“Só falta agora o Catete”: Jânio Quadros em dois momentos

Roberto Biluczyk
Mestre em História – PPGH-UPF

Um político polêmico, que levantava bandeiras conservadoras em nome da moral e dos bons costumes, que perpetuava ideias do senso comum e que se vestia de maneira deselegante. De ascensão meteórica, foi eleito Presidente da República por um partido praticamente desconhecido quando prometia varrer a corrupção – dos outros – do panorama nacional. Não estamos nos referindo a nenhum político da atualidade. Estamos falando de Jânio da Silva Quadros, o 22º Presidente do Brasil.

Um grande número de pesquisas históricas dedica suas atenções aos meses em que Jânio Quadros foi o mandatário do país, entre janeiro e agosto de 1961. No entanto, cabe salientar que o político já ganhava notoriedade da imprensa antes mesmo desse período. Em 30 de outubro de 1954, a revista semanal Manchete, publicada entre 1952 e 2000 pela Bloch Editores, trazia na capa uma imagem sugestiva de Jânio, com os dedos sobre o bigode, e a seguinte legenda: “Jânio: só falta agora o Catete”. O Palácio do Catete era, então, a sede do governo brasileiro, quando a capital era o Rio de Janeiro.
A fotografia – creditada ao sul-rio-grandense Salomão Scliar – era o chamariz à “primeira entrevista exclusiva como governador eleito – e proclamado – do Estado de São Paulo”. Na página 6 da revista, uma grande imagem de Jânio, de olhos fechados, cercado de repórteres, dá o tom da matéria seguinte, junto a uma breve biografia do político. Nascido em Campo Grande, na época pertencente ao estado do Mato Grosso, foi eleito prefeito da cidade de São Paulo com 290 mil votos e governador do estado de São Paulo com mais de 660 mil, de acordo com o semanário.
Suas ideias políticas se mostravam confusas ao longo da reportagem, onde ele atribui a si mesmo características antagônicas de difícil conciliação. Afirmando que não pretendia ser candidato à Presidência da República, Quadros evidenciava que a recuperação econômico-financeira de São Paulo e a moralização dos costumes eram sua prioridade naquele momento, já tecendo características pessoais que lhe acompanhariam pela vida pública.

Conforme Manchete, Jânio possuía “postura de derrotado”, mostrando-se “abatido, sem um sorriso, frio, quase indiferente” mesmo após uma expressiva vitória e um longo período de descanso pós-eleições, argumento sustentado pelas imagens que ilustram a matéria. Quadros responde a várias perguntas da publicação com evasivas, sem certeza de alguns atos que viria a executar a seguir.
Já em 22 de outubro de 1960, Jânio Quadros estamparia a capa d´O Cruzeiro, outra importante revista do período, publicada entre 1928 e 1975 pelos Diários Associados. Reforçando a questão da rápida ascensão do mato-grossense, nominam-se um por um os cargos por ele conquistados até aquele ano, quando finalmente se elege presidente, com 5,6 milhões de votos. Dessa vez, porém, Jânio se mostra sorridente frente à vitória – em foto creditada a George Torok. 

Na semana seguinte, O Cruzeiro faria um resumo de uma entrevista concedida pelo novo presidente, pontuando uma série de questões em destaque naquele contexto. No entanto, não daria pistas de algumas de suas ações porvindouras. Uma vez empossado, preocupou-se com temas sumamente exóticos, limitando o expediente de jóqueis-clubes e proibindo o uso de biquinis, por exemplo. Diferentemente do que previa Manchete em 1954, seu mandato foi exercido já em Brasília, a nova capital federal, recém-inaugurada.

Sua renúncia à presidência agravou a instabilidade do cenário político do país. Jânio atribuiu seu ato às “forças terríveis”. Acredita-se que ele queria ser reconduzido ao cargo, com mais poderes. No entanto, ele não foi chamado de volta. Se, de fato, seu descompassado governo durou pouco, a trajetória do político seguiria em evidência até 1992, ano de sua morte. Uma figura emblemática da política brasileira. O Arquivo Histórico Regional (AHR) conta com grande quantidade de revistas O Cruzeiro e Manchete para pesquisa local.