O complot

Soledade, 1936. Pedro Corrêa Garcez e Armando Marques Haefner, instigados pelo Coronel Vazulmiro Dutra, estariam planejando a eliminação de Joaquim Mendes, jornalista, e do Major Campos Borges, então prefeito da cidade. A descoberta desta trama ocorreu pela denúncia do carcereiro Cicinio Ferreira de Albuquerque ao Major Campos Borges de que Pedro Garcez o teria chamado para a realização de um serviço sério. Por já ter conhecimento de uma carta suspeita endereçada a Pedro Garcez, que estaria na posse de Euclides José da Silva, o Major resolve averiguar a denúncia.

A carta não havia sido entregue a Garcez, pois Euclides disse temer se tratar de assunto comunista, em razão das orientações de cuidado do remetente. O conteúdo da carta, que teria sido escrita e assinada por Vazulmiro Dutra, tratava sobre esse plano de assassinato. Ao final, a missiva continha a seguinte recomendação: “Leia e queime”. Abriu-se então inquérito sobre o caso, além de ocorrerem as prisões de Garcez e Haefner.

Durante o inquérito, as provas e os depoimentos colhidos ao invés de afirmarem o plano de assassinato, provaram ser ele uma farsa. A começar pelas contradições de Euclides José da Silva nos seus depoimentos e na posterior confissão registrada em uma carta a sua mãe, quando afirma que “se prestou a uma farsa”. Em segundo lugar, a tal carta planejando o crime não chegou a ser entregue, e quando Garcez solicita a realização de um serviço, não diz precisamente o que era para ser feito, por isso, dificilmente haveria uma relação entre as duas coisas.

A data e o local de onde Vazulmiro teria escrito a carta, não provaram corresponderem ao local onde ele realmente estava naquela data. Mas, além desses fatos, a mesma, era apócrifa de acordo com o laudo pericial: “Do confronto entre o material de referencia e a firma a examinar, conclui, sem sombra de duvida, que a chamada ‘Allure’ ( - desenvolvimento normal da escrita corrente - ) é positivamente, diversa.” O que era um planejamento de assassinato descobriu ser uma trama, um ‘complot’ para incriminar os supostos criminosos.

Apesar de estarem anexados a carta falsa, o relatório policial e o laudo da perícia, a pequena publicação encontrada no acervo do Arquivo Histórico Regional, aqui utilizada para entender o caso, intitulada “O complot de Soledade” não revela quem teria arquitetado esse ‘complot’, nem seus motivos, apenas deixa em suspenso possíveis questões pessoais/políticas, já que Vazulmiro Dutra era membro da Comissão Central do Partido Republicano Liberal. Ao mesmo tempo em que os fatos para a solução do caso são apresentados, outros são omitidos.

Da mesma forma que a carta foi escrita com uma intenção, a publicação – que não é o processo do caso – também possuía uma singular e significativa menção: “Mandado imprimir por um grupo de amigos do Cnel. Vazulmiro Dutra”.

Bruna Zardo Becker
Acadêmica do Curso de História-UPF