Extensão

Música que transforma

26/06/2019

17:41

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Camila Guedes

Projeto de extensão da UPF oferece aulas gratuitas de instrumentos musicais para cerca de 80 estudantes da rede pública do município. Primeira apresentação do projeto ocorreu na noite dessa terça-feira, dia 25 de junho

Os olhos apreensivos – e atentos ao mesmo tempo – mostravam a ansiedade de quem pisava em um palco pela primeira vez. As mãos, no entanto, em posição e prontas para dar início ao espetáculo, entregavam que aquele era só mais um dia em que juntos fariam música. Algo natural para os estudantes da Escola Gervásio Lucas Annes, desde que o projeto de extensão Da Capo, da Universidade de Passo Fundo (UPF), começou a ser desenvolvido na escola. Apresentando-se pela primeira vez, a turma fez sua estreia na noite dessa terça-feira, dia 25 de junho, no auditório da Biblioteca Central, no Campus I, para uma plateia formada por pais, colegas, amigos e professores.

O projeto, que integra o programa de extensão Musique, vinculado ao curso de Música, prevê o desenvolvimento de aulas de instrumentos musicais para jovens e crianças de 7 a 17 anos, alunos da rede pública de ensino ou pertencentes a instituições de apoio a crianças em situação de vulnerabilidade social, proporcionando o enriquecimento cultural das comunidades envolvidas. Apesar de já existir há um tempo já na Instituição, foi na metade de 2018 que o projeto ganhou um fôlego novo quando foi retomado sob a coordenação do professor Me. Marcio Tolio.

Com uma experiência de cerca de 17 anos com projetos sociais – o professor é fundador do projeto Atoque, desenvolvido em Santa Maria –, Tolio comprou a ideia e assumiu o desafio de dar continuidade ao Da Capo. “Eu particularmente acredito muito que tudo parte da criança e vejo isso até como uma forma de potencializar o nosso mercado, principalmente em um país como o Brasil, onde a gente não tem uma lei que obrigue que o ensino de música seja levado à risca dentro das escolas. Por isso, penso que fazer projetos como esse é uma forma de somar”, explica.

Projeto atende a cerca de 80 crianças e adolescentes

A experiência com projetos semelhantes fez com o que o professor reconfigurasse um pouco o conceito inicial do Da Capo, que previa que as aulas fossem ministradas nos laboratórios do curso de Música, no Campus I. “Sempre digo que, para as pessoas irem à sua casa, você primeiro tem de ir na casa delas. No ano passado, nós deixamos essa estrutura à disposição, mas as crianças não vieram para cá. Então, este ano, invertemos a lógica e fomos para dentro da escola”, conta Tolio. E deu certo. Hoje, além das oficinas de violão e piano que ocorrem na UPF, o Da Capo também é desenvolvido dentro da Escola Estadual de Ensino Fundamental Coronel Gervásio Lucas Annes, localizada no bairro Petrópolis.

Somente na escola são cerca de 60 alunos, com idades entre 8 e 15 anos, que, semanalmente, têm oficinas de percussão e de canto/coral. “O que aconteceu foi que, pelo fato de estarmos dentro da escola, nós começamos a divulgar as outras oficinas e aí a gurizada começou a vir. Acho que a grande sacada foi inverter o processo. Eles não estavam vindo aqui porque isso exige transporte e uma série de outras coisas. Acabou que a gente foi para dentro da escola e o resultado foi bem bacana”, ressalta. Ao todo, o projeto atende em torno de 80 estudantes ensinando desde o básico, ou seja, não é preciso que o aluno tenha um conhecimento prévio em música para participar.

Professora de artes na escola, Analu Tozzo Auler acompanhou com atenção e orgulho a apresentação. Para ela, o projeto veio para acrescentar no currículo da escola, que não teria recursos próprios para pagar por um professor de música. “Nas artes, nós temos música, dança, teatro, artes visuais, mas eu não tenho formação em música. Então, sempre procuro ajuda. Nós tivemos o Pibid por seis anos, mas acabou. Então, quando o professor nos procurou falando sobre o projeto Da Capo, nós aceitamos”, diz. Segundo Analu, mesmo sendo apenas o primeiro ano de projeto, e a primeira apresentação, já é possível ver resultados. “Já dá para ver que está dando muito certo, eles estão amando. Sem contar que ajuda muito na concentração, na disciplina e no desenvolvimento deles. Nossa escola busca trabalhar muito com a parte criativa dos alunos e eles gostam muito”, completa.

Ensinar e aprender

Para desenvolver todas essas atividades, o Da Capo conta com a participação de cinco acadêmicos dos cursos de Música, bolsistas do projeto. Entre eles, está Álvaro Ferri. Atualmente no terceiro semestre do curso de Música Licenciatura, Ferri ingressou no projeto em agosto do ano passado. Hoje, atua principalmente nas oficinas de piano, onde atende seis alunos com idades entre 7 e 12 anos. “É um projeto muito bacana, que possibilita bastante essa interação com as famílias, com os alunos, além de ser uma experiência maior para nós, como acadêmicos e futuros professores”, garante.

Já com uma formação em Administração, o acadêmico de 25 anos, natural de Erechim, admite que sempre gostou da música e dedica todo esse sentimento no desenvolvimento do projeto. “É uma experiência única e desafiadora. Assim como ensinamos, também aprendemos muito com as crianças. É uma oportunidade muito boa e eu estou gostando bastante, acredito que essa experiência vai fazer muita diferença na minha formação”, completa.

Além dessa experiência para os acadêmicos e dos benefícios já comprovados na música no desenvolvimento de crianças e adolescentes, como a melhora na atenção, concentração e disciplina, Tolio reforça o papel da música na formação social dessas crianças. “Existe uma lei aprovada desde 2008 que prevê o ensino de música em todas as escolas, mas isso não ocorre. Por isso, eu penso que, para a comunidade de Passo Fundo, o Da Capo é uma grande oportunidade. Eu acredito que a gente vai começar a colher frutos daqui a algum tempo. É um trabalho de base que funciona. E essas crianças que estão participando certamente vão ter vantagens. É um privilégio”, finaliza.