Assassinato

19 de maio de 2014

O SILÊNCIO DOS CONDENADOS

“Um fato grave que bem dá conta, da violência, da irresponsabilidade e falta de equilíbrio emocional que domina certas pessoas, encarregadas de manter a ordem, “proteger” a população...”, assim inicia a manchete, “Tiro nas Costas”, da capa do jornal O Nacional do dia 06 de fevereiro de 1979. Estas palavras irão sentenciar ao silêncio os autores da morte do motoqueiro Clodoaldo Teixeira, ocorrida no dia anterior em Passo Fundo, e que desencadeou protestos no centro da cidade e culminou em violento confronto entre a Brigada Militar (BM) e civis, tendo como consequência a morte de outras duas pessoas. 

Poucas horas depois da morte de Clodoaldo, dia 05, segunda-feira, o Comandante do CPA/3 (Comando Policiamento de Área/3), emite uma nota oficial, assinada pelo Tenente Coronel José Ângelo Lucas Dutra informando nome e patentes dos policias militares, bem como a versão da BM dos acontecimentos que levaram a morte do motoqueiro.  A nota oficial da BM foi publicada no O Nacional, em meio a um texto sobre o tema somente na quarta-feira dia 07.

A pressão política sobre o comando da Brigada Militar foi tamanha que o governador da época, Sinval Guazzeli, ordenou a substituição do comandante do 3º Regimento de Polícia Montada de Passo Fundo (3ºRPMon), Major Antônio Augusto Carpes. Depois da substituição de comando do 3º RPMon, passou-se a atribuir a responsabilidade de todos os acontecimentos ocorridos entre a noite do dia cinco e dia sete ao Comandante do CPA/3 e aos policiais militares que participaram da perseguição e morte do jovem Clodoaldo Teixeira, especialmente o Cabo José Valmor da Silva. 

Os acontecimentos daquele fevereiro de 1979 marcaram a memória dos passo-fundenses e foram muito questionados e amplamente divulgados pela mídia da época, no entanto o que chama atenção é o que nunca foi publicado em nenhum momento, qualquer nota com a versão dos acusados ou sequer uma declaração de seus advogados de defesa. Portanto, tivemos divulgação ampla da versão oficial dos fatos daquele 1979.

Trinta anos depois, o advogado das vítimas, Irineu Gehlen, declarou que os acusados foram indiciados pelo assassinato do motoqueiro e investigados em um inquérito Militar, sendo afastados de suas funções por alguns anos. O Cabo, autor do tiro, chegou a ser condenado a pena de seis a sete anos de reclusão. Os condenados cumpriram, integralmente, as sentenças imposta pela justiça; mas a sentença ao silêncio parece ser perpétua.

Elisabete Becker Salomão
Acadêmica do Curso de História da UPF
Fonte: Acervo AHR
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