Extensão

Da Universidade para a comunidade: óleo de cozinha pode virar sabão e velas artesanais

05/10/2021

10:00

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Natália Fávero

Oficina ministrada por professores do curso de Química da UPF ensina moradores a reaproveitar o óleo de cozinha com receitas especiais e com mais segurança

Há gerações, famílias produzem sabão caseiro, reaproveitando o óleo de cozinha misturado à soda cáustica. A questão é que fazer sabão em casa requer cuidados e atenção para questões de segurança. Assim, professores do curso de Química da Universidade de Passo Fundo (UPF) testaram receitas caseiras em laboratório e desenvolveram uma receita especial com dicas de segurança. Além disso, ensinam a fazer velas artesanais. O conhecimento adquirido no laboratório agora é levado até à comunidade, sendo repassado para moradores do bairro José Alexandre Zachia.

Por meio da oficina de “Reuso de óleo de cozinha: produzindo sabão e velas artesanais”, Andreia Moreira de Souza, moradora do bairro Zachia há 34 anos, aprendeu uma prática já realizada pela sua mãe há muitos anos, que é fazer sabão. Mas agora, a receita é diferente e mais segura: a frio e com menos soda. “Resolvi fazer a oficina pra poder reutilizar o óleo que costumamos jogar fora. Isso é muito importante para os rios e meio ambiente. Além disso, está tudo tão caro, que economizar no sabão já é uma grande coisa. Dá pra lavar louça, roupa e calçada”, declara a moradora.

Há diversas receitas difundidas na internet e pela própria comunidade. Nesse sentido, os professores do curso de Química, por meio dos projetos de extensão “Saberes e fazeres da docência: rodas de conversa em processo formativo coletivo” e “Recursos Minerais e Sustentabilidade”, testaram essas receitas em laboratório. “Muitas receitas da internet têm mais de 15% de concentração de soda. Esse excesso provoca o ressecamento das mãos ao utilizar o sabão, podendo criar até fissuras. Se as mãos ficarem murchas, significa excesso de soda”, explica a coordenadora do curso de Química, Me. Ana Paula Härter Vaniel.  

A partir das experiências em laboratório, os professores desenvolveram uma receita com menos soda e feita a frio, sem precisar aquecer. Além disso, a questão da segurança é essencial. “O percentual que utilizamos de soda é menor. Demora um pouco mais para secar, mas é mais seguro. A nossa intenção é trazer receitas que testamos em laboratório em quantidades ajustadas e atentar aos cuidados com segurança. A soda é corrosiva e o óleo pode entrar em combustão quando está sendo aquecido, por isso optamos por fazer a frio. É importante o uso de luvas, óculos de proteção e uma roupa que possa ser facilmente retirada em caso de acidente. Crianças também devem ser mantidas afastadas para evitar acidentes”, observa a professora, ressaltando que, ao utilizar o sabão caseiro em casa, é indicado sempre trabalhar com luvas, a fim de proteger as mãos.

A primeira oficina foi realizada nesta segunda-feira, 4 de outubro, com moradoras do bairro Zachia. “O conhecimento químico e hoje, em especial, sobre o sabão, é um conhecimento difundido popularmente, mas muitas vezes as pessoas não sabem as proporções e nós, como professores e pesquisadores, precisamos ir até a comunidade socializar o conhecimento. Essa também é uma das funções da Universidade de estar na comunidade e trazer a discussão, o conhecimento e ampliar essas compreensões”, enfatiza o professor do curso, Dr. Ademar Antonio Lauxen, ressaltando a importância dessa ação para a questão ambiental, evitando o descarte incorreto do óleo de cozinha, e também para a questão social, já que a produção pode gerar uma renda própria e até uma renda extra nas famílias.

Velas artesanais: coloridas e perfumadas
Outra receita que a comunidade aprendeu envolve parafina e óleo de cozinha, que podem ficar coloridas utilizando giz de cera ou perfumadas por meio de essências oleosas. “Eu nunca tinha ouvido falar que dava pra fazer vela com óleo de cozinha e ainda com essência pra deixar um cheirinho na casa”, comenta a moradora Andreia. 

No entanto, questões de segurança também devem ser levadas em consideração. “A parafina entra em combustão facilmente, então não é indicado aquecer diretamente na chama do fogão. Indicamos trabalhar sempre em banho-maria, com a água quente, nunca fervendo. Dessa forma, a temperatura não fica tão alta. Além disso, utilizamos a técnica do cimento na parte inferior, que irá servir de base, para evitar incêndios quando a vela chegar ao fim”, comenta a professora Ana Paula.

Conhecimento acadêmico
Para os acadêmicos, aprender na Universidade e depois repassar esse conhecimento para a comunidade também é um aprendizado importante. “Essas oficinas possibilitam que nós alunos possamos colocar a ‘mão na massa’ na prática e também ajuda a comunidade a aprender como funciona a química no dia a dia, porque ela está muito presente na nossa rotina. Além disso, tem a questão do meio ambiente, evitando despejar o óleo na terra ou no banheiro. É importante viver bem com o meio ambiente, porque a gente precisa dele para viver, não somos nada sem ele”, enfatiza a acadêmica do quarto nível do curso de Química (B), Giovana Favreto.

Essa atividade é uma das estratégias que vêm sendo desenvolvidas na busca pela integração do ensino e da extensão e dos diversos cursos da Universidade com ações práticas nas comunidades, tendo como articulador o projeto de extensão Redes de Cuidados Territoriais em parceria com a Comissão de Integração da Área da Saúde (Cias) e demais projetos de extensão.

Para mais informações sobre as receitas entre em contato pelo e-mail quimica@upf.br.

Receita de sabão caseiro:
1 – Adicionar 1 L de água em uma balde de plástico;
2 – Acrescentar, aos poucos, 100 g de soda cáustica (cuidar, pois a soda cáustica é corrosiva, usar luvas e fazer o procedimento em ambiente aberto e ventilado, não respirar os vapores que podem ser liberados no processo, se afastar sempre que observar que vapores estão sendo liberados);
3 – Adicionar em torno de 500 ml de álcool etílico de no mínimo 70 % (opcional);
4 - Adicionar 1 L de óleo de cozinha usado (filtrado em pano para retirar qualquer resíduo do processo de fritura);
5 – Mexer de forma contínua por pelo menos 30 minutos (utilizar utensílio de madeira, por exemplo, uma pá de madeira ou cabo de vassoura);
6 - Esperar de 5 a 10 dias para que o sabão se torne sólido.
Obs: tanto a soda quanto o óleo usado são sistemas complexos, o ideal é testar com pequenas quantidades, para avaliar se a receita funcionará nas suas condições. Essa receita rende cerca de 10 barrinhas de sabão.

Receita de velas:
1 - 50 g de parafina. A parafina pode ser retirada de uma vela comum. Quebre em pedaços, preservando o pavio para que fique inteiro;
2 - Coloque a parafina em uma panela em banho-maria, cuidando para que a água não ferva;
3 - Derreter a parafina. Você deve desligar o fogo quando perceber que a parafina está quase toda derretida e continue mexendo até que dissolva totalmente. Você não deve tirar a atenção da panela e deve prestar atenção para que não fique nenhuma parafina na parte externa da panela, pois pode pegar fogo. A temperatura da parafina não deve exceder 70 °C.
4 - Com o fogo já desligado, adicione 50 ml de óleo de cozinha usado (filtrado em pano para retirada dos resíduos). Caso a mistura fique sólida, acenda o fogo novamente, aquecendo a água do banho-maria para derreter a parafina+óleo.
5 - Caso queira a vela colorida, adicione o giz de cera em pedaços pequenos;
6 – Esperar a parafina+óleo+giz de cera esfriar um pouco, entre 60-55 °C, e adicionar uma essência oleosa da sua preferência;
7 – Encerar o pavio com a parafina derretida e secar com papel;
8 – Colocar o pavio centralizado no recipiente com cimento (para fazer o cimento utilize argamassa e água). Despeje no fundo e nas bordas de um copinho de plástico ou em um cano de pvc menor com abertura em um dos lados, unte os moldes com óleo;
9 – Despejar a cera no recipiente, deixar solidificar. Caso ocorra a retração da cera, completar com mais cera;
10- Deixar descansar por pelo menos 24h. Depois é só retirar com cuidado a vela do recipiente.