Crise dos Demissionários II

19 de agosto de 2014

A Crise dos Demissionários (Parte II)

As colunas que repercutem o caso nos dias seguintes demonstram o discurso regionalista da época, manifestado através da exaltação das qualidades que os homens gaúchos possuíam, a sua responsabilidade” de salvarem o país” e como isso só aconteceria através de suas ações: “A notícia explosiva de hoje, sobre a renúncia dos ministros e altas autoridades rio-grandenses do governo provisório, é faustosa e desoladora: faustosa por vir comprovar o idealismo gaúcho na luta pela regeneração da República e grandeza da Pátria, e seu desapego aos cargos; desoladora pelo futuro que se antepõe ao, rio-grandense também, homem que é o chefe do governo nacional e que perde o apoio de seus co-estadoanos.”

Na edição do dia sete de março, toda a capa é destinada ao momento de crise vivido pelo Governo Provisório: “Fazemos votos pois, para que os homens do Rio Grande, olhando desapaixonadamente a situação, como é de esperar de seu patriotismo, de seu espírito de  sacrifício ao bem coletivo, encarem a matéria por esse lado, pondo de parte qualquer manifestação exaltada que poderia arrastar o Rio Grande e o Brasil, á ruína completa.[...] A responsabilidade pelos destinos brasileiros ainda continua a pesar, e hoje mais do que nunca, sobre ombros de rio-grandenses bem intencionados.”

No dia dez de março, uma coluna faz um apelo para que a conturbação política se desfaça sem originar danos significativos para o Rio Grande do Sul, exaltando novamente a grandeza do estado: “Tão grave se apresentou a situação que, passado o primeiro momento de espanto, todos os espíritos se imbuíram da necessidade de um apaziguamento, de uma solução pacífica e imediata. Como conceber o Rio Grande em oposição a um governo que é obra sua, ocupado, em seu supremo posto, por um rio-grandense, que tão bem soube resguardar a dignidade de seu estado, na campanha liberal? Como julgar possível que o Sr. Getúlio Vargas pudesse continuar a governar, rompido com o seu partido, com a sua gente [...]” 

A Crise dos Demissionários foi um dos acontecimentos que influenciaram a eclosão da Revolução Constitucionalista em julho de 1932, quando os paulistas assim como os membros exonerados do governo, lutavam contra o expressivo aumento de tenentes nos altos escalões do governo getulista bem como almejava a reconstitucionalização do país.

Helena Teston
Mestranda em História – PPGH UPF
Fonte: Acervo do AHR 
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