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Rede de Cuidados Territoriais: prevenção da saúde in loco

27/08/2020

13:22

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Divulgação

Cerca de 1,2 mil pessoas já receberam a visita domiciliar do projeto, que é uma parceria entre UPF e Prefeitura de Passo Fundo, reforçando a atenção básica de saúde em época de pandemia

“Se não fosse o projeto conseguir a internação, eu não saberia que meu filho tinha engolido uma moeda. Poderia dar uma coisa pior, né”. O relato da mãe de um menino de 6 anos, mostra a agilidade e importância do projeto Rede de Cuidados Territoriais, que ajudou a salvar a vida dessa criança e que faz a prevenção à saúde de outras centenas de famílias em territórios vulneráveis de Passo Fundo. Em um mês de atividade prática, o projeto já esteve na casa de quase 1,2 mil pessoas, envolvendo 150 estudantes e 20 professores da Universidade de Passo Fundo (UPF). 
 
Em tempos de pandemia de Coronavírus, a UPF e a Prefeitura de Passo Fundo se uniram não só para combater à Covid-19, mas garantir que a atenção básica ou atenção primária em saúde seja fortalecida. Por isso, a Rede de Cuidados Territoriais foi criada. O projeto, a partir do mapeamento de áreas vulneráveis, indicadas pela Secretaria Municipal de Saúde, estabelece conexões com a diversidade dos modos de vida da população e com os diferentes serviços, cria novas possibilidades de diálogo e intervenções entre a comunidade e universidade, além de intervir nas questões de saúde a partir do vínculo, atividades de educação e abordagens clínicas.

Levando atendimento aos territórios vulneráveis

Uma das famílias que recebeu encaminhamento por meio do projeto foi a da Andriele dos Santos de Oliveira, moradora do bairro São Luiz Gonzaga. Há pelo menos um ano, ela buscava atendimento para um dos filhos, de 6 anos, com atresia de esôfago (formação incompleta do esôfago), que causa dificuldade de deglutir (engolir) alimentos. “O projeto foi muito importante, porque meu filho tem atresia do esôfago desde que nasceu e precisava fazer uma dilatação. Eu não conseguia falar com o médico dele há um ano. Não segura nada que come, só líquidos”, relatou Andriele.
 
Por meio dos encaminhamentos feitos pelo projeto, em parceria com o serviço de saúde do município, foi possível descobrir a tempo outro problema, que poderia colocar em risco a vida da criança. “Descobrimos, que além da atresia, ele estava com uma moeda na garganta e eu nem sonhava. Se não fosse o projeto conseguir a internação, eu não saberia que meu filho tinha engolido uma moeda. Poderia dar uma coisa pior, né”, revelou a mãe.
 
Segundo Andriele, o filho não se queixou e nem apresentou sintomas, por isso ninguém percebeu. “Fizeram um exame para ver o tamanho do esôfago para fazer a dilatação e descobriram a moeda. Ele parecia normal, não apresentou febre, nada. Por isso, não percebemos e nem os médicos souberam dizer há quanto tempo ele havia engolido a moeda”, disse Andriele.
 
Mais de 1,2 mil visitas já foram realizadas

Até o momento, mais de 1,2 mil visitas domiciliares foram realizadas. O projeto já percorreu o bairro São Luiz Gonzaga e desenvolve, neste momento, as atividades no bairro Valinhos (região da Beira Trilhos e ocupações). Além da prevenção da Covid-19, as principais demandas envolvem questões voltadas à saúde da mulher (preventivos atrasados, Infecções Sexualmente Transmissíveis, planejamento familiar e contracepção), à saúde bucal e referente a especialidades como oftalmologista, fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, entre outras.

Conforme a coordenação do projeto, algumas comunidades também apresentaram situações como violência doméstica, uso de drogas, álcool e vulnerabilidade acentuada com relação ao acesso a trabalho e alimentação. O projeto também realiza formações temáticas com assuntos relevantes para cada comunidade. Entre os temas já abordados estão violência doméstica, pandemia de Covid-19, biossegurança, doenças crônicas, entre outros assuntos.

A comunidade reconhece a importância das ações do projeto. “Penso que o projeto foi importante para a nossa comunidade, porque nos sentimos enxergados, saímos da invisibilidade que vivemos quando falamos de enfrentamento à pandemia. O fato de os profissionais visitarem, escutarem, orientarem as famílias faz com que a ocupação Valinhos II se sinta fortalecida para continuar articulando os cuidados com o todo da vida”, declarou uma das lideranças da ocupação Valinhos II, a moradora Edivânia Rodrigues da Silva.

Atenção básica fortalecida

A atenção básica é a “porta de entrada” da população ao SUS e às Redes de Atenção à Saúde. É o atendimento inicial, aquele que começa, muitas vezes, lá na unidade de saúde do bairro. Em virtude da pandemia, esse atendimento é afetado, já que os serviços precisaram ser modificados uma vez que a prioridade passou a ser os casos suspeitos de Covid-19 e as medidas de educação e controle à doença tiveram que ser intensificadas. Além disso, este é um momento em que as pessoas tem receio de sair de casa, bem como, quando podem, ficam mais recolhidas em suas casas e acabam não buscando atendimento.

Passo a passo do projeto:
1 - Os territórios são indicados pela Secretaria de Saúde;
2 - A coordenação do projeto entra em contato com as equipes de saúde e de assistência social da comunidade, bem como líderes comunitários, para apresentação do projeto e pactuação das ações;
3- É realizada uma reunião com os envolvidos no projeto (estudantes, bolsistas, residentes e professores) para apresentação do campo, combinações e orientações gerais;
4 – O grupo realiza as visitas domiciliares, guiadas por um “questionário” que norteia a visita com perguntas que circulam por temas como: Covid-19, questões gerais de vida e saúde, saúde da mulher, zoonoses, saúde bucal, entre outros;
5- Após a conclusão das visitas, os grupos discutem os casos encontrados e propõem estratégias de intervenções e encaminhamentos das demandas apresentadas;
6- São feitas novas visitas aos atendidos, com o intuito de dar um retorno às demandas encontradas.

Cuidado integral

A coordenação do projeto, composta pelos professores da UPF Me. Anderson Flores, Me. Daiana Argenta Kumpel, Me. Isabel Ines Z. Lanferdini, Me. Juliana Sechi, Dra. Juliane Bervian e Me. Sandra M. Vanini e pela assessora acadêmica da Vice-Reitoria de Graduação (VRGRAD) Marina Lazaretto, acredita que esse projeto vem se apresentando como uma proposta inovadora para a Universidade, pois consegue em tempos de pandemia, articular e somar forças para responder a demandas sociais e de saúde em diferentes realidades.
 
Além disso, estas demandas têm maior possibilidade de resolutividade quando se coloca no centro da aprendizagem, a formação interprofissional e o processo coletivo de trabalho. “Essa dimensão de cuidado integral em parceria traz benefícios para os estudantes, que na graduação aprendem a trabalhar de forma coletiva e compartilhada; para os professores que são desafiados a convocar outras pedagogias para dar conta das complexidades das realidades apresentadas e, mais ainda para a população usuária que tem o seu acesso à saúde ampliado”, destacou a coordenação.

Estudantes conectados com a realidade social

O projeto contribui para o processo formativo dos estudantes, que se conectam com a vida comunitária, com o cotidiano e com as mais variadas realidades sociais existentes. “A discussão dos casos encontrados com a equipe multiprofissional enriquece e engrandece nosso conhecimento e também nos deixa mais sensíveis com relação aos problemas encontrados. Sem dúvida, é uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional”, enfatizou a farmacêutica Julia Livia Nonnenmacher, da Residência Multiprofissional com ênfase em Saúde do Idoso.
 
A integração de tantos cursos e áreas diferentes amplia a visão do estudante e contribui para a prática da profissão. “O projeto vem ao encontro das novas perspectivas de saúde no contato ao paciente, com uma equipe multiprofissional, integrando desde a graduação, este contato com diversas profissões da área da saúde, entendendo melhor as suas importâncias e contribuições ao paciente”, salientou o acadêmico de enfermagem, Vanderlei Machado dos Santos Júnior.

Dados gerais do projeto:
Nº total de visitas domiciliares: 1.170
Nº pessoas atingida pelas visitas domiciliares: 1.560
Nº de pessoas direta e indiretamente envolvidas nas ações do projeto: 3.600
Nº estudantes da UPF envolvidos: 150
Nº de professores e funcionários da UPF envolvidos: 20
Cursos envolvidos: Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia, Psicologia, Serviço Social, bem como bolsistas do programa PET-Interprofissionalidade e estudantes da Residência Multiprofissional.