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Produção leiteira: qualidade desde a propriedade até a mesa do consumidor

28/06/2019

15:43

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Alessandra Pasinato

Especialistas estiveram reunidos no VI Simpósio da Vaca Leiteira, realizado na UPF, na região que concentra 60% da produção leiteira do estado

Brasil integra o ranking dos maiores produtores de leite do mundo, indicador que tem a Índia, os Estados Unidos, a União Europeia e a China entre os primeiros na escala, com maior produção. No país, o estado de Minas Gerais lidera a produção, seguido do Rio Grande do Sul, que alcança notoriedade pela alta produtividade. O principal fator que infere na produção leiteira é a qualidade, tema constante de debates.

A qualidade do leite foi foco de um encontro realizado na Universidade de Passo Fundo (UPF) nesta sexta-feira, dia 28 de junho, no VI Simpósio da Vaca Leiteira. A atividade foi uma ação conjunta entre a UPF e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e, depois de cinco edições sendo realizada em Porto Alegre, migrou para Passo Fundo, região que concentra 60% da produção leiteira do estado.

Um dos coordenadores da atividade, o professor Felix Gonzalez, destaca que, dentre os temas abordados no evento, estão as principais preocupações dos produtores, como o impacto da mastite sobre a qualidade do leite, o impacto da nutrição na composição e qualidade do leite, os indicadores para avaliar a qualidade físico-química do leite, a eficiência produtiva e a qualidade do leite em cruzamentos de vacas holandesas e jersey, além da desmistificação dos conceitos dos efeitos do leite sobre a saúde humana.

Qualidade que vem da propriedade

Segundo a legislação nacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a qualidade a nível de produtor é obtida por meio de informações dos componentes químicos – gordura, proteína e lactose – que fazem parte dos nutrientes, além dos componentes minerais. Conforme o professor da Universidade de Passo Fundo (UPF) Dr. Carlos Bondan, existem outros dois indicadores que atestam a qualidade leiteira: a contagem de células somáticas – indicador de sanidade da glândula mamária –, e a contagem bacteriana do leite – que remete à qualidade e à higiene com a qual o leite foi obtido.

Conforme Bondan, esses são os padrões analisados na fazenda. “Coleta-se uma amostra mensal de cada propriedade produtora. É lei: a indústria é quem coleta e envia para um laboratório credenciado que faz a análise da qualidade do leite, como o Sarle”, cita ele, que coordena o Serviço de Análises de Rebanhos Leiteiros (Sarle) da UPF, laboratório que ultrapassa 100 mil análises por mês, atendendo a um universo de 35 a 40 mil produtores de leite das regiões Norte e Nordeste.

Dados da Emater do Rio Grande do Sul apontam que o número de produtores que comercializam o leite para indústria processadora e para laticínios gira em torno de 60 a 62 mil no estado. “Atendemos a cerca de 70% dos produtores do Rio Grande do Sul, pela nossa posição geográfica e pela nossa história. O Sarle é um laboratório que presta esse serviço de análise leiteira desde 1997, quando nem se falava na qualidade do leite”, cita Bondan.

Controle de qualidade

O rigoroso controle de qualidade é necessário, conforme o coordenador do Sarle, especialmente por se tratar de um produto perecível. “Se não dermos as devidas condições de manutenção e produção, teremos um produto que, de alguma forma, pode inclusive fazer mal”, destaca. A rigidez no controle da qualidade do leite iniciou a nível nacional em 2002, buscando a identidade do leite produzido no Brasil. De acordo com o professor, normativas entraram em vigor em 2005, quando se passou a analisar o leite produzido nas fazendas. “O que aconteceu de 2005 até agora foi muito interessante: o leite, de fato, melhorou. Todas as vezes que a legislação aperta e se torna mais rigorosa, o produtor dá um passo à frente na questão da qualidade”, justifica.

Em 2019, novas normas foram implantadas. Para Bondan, a nova legislação somou nas questões de qualidade. “Nós que trabalhamos diretamente com pesquisa, extensão e também com a segurança alimentar, sabemos que esse é um passo importantíssimo”, aponta, destacando que é preciso que o produtor se adeque aos novos cenários. “Ter condições higiênicas é imprescindível, fazer controle de mastite e nutrir bem as vacas: só isso que o produtor precisa”, pontua. Os gargalos que podem surgir, ele cita, são a assistência técnica que por vezes pode ser limitada a algum produtor e outras questões como energia elétrica, o que é necessário para fazer uma ordenha e principalmente para conservar o leite.

Qualidade na plataforma

Na indústria, existem outras análises que são feitas para garantir a qualidade do leite. São cerca de 20 estudos realizados, com a identificação da não presença de água, de antibióticos, formol e qualquer outra substância estranha que possa comprometer a qualidade do leite. “Hoje, o leite inspecionado rigorosamente pela inspeção federal, estadual e municipal é um leite de boa qualidade, pois passou por toda uma bateria de análises que garantem essa qualidade”, constata Bondan.

A previsão, segundo o professor, é que a produção tenha acréscimo e, com isso, possa haver interesse em exportação. “Para isso, precisamos provar a qualidade e, logo, teremos um passo a mais: não basta garantirmos que o leite tenha qualidade, haverá a necessidade de provar que os nossos animais são saudáveis”, prevê ele, informando que, atualmente, a saúde do rebanho é testada apenas pelas células somáticas, no caso leite.

Para Bondan, devem haver barreiras comerciais que exijam animais livres de tuberculose e brucelose, além de outras doenças infectocontagiosas. “Essas barreiras comerciais serão sentidas em breve e já estamos nos organizando para isso, em termos de laboratório”, conclui ele. Recentemente, o Sarle lançou dois exames inovadores, um que atesta a prenhez bovina por meio da análise do leite e outro que detecta a presença de antibióticos nesse alimento.

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