Por: Assessoria de Imprensa
Fotos: Tainá Binelo
Eco Brechó realizado pelo curso de Design de Moda incentiva o consumo consciente e sustentável por meio de troca-troca de peças
Um clique: apenas isso é necessário hoje para fazer uma compra on-line, seja por meio de apps, sites ou pedidos pelas redes sociais. Muito mais cômodo e fácil do que ir a estabelecimentos físicos, as vendas pela internet cresceram 27% em 2021, segundo levantamento realizado pela Neotrust, empresa responsável pelo monitoramento do e-commerce brasileiro.
Lado a lado com essa alta, sobe também o consumo de fast fashion, como, por exemplo, da loja on-line Shein, que de 2018 para 2021 cresceu exponencialmente sua receita em 700%, passando de US$2 para US$15,7 bilhões. Criada para ser passageira, a fast fashion visa implementar linhas de produções mais baratas e realizadas em alta demanda, entregando, assim, peças com qualidade inferior, e, consequentemente, com valores menores para os consumidores. Pelo grande volume, essa “moda rápida” é, também, mais danosa ao meio-ambiente.
De acordo com a Forbes, em média, roupas criadas a partir deste processo são utilizadas menos de cinco vezes, gerando 400% mais emissões de carbono do que as de marcas slow fashion, usadas aproximadamente cinquenta vezes. Além disso, o processo também incentiva o trabalho escravo, em especial nos países da Ásia.
Em resposta a essa indústria, surge a moda sustentável, eco-fashion ou eco-friendly. Uma produção que parte do ponto de vista ambiental, social e econômico, trabalhando materiais com menor tempo de decomposição, com boa qualidade e entregando peças com um tempo de vida útil maior. Da mesma forma, a moda eco-friendly incentiva novos e melhores hábitos de consumo, já que no ato de adquirir roupas, o usuário é convidado a olhar com atenção para suas etiquetas, conhecendo como e por quem o produto foi feito.
A moda exerce, então, não apenas a função de entregar peças e dizer o que está em alta, mas um papel social, que supre as necessidades básicas do ser humano, como vestir-se, proteger-se, ter o seu conforto, e, ainda, age em prol do bem-estar comum. Coordenadora do curso de Design de Moda na Universidade de Passo Fundo (UPF), a professora Me. Dulci Antunes, aponta que, por ser uma das mais antigas do mundo, a indústria têxtil mantém modelos produtivos ultrapassados e resistentes a mudanças. “A modernização é necessária e urgente em todos os níveis produtivos, desde a extração da matéria-prima, do beneficiamento, da produção, do consumo, do incentivo, do reaproveitamento e do descarte correto dos produtos de moda”, ressalta.

Produtora de mais de 175 mil toneladas de resíduos por ano apenas no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Indústria Têxtil (ABIT), a moda é uma das indústrias mais poluidoras do meio ambiente. Dulci explica que esse grande número se dá por diversos fatores. “Por exemplo, o poliéster é uma matéria-prima que vem do petróleo, está presente em mais de 80% dos produtos de moda e pode demorar até 400 anos para se decompor, enquanto uma peça feita com isso ficará em média dois a seis anos sendo utilizada pelo consumidor. A conscientização vai proteger o meio-ambiente e garantir que as futuras gerações também possam desfrutar de matéria-prima para suas necessidades, garantindo mais qualidade de vida”, pontua.
Geração eco-friendly
Responsável por formar os profissionais que serão atores importantes nessa mudança, a UPF busca se adequar ao atual mercado e introduzir na formação dos acadêmicos o respeito ao meio-ambiente e aos desejos dos consumidores que, não de hoje, pedem uma moda mais sustentável e duradoura.
Para isso, o curso de Design de Moda conta com disciplinas que incentivam a produção consciente e menos prejudicial ao planeta. A professora Dulci conta que a intenção é que os novos modistas saiam para o mercado de trabalho com a preocupação de produzir de forma mais atenta para as necessidades de todos. “Viemos nos adequando a esses novos modelos de produtividade. Queremos que eles foquem mais na qualidade e menos na quantidade, assim como na escolha de matérias-primas alternativas, processos produtivos mais limpos e na preocupação com o descarte”, afirma.

Durante as aulas, os estudantes participam de atividades que ensinam na prática como pensar uma moda mais verde. “O eco está presente no reaproveitamento de materiais, no incentivo aos processos limpos, na escolha de tecidos orgânicos, na tarefa de colori-los com elementos naturais como flores, frutas, sementes, cascas de árvores, terra, etc, tendo como base a água”, pontua Dulci.
Realizado na quinta-feira, 28 de abril, o Eco Brechó é uma dessas ações. Organizado pelos estudantes do nível V do curso, o brechó incentivou a rotatividade de peças, sem envolver valores monetários: a comunidade acadêmica foi convidada a deixar suas doações durante a semana, e, em troca, receber vouchers, que poderiam ser trocados por outras peças durante o dia D.
Acadêmico de Design de Moda, Ricardo Girardi participou do planejamento do evento, envolvendo divulgação, análise das peças doadas, montagem do espaço e auxílio nas vendas no dia. Para ele, a experiência foi incrível, agregando no seu conhecimento sobre sustentabilidade. “Eles podem trocar por outras peças legais que hoje fazem mais o estilo deles, mas, ainda assim, a roupa vai continuar tendo sua essência e vamos fazer um bem muito grande para o mundo”, conta.
Antes mesmo de começar o curso, Girardi já comprava em brechó. Porém, os ensinamentos adquiridos por lá o incentivaram ainda mais. “Agora, praticamente todas minhas roupas são de brechós. Nós sabemos que muitas pessoas não possuem condições financeiras para adquirir peças de slow fashion, mas, aos poucos, vamos encontrando alternativas como essa”, pontua o estudante.
Como consumir de forma mais consciente?
Além de facilitar a compra de fast fashion, a internet também possibilita a venda de peças mais conscientes. Foi nela que a Luiza da Rosa começou o seu brechó on-line há mais de dois anos, antes mesmo de ingressar no curso de Design de Moda, no qual hoje ela cursa o I nível. Por isso, ela não podia perder o Eco Brechó. “É muito importante que tenhamos esse pensamento ecológico. É incrível que os brechós estejam entrando na ‘moda’, e, assim, as pessoas estejam conhecendo o lado sustentável e circular das peças. O que não tem mais significado pra mim, pode fazer a diferença no guarda-roupa de alguém”, ressaltou.
Assim como ela, a comunidade em geral também pode ser parte desta mudança. Além de lutar por uma indústria da moda mais consciente e pela diminuição de fast fashions, algumas atitudes podem ser repensadas pelo comprador ao adquirir novas peças, dando lugar a ações como:
- Comprar em brechós - já conhece algum na sua cidade? Por lá, você pode encontrar peças em boa qualidade com preço acessível e justo.
- Fugir do consumismo - você realmente precisa dessa peça? Se o problema é estar enjoado das que já tem, muitas vezes podemos utilizar as mesmas roupas com combinações diferentes e acessórios, e ter looks lindos!
- Troca-troca - nos seu dia-a-dia a peça já está repetida, mas no do seu amigo ou familiar ainda não. Que tal perguntar se ele não quer trocar por uma peça que você também tem interesse?
- Doar para quem precisa - a sua peça usada pode fazer a diferença no dia de alguém. Procure uma entidade beneficente ou família necessitada e faça uma boa ação!
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