Pesquisadores da UPF publicam tradução inédita de manuscrito de Foucault
02/05/2025
14:39
Por: Assessoria de Imprensa
Fotos: Divulgação
Texto original do início dos anos 50 foi trazido à luz em 2019, na França. Trabalho desenvolvido por professores da Universidade de Passo Fundo levou mais de um ano
Pesquisadores da Universidade de Passo Fundo (UPF) publicaram uma tradução inédita de um manuscrito do filósofo e historiador francês Michel Foucault. O texto foi publicado pelos professores Francisco Fianco e Francisco Carlos Santos Filho na edição de março de 2025 da Revista de Filosofia da Universidade Federal de Pelotas, Dissertatio, e apresenta uma tradução para o português de um manuscrito original de Foucault datado do início dos anos 1950 e trazido à luz em 2019 pela pesquisadora Elisabetta Basso na Revista Astérion da Escola Superior Normal de Lyon, na França.
No texto, de acordo com o professor Fianco, Foucault analisa como a base biológica do pensamento freudiano, influenciada pela teoria evolucionista, se transforma em um processo psíquico e sociocultural ao longo da história da psicanálise. “Mas quando se entende a interrelação do sujeito e da sociedade ao pensarmos mecanismos de saúde e doença psíquica, Foucault chama a atenção para o fato de que as patologias não são dados estritamente biológicos, e sim, reflexos das concepções de conformidade e inconformidade de cada época e sociedade, ou seja, ele mostra que saúde mental também é uma área de construção de um discurso disciplinar”, explica.
A proposta de traduzir o manuscrito surgiu a partir de uma demanda da esposa do professor Fianco, que faz parte de um projeto de pesquisa que tinha interesse em estudar o texto, mas a ausência de uma versão em português dificultava o processo. “Foi, portanto, uma tarefa de amor, Venus labori suavis, um dos doces trabalhos de Vênus”, brinca. O que inicialmente seria apenas uma tradução para uso interno teve bons resultados e os professores decidiram publicar. “Pensamos que seria interessante tornar essa tradução disponível para mais pessoas. Foi então que entramos em contato com a professora Elisabetta Basso e com a Revista Astérion - que permitiram a publicação – e depois com o professor Ernani Chaves, detentor dos direitos de tradução do Foucault e maior especialista no Brasil sobre esse autor, que também anuiu à publicação”, lembra. Todo o processo de tradução e encaminhamento dos trâmites durou cerca de um ano e meio.
Conforme Fianco, a dificuldade inicial de se traduzir uma obra como esta está na responsabilidade em transcrever um texto sobre áreas tão importantes como a psicanálise e a psiquiatria a partir de um autor tão destacado no pensamento do século XX como Foucault. Além disso, o pesquisador destaca a questão da língua, uma vez que uma tradução como essa não diz respeito apenas a transpor de um idioma para outro, mas “concordar arcabouços teóricos tão vastos como a filosofia e a psicanálise em duas línguas que ora se aproximam e ora se distanciam”, comenta Fianco, destacando a parceria fundamental com o professor Francisco Santos Filho, do Projeto Instituição Científica de Psicanálise e Humanidades, que pode revisar a adequação de termos e conceitos que fazem sentido dentro da tradução das obras de Freud para o português brasileiro.
A importância da tradução
Para o professor, a importância dessa tradução está em muitos aspectos. O primeiro deles, na contribuição de um texto inédito para os estudos sobre psicanálise e sobre Foucault. “Foucault era um intelectual tão genial que realmente não caberia tanta contribuição e publicação em uma vida só, por isso os textos inéditos, publicados postumamente, são imprescindíveis para nos permitirem, como leitores e pesquisadores, tomar contato com reflexões do autor que não foram plenamente desenvolvidas e publicadas em vida”, pontua. Já a tradução, na visão de Fianco, cumpre a tarefa de democratização do conhecimento, para que mais pessoas possam se beneficiar do que ele chama de esforço por saber que pesquisadores fazem todo dia. “Claro que não consideramos a nossa tradução a versão definitiva e mais perfeita desse texto para o português, ela é um esforço inicial que pode e deve ser complementado por pessoas mais aptas a isso no futuro, mas nós colocamos um tijolinho nesse castelo do saber, e é assim que se faz a cultura, de pequenas contribuições somadas e compartilhadas”, finaliza.
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