Jornada

“Essa Jornada de Passo Fundo só vem afirmar ou se firmar como resistência, sobrevivência e como promessa de futuro para o nosso país”

29/10/2021

14:18

Por: Assessoria de Imprensa

Debate sobre vozes, pertencimento e leitores livres reuniu os escritores Elisa Lucinda, Ferréz, Ricardo Azevedo e Maria Esther Maciel na última live em comemoração aos 40 anos das Jornadas Literárias

E foi cantando “Promessa de Violeiro” que a escritora Elisa Lucinda abriu a mesa de debates da live “Vozes e pertencimento: a literatura tem?” da programação em comemoração aos 40 anos das Jornadas Literárias de Passo Fundo. E a escritora Maria Esther Maciel encerrou a última live da programação resumindo o que a Jornada representa para escritores, leitores e cidadãos brasileiros. “Essa Jornada de Passo Fundo só vem afirmar ou se firmar como resistência, sobrevivência e como promessa de futuro para o nosso país. É um prazer estar aqui”, declarou a autora. 

A última noite da programação da Jornada - 40 anos foi de vozes em prol de uma literatura para todos.

Escritora Elisa Lucinda

“A literatura é um espaço imenso de liberdade e de ressignificação. A literatura está com a faca e o queijo na mão para cuidar disso”, disse a escritora Elisa Lucinda, ressaltando que apesar do preconceito ser muito presente ainda e da luta ser diária, são tempos de escuta. “Eu gosto de começar cantando muito por causa disso. Essas vozes foram muito intimidadas. Os pretos e os índios ficaram constrangidos de colocar as suas culturas na roda. Humilhados pelo eurocentrismo. E agora é um tempo muito fértil nesse lugar. Mesmo com todo atraso, nunca fomos tão ouvidos, nós ativistas. Estamos falando há muito tempo, mas nunca houve tamanha escuta quanto agora. Não estou falando que os tempos são bons. Mas é uma verdade nova”, observa a escritora. 

Escritor Férrez

Férrez comentou sobre vários episódios cotidianos em que sofreu preconceito, inclusive em grandes eventos, relatando um destes acontecimentos:

“Veio um segurança e perguntou: prova que você é escritor? Eu respondi: Não tem carteirinha pra escritor. Não tem como provar”, relatou ele, salientando que há muitos anos precisa explicar a sua literatura. “Eu aceitei o estigma. Eu não tento mais repudiar. Chega uma hora que cansa. São 25 anos explicando o que é literatura marginal”, comenta o escritor.

Escritor Ricardo Azevedo

Já na mesa Leitores livres, seres (in)comuns, Ricardo Azevedo destacou a importância do incentivo à ficção para crianças e jovens lidarem com a contemporaneidade e o futuro.

“Os jovens precisam mais do que nunca aprender ficção na escola, aprender esse recurso que está dentro deles. Eles poderiam ser agentes dessa ficção. Estão no mundo para se autoconstruir e para construir algo melhor em volta e eles vão precisar usar essa capacidade de ficção para imaginar o futuro deles e da sociedade”, enfatizou Azevedo, que acredita que a leitura e a criatividade são fundamentais. “Os jovens são lançados no mundo do jeito que está. É papel dos adultos, dos professores, mostrar pra eles que tem saída e uma das saídas é a leitura e a criatividade”, ressaltou.

Escritora Maria Esther

A escritora Maria Esther salientou a questão de os leitores serem livres.

“O leitor não precisa seguir a ordem sugerida ou explicitada pelos escritores. Ele pode ler de viés, aos saltos, numa subversão da continuidade, da configuração das partes e, dessa maneira, reinventa o que lê. Eu digo que sempre me dei essa liberdade como leitora. Desde cedo descobri as delícias e os sobressaltos da arte de ler. E foi através dela que me tornei escritora e como leitora livre busquei me formar e me transformar por meio dos livros e textos mais variados”, revela a escritora. 

As mesas de debates contaram com a mediação dos professores da UPF, Gerson Trombetta e Francisco Fianco.

Confira a live:

Três dias de celebração à Literatura e às Jornadas
A lona se transformou em tela, mas não impediu de celebrar a literatura. Durante três dias (26, 27 e 28/10), escritores e público se encontraram, de forma on-line, no que os coordenadores chamaram de “uma jornada sobre a Jornada”.

“Acho que conseguimos estabelecer remotamente esse amor que temos todos pela palavra, pela literatura, a importância da literatura”, declarou um dos coordenadores das Jornadas, professor Dr. Miguel Rettenmaier, seguido da também coordenadora, professora Dra. Fabiane Verardi, fazendo uma referência à Jornadinha, que formou tantos leitores durante esta trajetória. “Nós temos os 40 anos das Jornadas, mas temos os 20 anos das Jornadinhas. Uma geração se formou leitor por conta dela. Não estamos com nossas crianças aqui no evento, mas vocês (escritores) representam elas”, afirma Fabiane.

O evento em comemoração aos 40 anos das Jornadas Literárias reuniu apaixonados por uma das maiores movimentações culturais da América Latina para celebrar essas quatro décadas e debater a literatura dos próximos anos. Também participaram desses encontros, os convidados Alckmar Luiz dos Santos, Cíntia Moscovich, Flávio Carneiro, Julián Fuks, Luís Augusto Fischer, Marina Colasanti e Roger Mello. As lives podem ser conferidas no canal do Youtube da UPF Online.

As atividades são promovidas pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e Prefeitura de Passo Fundo com patrocínio da Corsan, apoio do Programa Nacional de Assistência ao Ensino (PNAE) e Sesc como parceiro cultural.

As Jornadas
Idealizadas em 1981, as Jornadas Literárias de Passo Fundo são uma movimentação cultural inédita de formação de leitores. Um evento que abrange escritores nacionais e internacionais, reunindo multidões. Antes de encontrar presencialmente os autores, os leitores se preparam, fazendo a leitura prévia das obras dos convidados. Uma dinâmica que deu muito certo e que culmina com a Jornada e Jornadinha Nacional de Literatura, que se tornaram um marco na vida e na memória leitora da cidade, da região do Estado e do País.