Pesquisa transforma resíduos de beneficiamento de minerais em produtos
04/08/2016
15:24
Por: Leonardo Andreoli
Resíduos de beneficiamento de minerais são nocivos ao meio ambiente e à saúde das pessoas. Pesquisa confere novos e seguros usos a eles
O beneficiamento de pedras preciosas como ágata e ametista permite diferentes possibilidades de aplicação, como em joias, artesanato e decoração. A atividade garante renda para uma grande quantidade de famílias da região do Alto da Serra do Botucaraí, no entanto, todo o processo acaba gerando milhares de toneladas de resíduos que podem causar danos à natureza e à saúde de quem tem contato com eles. O projeto de pesquisa Transformação de resíduos da mineração para uso como artefato de concreto e remineralizador de solo estuda duas novas alternativas de destinação.
Foto: Leonardo Andreoli/UPF
Testes comprovaram viabilidade técnica do uso de resíduos do beneficiamento da pedra ágata na produção de concreto
A pesquisa, coordenada pelo professor Dr. Maciel Donato, está em andamento desde fevereiro de 2015 e já tem um registro de patente em andamento. Os acadêmicos do sétimo nível do curso de Engenharia Civil Rafael Tonello e Raul Artusi são bolsistas do projeto e explicam que uma das metas é utilizar os resíduos do beneficiamento da pedra ágata na produção de concreto. Os resultados demonstram que quando o resíduo substitui algum agregado confere alguns ganhos nas características finais do concreto. Além disso, pode ser usado para substituir uma porcentagem de cimento, mantendo o desempenho necessário. “O que chama a atenção é que se tirou um material mais caro, se incorporou um resíduo e se ganhou em resistência”, pontua Tonello.
Esse tipo de resíduo mineral, quando inalado, pode causar silicose, uma doença que atinge os pulmões e compromete a capacidade de respiração de pessoas e animais. Conforme explica Artusi, o resíduo geralmente é depositado em montes ou utilizado em estradas de chão, o que não é eficiente, uma vez que a chuva pode lavar o pó e levá-lo até corpos hídricos. “O projeto visa constituir uma atividade ambientalmente sustentável. Queremos que as pessoas vejam que estão descartando algo que pode ser aproveitado”, completa Artusi.
Uso na agricultura
O projeto de pesquisa também avalia a possibilidade de uso do basalto resíduo da exploração de geodos de ametista na remineralização de solos. Os experimentos de campo têm apresentado resultados positivos quanto à fertilização de solos e à produção de massa em campo nativo. A pesquisadora bolsista DOC FIX da Fapergs Clarissa Trois Abreu destaca que já está finalizada a caracterização química e mineral de produto oriundo de basalto hidrotermalizado de Ametista do Sul.
Neste ano, o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou duas instruções normativas regularizando o estudo de materiais minerais na categoria de “remineralizadores de solo”. Com isso, o trabalho desenvolvido pela UPF ganha visibilidade no setor mineral. Empresas do setor têm procurado o grupo para a realização de testes de viabilidade agronômica.
Cursos e oficinas
Dentre as atividades previstas pelo projeto, está a realização de cursos sobre “Uso de resíduos para a remineralização de solos e seus impactos no solo e nas plantas”, partes I e II, com duração de oito horas cada módulo, e sobre “Produção de artefatos de concreto: metodologia e custos”, também divididos em duas partes. Por meio do projeto, também são realizadas as oficinas de formação de agentes dinamizadores nas áreas da saúde, educação e meio ambiente. Para a vice-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários, professora Bernadete Maria Dalmolin, que integra essa parte do projeto, é fundamental pensar em toda a cadeia produtiva, incluindo aí a prevenção e a redução de risco de adoecimento dos trabalhadores decorrente da inalação de poeiras contendo sílica livre. A silicose é uma doença pulmonar crônica e incurável que pode ser prevenida e controlada por programas eficientes nos locais de trabalho, aspectos abordados nas oficinas de formação.
A iniciativa é desenvolvida pela UPF, por meio do Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias do Rio Grande do Sul (CT-Pedras), no Polo de Inovação Tecnológica do Alto da Serra do Botucaraí, com recursos do Banco Mundial, por meio da antiga Secretaria de Ciência, Inovação e Tecnologia (SCIT), atual Secretaria de Desenvolvimento Econômico Ciência e Tecnologia (SDECT). O projeto viabilizou a compra de equipamentos de ponta que permitem realizar a caracterização e a identificação de minerais presentes em amostras de rochas, solos e resíduos de vários tipos.
Galeria de Imagens

Testes comprovaram viabilidade técnica do uso de resíduos do beneficiamento da pedra ágata na produção de concreto

Parte do grupo envolvido no projeto

Experimentos de campo têm apresentado resultados positivos quanto à fertilização de solos e à produção de massa em campo nativo com o uso do basalto resíduo da exploração de geodos de ametista

Pesquisa é desenvolvida pela UPF, por meio do Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias do Rio Grande do Sul (CT-Pedras)




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