Pesquisa e Inovação

Interação entre animais e ambiente auxilia na compreensão de comportamentos

25/07/2019

14:08

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Divulgação

Pesquisa feita em parceria entre a UPF e UFSM concluiu que os efeitos podem ser sentidos em futuras gerações

É de conhecimento da comunidade acadêmica que o zebrafish é um dos modelos de pesquisa mais parecido com o ser humano e, por isso, tem sido utilizado em estudos que analisam o comportamento frente à várias situações. Dando sequência a essas descobertas, acadêmicos do Programa de Pós-Graduação em Bioexperimentação, Ciências Ambientais e do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF), juntamente com pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), estudaram os efeitos persistentes e transgeracionais da risperidona no zebrafish. O artigo, feito pelos pesquisadores Dra. Fabiana Kalichak, Dra. Heloisa Helena de Alcantara Barcellos, Dr. Renan Idalencio, Dra. Gessi Koakomski, Me. Suelen Mendonça Soares, Me. Aline Pompermaier, Me. Mainara Rossini e Dr. Leonardo José Gil Barcellos, foi publicado na Environmental Science and Pollution Researc e pode ser acessado aqui.

No trabalho, os pesquisadores explicam que o comportamento é a conexão entre os processos fisiológicos internos de um animal e sua interação com o meio ambiente, por isso, um repertório comportamental completo é crucial para a sobrevivência e a aptidão física dos peixes, tanto no nível individual quanto no nível populacional. De acordo com eles, embora existam alguns relatos relacionados à toxicologia transgeracional, pouco se sabe sobre as consequências a longo prazo da exposição a compostos farmacêuticos, como a risperidona, um antipsicótico utilizado para tratamento de psicoses e esquizofrenia, por exemplo.

Efeitos ao longo do tempo
No artigo, a equipe mostra que que o zebrafish exposto à risperidona durante os estágios embrionário e larval apresentou comportamento anti-predatório comprometido durante a vida adulta, caracterizando um efeito persistente, além de constatar que algumas dessas mudanças comportamentais estão presentes na geração seguinte, caracterizando um efeito transgeracional. 

De acordo com o professor Dr. Leonardo José Gil Barcellos, orientador da pesquisa, esse resultado sugere que, mesmo exposições curtas a concentrações ambientalmente relevantes, em estágios essenciais de desenvolvimento, podem persistir durante toda a vida do zebrafish, incluindo seus descendentes. “Do ponto de vista ambiental, nossos resultados sugerem possíveis riscos e consequências a longo prazo associados aos resíduos de drogas na água, que podem afetar a vida aquática e colocar em risco espécies que dependem de respostas comportamentais apropriadas para a sobrevivência”, explica.

Para compreender a importância do estudo, é preciso saber que um dos comportamentos mais conhecidos na natureza é o relacionamento presa-predador. Conforme os pesquisadores o comportamento de fuga é fundamental para a manutenção de uma espécie ajudando a evitar predadores e riscos potenciais à vida, podendo ser observado na maioria dos animais, como roedores, aranhas e peixes, incluindo o zebrafish. As deficiências nesses comportamentos podem levar a um indivíduo que, na presença de um detector ou de um vírus, pode resultar na extinção de uma espécie.

Pesquisa fundamental para melhorar o ambiente
Sabe-se que relatos de resíduos farmacêuticos no meio ambiente e seus efeitos sobre o comportamento das espécies expostas a eles são comuns e os ecossistemas aquáticos são os mais afetados pelos resíduos de drogas, com potenciais consequências para os organismos expostos. 

Existem, segundo a equipe, vários relatórios sobre o impacto desses compostos no crescimento e desenvolvimento embrionário, incluindo comportamento alterado em espécies expostas, bem como alterações endócrinas, hormonais ou genéticas. Neste sentido, os antipsicóticos estão entre as categorias de medicamentos que foram detectados no ambiente familiar incluindo risperidona, e essa exposição demonstrou ser perigosa para os peixes, mesmo em baixas concentrações. “Esses efeitos nem sempre estão diretamente relacionados à sobrevivência do animal individual, mas também podem estar relacionados a mudanças na morfologia, ineficiência reprodutiva e padrões de comportamento ou alimentação, com consequências difíceis de mensurar”, pontua Barcellos.

O grupo concluiu que a exposição ao fármaco, nos estágios iniciais da vida, altera as respostas comportamentais do zebrafish adulto e que esses efeitos podem ser observados na geração seguinte. Isso sugere que, mesmo a exposição breve a concentrações ambientalmente relevantes, em estágios essenciais de desenvolvimento, pode afetar as respostas de defesa durante toda a vida do peixe, assim como seus descendentes. “Nossos resultados destacam os riscos e as consequências ambientais de longo prazo associadas aos resíduos de drogas na água, que podem afetar a vida aquática e colocar em risco espécies que dependem de respostas comportamentais apropriadas para a sobrevivência”, ressalta.