Pesquisa e Inovação

UPF aprova projeto junto ao Governo do Estado para desenvolvimento de produtos biotecnológicos para o agro

04/05/2022

10:11

Por: Caroline Simor - Assessoria de Imprensa

Fotos: Carla Vailatti

A inovação tecnológica nasce, entre outras maneiras, das demandas da sociedade. Essas necessidades fomentam parcerias que permitem o desenvolvimento de soluções, novos métodos e tecnologias para melhorar a vida, sem descuidar do meio ambiente. Esse foi o desejo que uniu pesquisadores da Universidade de Passo Fundo (UPF), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e as empresas Adubos Coxilha e Beifiur Ldta. Juntas, elas submeteram um projeto ao edital TECHFUTURO da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. O referido projeto foi aprovado e agora será colocado em prática. A temática do projeto é de imobilizar microrganismos promotores de crescimento de plantas em Biochar, um produto obtido a partir de resíduos do processamento de uvas e, posteriormente, incorporar esse material em adubos químicos, promovendo vantagens na liberação de nutrientes e benefícios a microbiologia do solo.

Pesquisador responsável pelo projeto na UPF, o professor Dr. Jeferson Steffanello Piccin, pontua que a ideia surgiu dentro dos Programas de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos e Engenharia Civil e Ambiental. No âmbito dos programas de pós-graduação, o professor já possui pesquisas em parcerias com as empresas em questão, envolvendo três alunos de doutorado em projetos apoiados pelo edital Programa de Mestrado e Doutorado Acadêmico para Inovação MAI/DAI do CNPQ. “Alinhamos a proposta de pegar a parte de microorganismos e bioinsumos, pesquisadas na empresa Beifuir, e unir com a parte de adubos minerais da empresa Adubos Coxilha. A partir disso, pretendemos imobilizar estes microrganismos promotores de crescimento em um biochar (carvão vegetal produzido a partir de resíduos de uva), que hoje é produzido pela Beifuir, como um suporte para o crescimento destes microrganismos”, explica o docente, ressaltando que o processo de elaboração se deu por meio do edital público da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado (SCIT), que previa parceria entre Instituições e empresas.

Ele lembra que, quando as empresas foram procuradas para firmar a parceria, ambas aceitaram de imediato o que, para o professor, demonstrou que existe espaço para a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos dentro do mercado de trabalho. “Vemos que nós, como professores e pesquisadores de instituições de ensino, temos que nos aproximar mais das indústrias e do setor produtivo, uma vez que é possível fazer pesquisas inovadoras e entregar ao setor, além de conhecimento, também novos produtos, processos e tecnologias”, observa.

Aprendizado na prática: conhecimento que gera resultados

Piccin comenta que o projeto contará com três grandes fases. Primeiro será o desenvolvimento do biochar, com a aquisição de um equipamento para análise de área superficial por meio da técnica BET, que também será aplicado outras pesquisas da Universidade. Na sequência, será iniciada a imobilização dos microrganismos no carvão desenvolvido. Por fim, será feita a adição do composto no fertilizante, com testes à campo a serem desenvolvidos aqui na Universidade, utilizando cultivares como trigo, soja e também hortaliças. O projeto serpa desenvolvido tanto nas empresas parceiras, Beifiur e Adubos Coxilha, quanto na UPF e UFSM, integrando o setor de pesquisa ao setor produtivo.

Doutoranda envolvida no projeto, Flavia Melara, do PPGEng, relata que a ideia do projeto foi justamente unir o potencial tecnológico de duas empresas que já possuem parceria com a UPF. A pesquisa dela ocorre dentro da empresa Adisul Ltda, que faz parte do Grupo Adubos Coxilha, e o seu envolvimento teve início como mediadora, ao levar a ideia até a empresa, mostrando o potencial do projeto e como a Universidade poderia atuar nas demandas inovadoras da companhia. 

Para Flavia, o projeto em questão é uma ideia inovadora, que busca unir os produtos de ambas as empresas participantes. “A utilização desses microrganismos imobilizados em carvão para serem misturados ao fertilizante mineral é uma forma inovadora de inserir esta tecnologia no campo. Em culturas como milho e trigo, por exemplo, a aplicação de fertilizante mineral, principalmente ureia, se dá em mais que um momento durante o ciclo e, dessa forma, pode permitir que o controle seja aplicado no período ideal ou mais que uma vez”, pontua. 

Segundo ela, isso permitirá que os nutrientes aplicados ao solo através do fertilizante tenham maior aproveitamento pelas plantas, gerando mais produtividade e, até mesmo, diminuição na dose aplicada ao longo do tempo. “Nossos desafios são que os microrganismos permaneçam viáveis quando forem imobilizados no biochar e mantenham alta concentração e pureza até aplicação em campo. Para tal, serão conduzidos estudos envolvendo a pureza, concentração e tempo de prateleira do produto, além da avaliação da eficiência agronômica em casa de vegetação e em campo”, observa.

Mateus Nazari que também é aluno de doutorado do PPGEng, tem seu projeto de pesquisa ligado com uma das empresas parceiras do projeto, a Beifiur. Ele aplica lá o conhecimento gerado e tem como objetivo de explorar o potencial biotecnológico de microrganismos benéficos para uso na agricultura. Ele salienta que a sua participação está vinculada a obtenção do biochar produzido a partir de subprodutos do processamento de uva e ao cultivo de microrganismos benéficos, que serão introduzidos nesse material sólido visando sua imobilização, estabilização, concentração e pureza do produto. 

Em sua opinião, as parcerias universidade-empresas se apresentam como uma estratégia promissora para a realização de pesquisas, uma vez que fomenta o desenvolvimento tecnológico da região por meio da aplicação dos conhecimentos gerados na universidade, aplicados em demandas por inovação de empresas. “A ideia de gerar produtos comercializáveis a partir de trabalhos dessa natureza é motivadora. Explorar o potencial desses microrganismos para uso na agricultura é uma tecnologia capaz de ser utilizada por pequenos e grandes produtores, ao passo que irá resultar em maior produtividade a diferentes culturas agrícolas e maior sustentabilidade no campo, o que fomenta diversos aspectos do desenvolvimento sustentável”, comenta o doutorando.

Parcerias que agregam para as empresas e para a comunidade

Gilberto Borgo, diretor Vice-Presidente da Adubos Coxilha, destaca que a empresa sempre foi aberta à novas tecnologias e que a inovação faz parte da história. “Hoje dispomos em nossa linha, produtos que agregam tecnologias e que propiciam um incremento de produtividade, com redução das perdas de fertilizantes. Quando procurados pela UPF, através do professor Dr. Jeferson Piccin, com o qual a empresa já possui parceria em outros projetos, de pronto abraçamos a ideia”, conta.

Dentro do projeto, a Adubos Coxilha irá participar fornecendo matérias primas de fertilizantes minerais, embalagens e estrutura industrial necessária para execução de testes. Além disso, também contribuirá disponibilizando o corpo técnico, que irá auxiliar desde a produção do fertilizante até a divulgação do produto. “O projeto é inovador e representa o que a Adubos Coxilha busca, que é oferecer ao produtor rural fertilizantes com tecnologia para que possam melhorar a produtividade em suas lavouras. Esperamos um impacto positivo não só em termos de agregar valor, mas também por estar em linha com nossa proposta de ide constante busca pela inovação tecnológica. Certamente com isso estaremos contribuindo para o desenvolvimento de uma agricultura cada vez mais sustentável e comprometida com a preservação do meio ambiente”, relata Borgo.

Em uma proposta de atuação conjunta, a Beifiur Ltda viu no trabalho já em andamento com o doutorando Mateus a oportunidade para ampliar as parcerias. Valdecir Ferrari, sócio Administrador da empresa, que também está fazendo doutorado, explica que a estrutura será colocada à disposição e que a parceria irá gerar resultados para todos os envolvidos. “Temos laboratórios, biofabrica e produção de fertilizantes orgânicos, então tudo será utilizado como aporte para o desenvolvimento do produto. Estou fazendo doutorado na UFRGS e minha pesquisa também atuará para que possamos microencapsular os microorganismos e assim dar uma vida maior deles no campo”, frisa, ressaltando que somar esforços movimenta as pesquisas, acelerando o tempo de desenvolvimento e fazendo com que o produto chegue mais cedo até a comunidade.

Ele observa que a empresa sempre esteve ligada à pesquisa e que a expectativa é que as parcerias tragam novos produtos, gerando renda, empregos e o crescimento que, no futuro, vai gerar mais investimentos. Além disso, a equipe trabalha para colocar no mercado produtos menos tóxicos e mais benéficos para o meio ambiente. “A pesquisa é desafiadora, atiramos em várias áreas e nem sempre acertamos, mas com persistência, visão técnica e científica, buscamos a sustentabilidade econômica, ambiental e social. Nosso trabalho e para melhorar a condição humana e contribuir para potencializar a geração do conhecimento científico e produtos que trarão ganhos para todos. Esperamos que essa parceria traga outros projetos e que a troca de conhecimentos, que gera renda, recursos, também possa gerar empregos e crescimento para todos os envolvidos”, destaca.