Movimento Estudantil

03 de fevereiro de 2011

O Movimento Estudantil na UPF

O final do período militar no Brasil favoreceu o aparecimento de inúmeros movimentos e organizações que aceleraram o processo de redemocratização já em curso no país. Entre estes, o movimento estudantil (ME) se apresentou com destaque especial. No caso das universidades brasileiras aumentou o número de militantes estudantis relacionados a correntes políticas chamadas de esquerda muito em função da oposição ao regime autoritário então vigente. Não se pode desconsiderar que do lado oposto à esquerda encontravam-se grupos ou lideranças que abertamente mantinham um discurso de apoio ou adesão ao regime militar.

A partir de 1977 iniciou um período decisivo no processo de enfraquecimento do regime militar. Mesmo considerando as diferenças ideológicas das correntes de esquerda atuantes no país, sobretudo no próprio movimento estudantil, naquele momento havia um inimigo comum a derrotar e este fator lhes propiciava alguma unidade de ação. Essencialmente as bandeiras de luta se pautavam na redemocratização da política brasileira e na defesa da anistia ampla, geral e irrestrita. Com certa abertura iniciada no fim dos anos 70, houve um revigoramento das entidades de representação estudantil, até então atuando na clandestinidade. Com o fim da vigência do Decreto 477, e outros atos de repressão aos estudantes, em maio de 1979, foi possível a realização do 31° Congresso da UNE, em Salvador, com 10 mil participantes.

A Universidade de Passo Fundo, fundada em pleno período de ditadura militar, no ano de 1968, conheceu formas de organização estudantis predominantemente ajustadas às condições políticas que restringiam a liberdade de manifestação e de autonomia estudantis. Após 10 anos de fundação da Universidade, deu-se o início da reorganização da esquerda estudantil em Passo Fundo. A partir desse momento cresceu expressivamente a presença e a participação dos estudantes em espaços políticos dentro e fora da Universidade.

Pautando-se nesta conjuntura mais amena em relação à repressão, foi organizada a primeira eleição direta para o DCE da UPF, realizada no dia 18 de novembro de 1979. Observa-se que nesta eleição a força representativa da chapa de situação denominada “Renovação” tinha como base de sustentação um bloco de diretórios acadêmicos: Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis, Faculdade de Engenharia, de Educação Física, Direito, Ciências Biológicas e Instituto de Artes. A chapa “Rever”, de oposição, foi constituída principalmente por acadêmicos dos cursos de Agronomia, de Medicina, de Psicologia, de Pedagogia e de Odontologia.

A chapa vitoriosa nessas eleições foi a “Renovação”, liderada por Olvir Favaretto, acadêmico da Faculdade de Direito. A apuração dos votos revelou o clima acirrado e de grande disputa: votaram 3297 estudantes, sendo que a “Renovação” obteve 1632 votos e a oposição 1574. Uma pequena diferença, de apenas 42 votos, definiu o pleito de 1979, fato que se repetiu nos anos seguintes. Mesmo que incipiente, o movimento estudantil da UPF passa a apresentar vitalidade crescente no contexto da abertura, quando as possibilidades de autonomia, debate e liberdade de organização foram consolidados no país pós-ditatorial.

Ana Cristina Cesar de Góis
Acadêmica do Curso de História-UPF
Fonte: Acervo AHR