Universidade

Entre plantas, saberes e afetos, um viveiro dentro da UPF vira sala de aula e educa pela terra

05/06/2025

14:49

Por: Alexandre Marcheze • Assessoria de Imprensa

Fotos: Alexandre Marcheze

No CEPAGRO da UPF, a professora Cláudia Petry cultiva mais do que plantas: transforma o cuidado com a natureza em ferramenta de ensino

Por entre caminhos de terra batida e o perfume das ervas nativas, um cantinho tranquilo cresce no coração do Centro de Extensão e Pesquisa Agropecuária (CEPAGRO) da Universidade de Passo Fundo (UPF). Lá, cada muda plantada tem mais do que folhas verdes: carrega sonhos e propósitos. O Viveiro Agroecológico, cuidado com o trabalho dedicado da professora Cláudia Petry, docente de paisagismo e produção orgânica do curso de Agronomia, tornou-se mais do que um simples laboratório ao ar livre. É um laço vivo entre o saber científico e o cuidado com a terra, entre a teoria na sala de aula e a prática de regenerar o que foi destruído.

A paisagem vai além de canteiros e estufas. É um mosaico de vidas, de plantas, estudantes e ideias que brotam com força. Cláudia anda pelos corredores do viveiro com a mesma leveza de quem conversa com a natureza. Cada planta tem uma história, e cada estudante, um caminho transformado pelo toque cuidadoso e profundo da educação ambiental.

Foi lá, em 2011, que um jovem estudante de Biologia, inquieto com o futuro do planeta, procurou a professora. Alexandre Vieira queria fazer seu Trabalho de Conclusão de Curso focado em sustentabilidade. Cláudia recebeu o pedido com entusiasmo.“Foi um encontro de interesses, de ideais. Ele queria trabalhar com espécies vegetais para uso em ecotelhado e telhados verdes. Sugeri que ampliasse o foco para uma casa sustentável”, relembra, com um brilho no olhar que mostra o quanto acredita nessa parceria.

A partir daquele encontro, nasceu mais do que um projeto de TCC. Surgiu uma semente de um projeto de vida. Com a orientação de Cláudia, Alexandre começou a imaginar o ECOlar: uma casa construída com materiais que, de outro modo, seriam descartados no lixo. Mais que uma moradia, essa casa virou uma expressão viva da possibilidade de criar com responsabilidade e de reconstruir com respeito à natureza.

“Alexandre é um ser único, idealista, buscando soluções para salvar o mundo. E todas são válidas. A graduação lhe ajudou a descobrir quem ele é. Isso é maravilhoso”, afirma Cláudia. E talvez seja justamente essa troca tão próxima e cuidadosa entre professora e aluno que facilite o surgimento de projetos com um potencial transformador tão grande. 

No viveiro agroecológico, Cláudia acompanha essa troca acontecer todos os dias. “É um espaço de práticas de produção sustentável, agroecologia e paisagismo ecológico. Temos um telado e um horto da agrobiodiversidade, com espécies medicinais, ornamentais, PANC e nativas”, explica. Os estudantes aprendem a propagação de plantas, manejo ecológico, bioinsumos e tecnologias de produção que regeneram o solo. Mas, acima de tudo, eles aprendem a enxergar a natureza com outros olhos: com respeito, pertencimento e reverência. 

Ela defende uma educação que vá além do conteúdo dos livros. Que enraize de verdade. “Precisamos de uma alfabetização ecológica, como propõe Fritjof Capra. Parar de dominar, de esterilizar a natureza. É urgente deixarmos de ser analfabetos ecológicos”, alerta.

Cláudia vê no viveiro um universo cheio de possibilidades. Um espaço onde a Universidade se conecta com a comunidade e com o que ainda está por vir. “A UPF merece manter esse espaço agroecológico. Ele é para as gerações futuras. É uma marca da Universidade como um lugar de produção de conhecimento que atravessa o tempo”, defende. 

Enquanto caminha entre árvores frutíferas e ervas aromáticas, Cláudia parece entender que o futuro não se constrói só com grandes invenções. Ele começa nos gestos simples: numa semente plantada com cuidado, numa conversa atenta com um estudante, no respeito ao solo. E, principalmente, na esperança de que, com educação, cada jardim seja um ato de resistência ecológica.

“Mesmo que o IPTU do meu jardim seja caro, saber que ele presta serviços ecossistêmicos que fazem bem sem olhar a quem, é gratificante como cidadã”, ela comenta, quase revelando um segredo. Se o poder público um dia reconhecer esse valor, será como uma confirmação de que cuidar da terra também é cuidar da cidade.

A história de Cláudia e Alexandre mostra que projetos sustentáveis nascem de encontros. De conexões entre gerações, saberes e sonhos com a prática. E, quem sabe, essa seja a maior flor que cresce entre as folhas do viveiro: a certeza de que cada um pode, e deve, fazer sua parte para transformar o mundo. Afinal, a natureza já mostra o caminho. Basta só a gente estar disposto a ouvi-la. 

Mas essa história ainda não acabou. Muito além do viveiro, uma semente plantada na relação entre professora e estudante virou uma morada: uma casa viva, feita com materiais esquecidos e ideias que desafiam o consumo. Na próxima parte desta reportagem, vamos conhecer a trajetória de Alexandre Vieira e o surgimento do ECOlar, um projeto que transforma resíduos em abrigo e sonhos em realidade.

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