Por: Caroline Simor / Assessoria de Imprensa
Fotos: Divulgação
Professor da UPF, o infectologista Gilberto da Luz Barbosa explica os caminhos e a importância desse produto biológico que salva vidas
Sarampo, caxumba, catapora, rubéola, influenza (gripe), pneumonia, tétano, difteria, hepatite A, hepatite B, HPV, febre amarela, dengue, poliomielite e coqueluche. Essas são algumas das doenças controladas ou erradicadas no mundo por causa da vacina. Importante ferramenta no combate a enfermidades globais, ela tem um processo complexo de elaboração: demanda tempo, tentativas, erros e acertos. Mas ainda é um caminho seguro para oportunizar saúde para as populações. No centro dos debates em função da Covid-19, a vacina é um produto biológico capaz de salvar vidas. Você sabe como ela funciona? O professor Gilberto da Luz Barbosa, docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo (UPF), explica.
As vacinas são produtos biológicos que protegem as pessoas de determinadas doenças. De maneira simplificada, elas são feitas de agentes patógenos (que são vírus ou bactérias que causam as doenças) previamente atenuados ou mortos por fragmentos desses agentes. Seu grande objetivo é estimular uma resposta imunológica do organismo, que passa a produzir anticorpos sem ter contraído a doença.
Para o professor Gilberto, que atua na área da infectologia, o desenvolvimento de uma vacina é um processo complexo que geralmente leva vários anos para a obtenção de um produto seguro e eficaz. Ele explica que são várias etapas até a liberação para uso da população.
Antes de serem liberadas para uso clínico, elas necessitam passar por uma série de diferentes tipos de estudos, padronizados e que fazem parte das exigências legais das entidades reguladoras do uso de medicamentos. O professor pontua que, inicialmente realizam-se estudos em animais denominados estudos pré-clínicos. Na sequência, faz-se os testes em primatas e, depois, os testes em humanos, chamados de ensaios clínicos.
Barbosa ressalta que, resumidamente, os ensaios clínicos consistem em três fases antes de liberar a vacina para comercialização. “Estudos de fase I visam garantir a segurança do medicamento; estudos de fase II avaliam a resposta de produção de anticorpos pelo organismo e testam a dose da vacina; estudos de fase III avaliam a eficácia da vacina, geralmente comparando com placebo, nesta fase são incluídos um grande número de pacientes”, conceitua, explicando que após todas estas etapas ainda deve ocorrer a aprovação pelos órgãos reguladores.
A vacina da Covid-19 e os avanços da ciência
Pela sua incidência, consequências e por ter se tornado pandêmica (quando ocorre a disseminação mundial de uma doença), existe uma busca intensiva para a vacina da Covid-19. A soma de esforços e a união de países, órgão e instituições têm permitido aos cientistas vencer muitas destas etapas em velocidade recorde.
Segundo o infectologista da UPF, que também coordena o Serviço de Controle de Infecção do Hospital São de Vicente de Paulo, hoje existem mais de 200 projetos de vacinas em andamento, destes, em torno de 10 estão na fase adiantada de execução, ou seja, na fase III dos estudos. “Este panorama nos traz uma perspectiva otimista no sentido de que muito provavelmente alguns destes projetos preencherão as necessidades de segurança e eficácia necessária para a proteção da população”, pontua.
Popularizadas e seguras, as vacinas são, na opinião do professor, um dos maiores avanços contra as doenças na história da humanidade. Barbosa comenta que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que as vacinas evitam entre 2 milhões e 3 milhões de mortes por ano no mundo. “Em nosso país, vacinas como as da varíola, sarampo, poliomielite, rubéola e difteria tiveram o poder de erradicar doenças graves, evitando um elevado número de mortes e sequelas”, observa.
Consciência social e créditos para a ciência
Em muitos lugares pelo mundo uma corrente antivacina tem crescido. Resultado desse comportamento é que algumas doenças antes tidas como erradicadas estão voltando ao cenário. Para o professor, o movimento é baseado em teorias sem fundamentação científica e orientado por informações equivocadas.
Contudo, mesmo diante do questionamento da sua eficácia, cientistas trabalham contra o tempo e têm superado desafios para, tão logo seja possível, disponibilizar a vacina para o Coronavírus.
Para Barbosa, a preocupação quanto à qualidade da imunização é descabida, uma vez que os reguladores mundiais, como OMS e Agência Americana de Drogas e Alimentos (FDA – EUA), bem como a Agência Nacional Brasileira, garantem que seguirão todos os protocolos com rigor para a liberação destas vacinas. “É fundamental que neste momento a sociedade como um todo tenha uma conduta responsável, considerando as repercussões que esta pandemia trouxe para a saúde e economia. É fundamental que haja um posicionamento com base em orientações estritamente científicas que estão sendo publicadas pelos pesquisadores desta área e que as lideranças dos diversos setores atuem como multiplicadores destas informações”, ressalta, destacando que, ainda é arriscado prever com segurança uma data precisa para a comercialização.
Momento histórico
Dados de 30 de outubro de 2020 relatam 44.888.869 casos confirmados e 1.178.475 mortes pelo coronavírus no mundo. No Brasil, os casos ultrapassam a marca de 5 milhões, com mais de 160 mil vidas perdidas. Visualizando um futuro otimista, com a vacina já no primeiro semestre de 2021, o professor pontua que será vivenciado um acontecimento histórico e que, segundo ele, evitará ainda mais mortes e sofrimento.

Barbosa salienta que, diante da disponibilidade de uma vacina eficaz, é preciso questionar o que pode significar a rejeição desta vacina, e o que leva algumas pessoas a colocar em risco a sua vida e das pessoas ao seu redor. “Porque não se vacinar, pode não apenas prejudicar você mesmo, mas também as pessoas do seu convívio (os pais, avós, um familiar imunocomprometido), porque desta forma fica diminuída a imunização de grupo. Precisamos mudar este cenário e a vacina é um dos componentes essenciais para voltarmos a ter a nossa rotina normalizada”, pondera.
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