado o Núcleo de Voluntários da Cruz Vermelha Brasileira de Passo Fundo (CVBPF).

 A diretoria provisória foi constituída pela professora Mathilde Mazeron (presidente) e Dejanira Langaro (vice-presidente). Após compor a mesa, Vasconcellos comentou sobre o momento de graves apreensões por que atravessava o Brasil em face do cataclisma que ameaçava transformar o mundo num vasto “estado de fogo e sangue”.

A Cruz Vermelha, fundada nesta cidade em 1942, fora internacionalmente criada em 1863 por Henry Dunant, dando origem às Convenções de Genebra e ao Movimento Internacional da Cruz Vermelha. Sociedade de socorro voluntário civil sem fins lucrativos, filantrópica, atuando em caso de guerra em todos os setores salvaguardados pela Convenção de Genebra em favor de todas as vítimas de conflitos, sejam civis ou militares.

A criação da CVBPF em nossa cidade foi reflexo do alinhamento do Brasil às Forças Aliadas em agosto de 1942, durante o governo Vargas, tendo como fator principal a ampliação de prestígio do país junto aos EUA, que haviam decretado guerra contra o Eixo.

Em 1942, não houve movimentações do Núcleo em Passo Fundo. Os trabalhos iniciaram intensamente com o envio à Itália de 25 mil militares da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Dejanira Langaro assumiu presidência da CVBPF em 23 de junho de 1943.

Imediatamente, iniciou-se a constituição dos cursos de atendente e auxiliar de enfermagem e as campanhas de arrecadação de agasalhos para a FEB.  Segundo Delma Gehm, secretária geral da CVBPF, “essa diretoria viveu os momentos mais emocionantes e difíceis da 2ª Guerra Mundial”.

A demanda das tropas que passavam pela cidade e o sentimento temerário da guerra no Brasil faz com que o núcleo CVBPF aumentasse consideravelmente seu contingente de voluntários e mantenedores, intensificando ainda mais os trabalhos e cursos de socorristas ministrados na sede temporária no Clube Comercial, nos meses finais de 1944 até fim do primeiro semestre de 1945.

Lenços brancos no ar, lágrimas no rosto, o som dos clarins e apitos de trem, misturavam-se ao céu da manhã de 24 de dezembro de 1944 na Gare da Viação Férrea. Setenta e sete soldados e três cabos do exército compunham o primeiro grupo de expedicionários passo-fundenses, despediam-se dos seus familiares e entes queridos para incorporar-se a FEB no Rio de Janeiro rumando então aos fronts Italianos.

Anderson Roman Pires, graduando de História nível III Universidade de Passo Fundo(UPF).
Dejanira Langaro
Delma Gehm