O plano cruzado e a busca pela estabilização da moeda

Inflação, essa palavra usada amplamente no meio econômico é também uma velha conhecida de muitos brasileiros. O histórico da economia do Brasil registra longos períodos em que convulsões foram duramente sentidas por toda a população. Nos anos 1980, muito da visão de progresso e modernidade que o Brasil anteriormente vivenciara foram substituídos pela incerteza e pelo descontentamento, originados, sobretudo, pelo colapso na economia que fez com que muitos especialistas considerassem aquele período como a década perdida para a economia brasileira.

De 1979 a 1985 a inflação chegou ultrapassar 200% ao ano. Com isto, os salários perderam seu valor real, o poder de compra da população diminuiu e a economia estagnou. As principais razões que explicam esses acontecimentos são os desequilíbrios internos, principalmente o crescimento exagerado das despesas do governo, as mudanças desfavoráveis na economia internacional – como o choque do petróleo e dos juros –, e o peso insustentável da dívida externa que se gerou para cobrir os déficits governamentais.

Durante os tempos de crise foram criados vários planos na tentativa de estabilizar a economia brasileira. O Plano Cruzado foi elaborado pela equipe econômica do governo de José Sarney como parte de um pacote de medidas para tentar combater o aumento da inflação. Entre as propostas lançadas pelo plano estava a reforma monetária, que significou a troca do Cruzeiro pelo Cruzado, cujo valor correspondia a mil unidades da antiga cédula em vigor.

No dia 28 de fevereiro de 1986 a moeda brasileira foi substituída, e com isso se fez necessária a remarcação de preços. Era então, de extrema importância que as pessoas acompanhassem e fiscalizassem as remarcações para que os lojistas não desrespeitassem a ordem do governo de congelamento de preços. O apoio popular ao Plano Cruzado foi amplo e imediato em Passo Fundo, conforme noticiam os jornais. A população prontamente denunciou irregularidades cometidas por comerciantes e, em conseqüência disso, alguns supermercados foram fechados.

Entretanto, apesar do otimismo com uma possível solução da inflação, não faltaram críticas às atitudes do governo. Segundo os jornais passo-fundenses, alguns dirigentes de setores municipais ficaram perplexos com as medidas tomadas pelo Presidente da República. Para eles, tais propostas significavam a derrota do governo pela inflação e, por isso, perderia credibilidade ante a população. Já o setor comerciário recebeu animadamente a tentativa governamental de solucionar a alta de preços, pois, à primeira vista, os preços pareceriam mais baixos e isso aumentaria o consumo.

Também os políticos se posicionaram sobre o tema. Legisladores de Passo Fundo foram a público e, através dos jornais, explicitaram suas opiniões. Para a oposição, o trabalhador só saiu perdendo, visto que sua maior reivindicação era a revisão da política salarial, o que não foi realizado. Já para os aliados do governo Sarney, as medidas visavam somente o bem estar do povo.

As opiniões sobre o plano econômico naquela época variaram, mas as consequências das medidas de Sarney, hoje, já podem ser avaliadas com maior clareza. O governo pôde inicialmente obter sucesso, pois houve um aumento significativo no nível do emprego, porém, com ele veio também uma explosão de consumo sobre a demanda que já estava aquecida. A situação fiscal piorou, com o fim do imposto inflacionário e com o aumento dos salários do funcionalismo público. Aos poucos, o “círculo vicioso inflacionário” voltou a vigorar. Durante o restante do mandato de José Sarney sucederam-se muitos outros planos, que não resolveram eficientemente o problema econômico do país. A economia brasileira só pôde se reestabelecer novamente com bases mais estáveis com a implantação do Plano Real, em 1994.

Caroline Lisboa dos Santos
Acadêmica do Curso de História da UPF
Fonte: Acervo AHR