A volta do templo do futsal passo-fundense

Quando a bola rolou na noite daquela quinta-feira, 4 de abril de 1996, o ginásio do Capinguí voltava a ser o templo do futsal de Passo Fundo. Estreando na Série Ouro, a principal divisão do salonismo gaúcho, a UPF/AABB/Semeato, então campeã da Série Prata, vencia a Sercesa de Carazinho por 4 a 2, gols de Gelson, Arno (2) e Xoxo.

A quadra com 34 metros de comprimento por 17 de largura tinha dimensões reduzidas em comparação às oficiais (40x20). Esses 222 metros quadrados a menos, a pequena distância entre as arquibancadas sempre lotadas e a quadra, e jogadores como Matheo, Tete, Gelson, Márcio, Rafael, Arno, Giba, Maurinho, Gil e Luciano transformavam o Capinguí em um pesadelo para os adversários.

Como jornalista e pesquisador do esporte na cidade, fui várias vezes ao Arquivo Histórico Regional da UPF para reconstruir essa história. E, antes, de falar sobre essa época, precisamos lembrar que, até hoje, apenas duas seleções brasileiras se apresentaram em Passo Fundo: a do então futebol de salão e a de bocha. A primeira esteve aqui no dia 29 de outubro de 1976. O jogo contra o Capinguí marcou as comemorações do recém-inaugurado ginásio do clube e serviu como preparação do Brasil para o Campeonato Sul-Americano que seria disputado, e vencido, no mês seguinte no Uruguai. A partida terminou 5 a 1 para o Brasil. No primeiro tempo, o Capinguí tentou segurar a Seleção Brasileira, que venceu apenas por 1 a 0, gol de Cocão. Na segunda etapa, os times se abriram e a partida terminou 5 a 1 para o Brasil. Chiquinho fez o gol dos donos da casa.

Voltemos ao moderno futsal. As pesquisas me permitiram montar uma lista de 159 jogos das equipes de Passo Fundo entre 1996 e 2005 no parquet da quadra da rua General Osório. Foram 103 vitórias e apenas 29 derrotas, um aproveitamento de 70%, e 678 gols marcados, 176 deles anotados por Tete (66 gols), Matheo (61) e Gelson (49), os maiores goleadores no Capinguí, pela Série Ouro e Copa Abertura (que, como o nome diz, abria a temporada do futsal no estado).

Foi ali que a UPF/AABB/Semeato venceu a poderosa ACBF para depois empatar em Carlos Barbosa e ficar com a Taça Eugênio Portillo, o simbólico título da primeira fase da Série Ouro de 1996. No fim da primeira temporada entre os grandes do futsal, a equipe do técnico Clair Haubert acabou em terceiro lugar, então o melhor resultado de um time da cidade desde o título gaúcho de 1964 do mítico Capinguí de Binho, Cotinha, Delano, Dorley, Getúlio, Joben, Pedrinho, Pirata, Pisca, Walter Hugo e do técnico Abílio Fuão.

Foi ali também que mais dois títulos foram garantidos, as copas Abertura de 2002 e 2003. Mas, por três vezes o Capinguí viu escapar o título da Ouro, ainda que apenas uma vez o jogo decisivo tenha sido em Passo Fundo. Em 1999, a UPF/Prontoclínica do técnico Foca perdeu para a ACBF. Em 2000, a UPF/Grazziotin empatou por 2 a 2 com o Internacional em Porto Alegre mas deixou o título escapar em casa perdendo por 3 a 2. Finalmente, em 2003, a Ulbra Saúde/Carga Pesada foi vencida nas finais pela Ulbra.

Os investimentos no futsal diminuiriam a partir daí. Em 2004 e em 2005, já sem a força de antes, Passo Fundo teve que lutar muito para continuar na Série Ouro. A temporada derradeira, com o nome de Comercial Zaffari/Gaúcho, e mais uma vez com Javali no comando, teve seis jogos como local transferidos para Soledade, Sananduva e Marau por causa das eternas reformas no Teixeirinha. As obras no novo ginásio não terminaram e o Capinguí voltou à cena para as três últimas partidas. Foi apenas uma vitória e duas derrotas, incluindo a do jogo de despedida, no dia 18 de outubro, por 2 a 0 para o Atlântico de Erechim.

O 25 de setembro de 2015 marcou o renascimento do maior ícone do futsal passo-fundense. Neste dia, os presidentes do Passo Fundo Futsal, Attílio Gonçalves, e do Capinguí, Djalma Woitchunas, assinaram um contrato para que o time volte a atuar na histórica quadra a partir do ano que vem.

Por Lucas Scherer, jornalista

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