Ensino

Matemática UPF 50 anos: pilar para a formação de professores na região e no estado

28/11/2022

16:12

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Jéssica França

“Nosso desafio é mudar essa mentalidade de que a Matemática é só fazer contas, decorar fórmulas ou que é só para pessoas com ‘mentes privilegiadas’ e que a profissão professor é inferior a qualquer outra”. A frase da coordenadora do curso de Matemática da UPF, professora Dra. Maria de Fatima Betencourt, traz consigo um pouco da trajetória da graduação oferecida pela Universidade. Ao completar 50 anos, o curso se reinventa e prepara os profissionais para os novos desafios da educação.

Aprovado para funcionamento em 1972, o curso iniciou as atividades em março do ano seguinte, já com o objetivo de oferecer à sociedade profissionais bem preparados para atuar na educação básica. “A justificativa para a implantação da licenciatura na Universidade apoiava-se na necessidade, bastante significativa, de professores com formação superior nesta área, tendo em vista que cursos de Matemática eram oferecidos, além da capital do estado, apenas em regiões mais distantes tais como Pelotas, Rio Grande, Santa Maria e Caxias do Sul”, relembra a coordenadora.

Cinco décadas de transformações

Ao longo de 50 anos, a educação, como um todo, passou por muitas transformações. Essa realidade não foi diferente com a área da matemática. De acordo com Maria de Fátima, durante todo esse tempo, o curso teve sua proposta atualizada por diversas vezes. 

A década de 1980, por exemplo, foi de constituição da Educação Matemática como área de atividade autônoma, do ponto de vista acadêmico e profissional. Professores do curso foram se especializando nessa área e, como consequência, ampliou-se o currículo do curso buscando, principalmente, fortalecer a formação de um professor – educador. Segundo a professora, foi dado um espaço maior à formação humana, incluindo outros campos ligados à educação, como por exemplo a sociologia, a filosofia, a psicologia, a história e a pedagogia. 

Neste contexto, a Educação Matemática também passou a protagonizar novos projetos e novas abordagens na formação continuada dos professores. “Como um exemplo dessa atividade realizada nesta perspectiva, temos a organização, pelos professores do Laboratório de Matemática, das Jornadas Regionais e, mais tarde, também das Jornadas Nacionais de Educação Matemática, sendo que em 1991, em uma dessas edições, a UPF, por intermédio dos professores do Laboratório, aceitou o desafio de sediar a 1ª diretoria da Sociedade Brasileira de Educação Matemática – SBEM/RS”, observa, destacando que as alterações realizadas no currículo do curso sempre tiveram como objetivo melhorar a qualidade da formação de professores. 

Novos modelos para superar crises e desafios

Maria de Fátima Betencourt ressalta ainda que, nesse processo, o curso tem buscado, em cada reforma curricular, uma interligação maior desde as componentes científicas, pedagógica e práticas da formação dos futuros professores, passando também pelo papel do educador hoje. Essa realidade, em sua visão, traz o educador como mediador na construção dos conhecimentos pelos estudantes, estimulando a autonomia, a discussão, o raciocínio. “A educação é parte do processo de constituição das pessoas e, nesse sentido, essencial na construção das bases para atuar na sociedade, de modo cidadão. É uma das profissões mais necessárias, principalmente para a garantia do direito à educação.  Nessa perspectiva, hoje, como antes, continuamos acreditando que uma boa qualificação dos professores pode ser fator decisivo quando o assunto é qualidade da educação.  Assim, o curso vem trabalhando, tanto na formação inicial quanto na continuada na perspectiva do desenvolvimento profissional do professor, pois acreditamos que isso ajuda a favorecer a profissão docente e o professor”, pontua. 

A coordenadora relata que a realidade hoje mostra um baixo aproveitamento em matemática pelos estudantes das escolas, o que traz como consequência o desinteresse pelo estudo da disciplina e por áreas em que a matemática está presente de forma mais significativa. “Nosso desafio é mudar essa mentalidade de que a Matemática é só fazer contas, decorar fórmulas ou que é só para pessoas com ‘mentes privilegiadas’ e que a profissão professor é inferior a qualquer outra. Nesta perspectiva, continuar, via projetos de extensão e pesquisa, principalmente, a oportunizar a professores já formados, a continuidade em seus estudos, com incentivo à participação em eventos que possam auxiliar estes no enfrentamento das múltiplas situações que se descortinam na realidade escolar”, salienta.

Para Maria de Fátima, as crises na Educação são impactadas por políticas de valorização e desvalorização docente. Portanto, se não houver uma modificação nas condições gerais da docência, para fazer dela uma carreira atrativa, haverá ainda mais falta de professores para atuar na universalização da educação básica, conforme prevê o Plano Nacional de Educação. Contudo, para a docente, enquanto curso e na esperança de que ele tenha longa vida, para além dos seus 50 anos, professores e gestão estão sempre atentos às necessidades de ajustes, adequações. “Estamos sempre abertos a propor à comunidade reflexões e ações que venham enaltecer o importante papel dos professores em nossa sociedade e o quanto uma formação de excelência é primordial para que tenhamos gerações futuras críticas, conscientes como cidadãos, abertos ao diálogo, que entendam a diversidade, seja ela qual for, como merecedora de respeito, bem como capazes de promoveram atitudes para o bem de todos”, frisa.

Inauguração do Laboratório de Matemática Maria Fialho Crusius

Em comemoração aos 50 anos do curso de Matemática, celebrado no mês de novembro, a coordenação organizou uma solenidade para nomeação do Laboratório de Matemática "Maria Fialho Crusius". Durante o evento foi destacada a importância da atuação da professora Maria, que foi uma das precursoras do curso de Matemática e que contribuiu para criação do laboratório objetivando promover o aprimoramento e os estudos voltados à matemática. 

De acordo com Mary Caetano Costa, que foi aluna da professora Maria e atuante no grupo de estudos de Matemática junto ao Laboratório, a nomeação do espaço é o reconhecimento do trabalho importante que a professora Maria desempenhou. “Foi o primeiro laboratório de estudos matemáticos do Rio Grande do Sul, ele foi criado junto com o curso.  Nós iniciamos o trabalho dando assistência aos alunos que vinham do ensino médio e que tinham dificuldade na matemática do Ensino Médio, então nós fazíamos estudos relativos à matéria de anos anteriores”, comenta Mary. 

Conforme ela, na época o grupo de estudos de Matemática realizava ações em toda a região. “A gente ia para Ijuí, Soledade, Erechim, Palmeira das Missões, também realizávamos cursos de férias. Na época, nós não tínhamos conhecimento em francês e muitos livros eram em francês então a gente fazia as aulas com um professor particular na casa da professora Maria, no pátio, em que ela chamava a ‘Boate do Piaget’. A dona Maria para mim não foi só professora, foi mestra, foi amiga, mãe, muitas vezes psicóloga, passamos dias muito felizes juntos. A matemática era movimento, era a vida dela”, finalizou a egressa.

A professora Maria Fialho Crusius (in memoriam) atuou durante muitos anos na UPF como professora de Matemática. Livros que pertenciam à sua biblioteca particular foram doados ao Arquivo Histórico Regional, e atualmente fazem parte da Seção de Arquivos Privados, denominado de Biblioteca Auxiliar Maria Fialho Crusius. 

Um pouco da história

O curso de Matemática teve suas duas primeiras turmas em 1973 e 1974, com regime semestral, no turno da tarde e, apesar da proposta inicial ser de 6 semestres letivos, o curso nestas duas turmas foi integralizado em 7 semestres letivos. Foram 26 alunos formandos na primeira turma e 28 na segunda. 

Como resultado principal, muitos desses recém-formados ocuparam lugares de destaque no sistema de ensino, sendo que alguns deles se tornaram professores da UPF e, tiveram cargos administrativos na Instituição.  

Os professores Carmen Hessel Peixoto Gomes, Cléa Bernadete Silveira Neto Nunes, Geraldo Halwass, Lorivan Figueiredo, da primeira turma, além de professores do curso de Matemática, também assumiram a direção do então Instituto de Ciências Exatas e Geociências. O professor Lorivan também assumiu o cargo de vice-reitor Administrativo da UPF. A professora Cléa foi vice-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários. Já a professora Ocsana Sônia Danyluck, oriunda da primeira turma, também assumiu o cargo de vice-reitora de Graduação. Os professores Adilson Tortato, Helena Lorenzatto, Jane Colossi, Jair Cordeiro, Jussara Benck Porsch, Mary Caetano, Orly Spanemberg e Rosa Tagliari Rico, todos da primeira turma, se tornaram professores da UPF.  Da segunda turma, os professores Aldenes Ramires Rocha, Carlos Leonardo Kipper e Vera Jussara Lourenzi, também atuaram como professores na Universidade. A professora Vera atuou também como coordenadora do curso de Matemática.