Jornada

Literatura para todos

28/10/2021

14:27

Por: Assessoria de Imprensa

Segunda live em homenagem aos 40 anos das Jornadas Literárias reuniu os escritores Julián Fuks, Alckmar Luiz dos Santos, Cíntia Moscovich e Luís Augusto Fischer

A literatura no Rio Grande do Sul e as ocupações físicas e digitais na literatura, bem como questões de representatividade de gênero, marcaram a segunda live em comemoração aos 40 anos das Jornadas Literárias. O encontro on-line foi realizado na noite de quarta-feira, 27 de outubro, e reuniu os escritores Julián Fuks, Alckmar Luiz dos Santos, Cíntia Moscovich e Luís Augusto Fischer. A última live da programação ocorre nesta quinta-feira (28/10) com a participação dos escritores Elisa Lucinda, Ferréz, Ricardo Azevedo e Maria Esther Maciel, a partir das 19h20min. A programação pode ser acessada em www.upf.br/jornada40anos.

Escritor Julián Fuks

Literatura ocupada
A primeira mesa da live debateu “Ocupações físicas e digitais: a literatura tem?”. E para responder essa questão, um dos convidados foi um dos melhores jovens escritores brasileiros, Julián Fuks, que contextualizou o assunto a partir da construção do seu livro “A ocupação”. Uma obra que surgiu em um momento que o escritor tentava se afastar da lógica individualista de escrita e buscava ir além do seu círculo, do seu umbigo. E foi neste momento que recebeu o convite para participar de uma residência artística em uma ocupação de moradores sem teto e de refugiados no centro de São Paulo. “Percebi que a forma de resistir mais eficaz, própria do nosso tempo, é o ato de ocupar. Aos poucos fui me dando conta que o livro só poderia se chamar “A ocupação”. Se ocupar e resistir era a palavra de ordem central do nosso tempo, se esse é o grito que nos move mais diretamente em direção a alguma ação, só podia se chamar ocupação”, explicou o escritor.

Outra intenção do autor é que as vozes ocupassem o seu livro, em uma espécie de literatura ocupada. Além disso, se deu conta que pelo atual momento vivido, especialmente no campo político, a literatura poderia se posicionar mais, se fazer mais atenta ao presente, dialogar com discursos políticos, fazendo um tipo de literatura política. Mas, em suas inflexões mais recentes, Fuks acredita que a literatura precisa ir além para dar conta dos dramas de tantas pessoas e dos anseios da sociedade. “A literatura precisa ser ocupada por tudo e por todos. Se fazer essa voz de todos. Quem sabe assim um dia responda a todos os desígnios que a gente atribui a ela”, enfatiza Fuks, revelando que a Jornada de Literatura foi o primeiro evento literário que participou, na edição de 2005, no início da sua carreira. “Para mim é sempre emocionante retornar a Passo Fundo. É um prazer enorme estar aqui, mesmo que à distância”, revela o escritor.

Escritor Alckmar Santos

Alckmar Santos e as criações digitais
O escritor Alckmar Santos falou sobre as suas criações digitais, explicando que o mundo físico e o ambiente digital não necessariamente têm que se opor sempre. “É possível trazer o mundo físico de alguma maneira para o digital e o digital para o físico, embora alguns têm apostado nesta radical diferença entre um e outro”, destaca o autor, ressaltando ainda que nas criações que estão fazendo tentam ir além dessas falsas disjunções. “Temos tentado trazer tanto o mundo empírico, o mundo dos problemas, das situações para o meio digital, onde as criações são vistas e de algum modo tenta levar esse mundo digital para nossas experiências do dia a dia”, observa.

Ele trouxe como exemplo a criação literária digital intitulada “e-Imigrações”, em conjunto com Rafael Duarte e Vinícius Henning, que trabalha com situações de imigrantes do Haiti, Venezuela e Síria, levados a sair do seu país por catástrofes, guerras civis, terremotos, crise econômica e acabam no Brasil. “A ideia é que a criação digital proporcione ao leitor a possibilidade de ele pensar como esse imigrante é recebido aqui no Brasil, o que ele traz pra nós e o que ele recebe de nós”, reflete o autor, enfatizando que a ideia é fazer também com que esses espaços de expressão política sejam ocupados. “A gente tem que defender constantemente a ideia de que fazemos política o tempo inteiro, porque vivemos em pólis. As pessoas confundem muito quando condenam a política, esquecendo que política e civismo têm o mesmo radical, ambos vêm de cidade. O ato político é o ato de viver em coletividade. Toda a arte neste sentido é política”, ressalta o escritor.

Escritor Luís Augusto Fischer

A literatura gaúcha e a representatividade de gênero
O escritor Luís Augusto Fischer, professor de Literatura Brasileira na UFRGS, a partir do tema da mesa da live “Leituras por aqui no Sul”, explicou por que há tantos escritores gaúchos na literatura. Segundo ele, um dos motivos tem a ver com estas movimentações, como as Jornadas Literárias, que promovem e incentivam a literatura. Além disso, também atribuiu essa virtude à tradição de universidades comunitárias existentes no Rio Grande do Sul, com incentivo às áreas de Letras, de Ciências e de Conhecimento, construídas ao longo do tempo, e também por meio de uma vertente educacional antiga, que resultou na tradição de ensino público bom no estado. 

Também enfatizou a contribuição de instituições propriamente literárias como a Sociedade Partenon Literário, a Livraria e Editora Globo e o Instituto Estadual do Livro. “Falta muita coisa a fazer, mas a literatura tem uma atuação bacana com escritores de grande qualidade”, destaca Fischer.

Escritora Cíntia Moscovich

A escritora Cíntia Moscovich ressaltou questões de representatividade de gênero na literatura, enfatizando que isso é recorrente, uma questão cultural, e que sempre vem à tona. “Quando vai se falar em literatura, e ainda é um terreno privilegiado, você sempre vai achar mais homens do que mulheres”, salientando que, embora esse ainda seja o cenário, as mulheres vêm crescendo no meio e lutando para modificar isso. 

 

 

- Confira a live:

Programação encerra nesta quinta-feira (28)
As lives de quarta-feira contaram com a mediação das professoras da UPF Dra. Claudia Toldo e Ivania Aquino. As transmissões ocorrem pelo canal do Youtube da UPF Online e a programação pode ser conferida no site www.upf.br/jornada40anos

As atividades em alusão aos 40 anos das Jornadas Literárias são promovidas pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e Prefeitura de Passo Fundo com patrocínio da Corsan, apoio do Programa Nacional de Assistência ao Ensino (PNAE) e Sesc como parceiro cultural.

Live 28/10 (quinta-feira)

- 19h (Abertura) - Jornada: memória lida 

- 19h30min às 20h30min - Vozes e pertencimento: a literatura tem?
Elisa Lucinda
Ferréz 
 
- 20h30min às 21h30min - Leitores livres, seres (in)comuns 
Ricardo Azevedo
Maria Esther Maciel