Quilombo da Arvinha
Quilombo da Arvinha: Uma Luta por Visibilidade e Valorização das Raízes
Otavio Camargo e Julia Vargas
História da África e da Cultura Afro-brasileira | Turma 2025.01 | Curso de História | Universidade de Passo Fundo
Os quilombos no Brasil representam comunidades formadas por aqueles que, durante os períodos colonial e imperial, fugiram da escravidão e se uniram na luta por liberdade. Desde o século XVI, esses locais tornaram-se símbolos de resistência, preservando a cultura afro-brasileira. É importante distinguir entre os quilombos originais, que surgiram durante a escravidão, e as comunidades remanescentes de quilombos, que são formadas por descendentes dos quilombolas pioneiros. Essas comunidades contemporâneas buscam reconhecimento e direitos sobre suas terras, enfrentando desafios significativos. O Quilombo da Arvinha, no norte do Rio Grande do Sul, exemplifica essa luta atual, evidenciando a resistência contínua e a busca por visibilidade cultural.
https://gauchazh.clicrbs.com.br/passo-fundo/geral/noticia/2024/10/decreto-autoriza-desapropriacoes-de-areas-no-territorio-quilombola-de-arvinha-no-norte-gaucho-cm2axkz8900ix013hfapqgvja.html
A comunidade da Arvinha, situada entre os municípios de Sertão e Coxilha, a aproximadamente 300 km de Porto Alegre, abriga 33 famílias em uma área de 388 hectares. A fundação da comunidade remonta a 1889, quando o coronel Francisco de Barros Miranda "vendeu" 77 hectares a Cezarina Miranda, mulher escravizada que teve cinco filhos com ele. Essa prática de atribuir sobrenomes da família aos escravizados era comum na época. O acerto dessa negociação foi formalizado posteriormente, no inventário de Cezarina Miranda, realizado em 27 de julho de 1910. O nome "Arvinha" teria se originado de uma árvore que cresceu em um curral, em uma antiga rota de tropeiros. A história da comunidade começou a ser documentada em 2005, com o registro de terras no INCRA, mas só foi publicada em 2009.
Atualmente, a comunidade busca promover sua cultura e identidade. Em 2017, o projeto Rio Passo Fundo, em parceria com o Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas (GESP) e a Universidade de Passo Fundo (UPF), visitou os quilombos de Arvinha e Mormaça, sugerindo oficinas de capoeira e o fortalecimento de valores culturais, como estampas afro e penteados, incluindo as tranças nagô. Essas tranças, um estilo de penteado africano, serviram durante a escravidão como uma forma de expressão cultural e um meio de comunicação, preservando tradições. As estampas afro evocam a rica tapeçaria da herança cultural africana, frequentemente exibidas em vestuários e adornos.
Apesar dos esforços para promoção da cultura e da educação, a comunidade de Arvinha enfrenta barreiras significativas. A falta de recursos e o apoio financeiro escasso da Prefeitura de Sertão dificultam a realização de oficinas e eventos culturais. Muitos moradores dependem da agricultura familiar, cultivando alimentos e criando animais para consumo próprio. A luta por terras regularizadas continua sendo uma prioridade. Em 19 de setembro de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o Decreto n° 12.186 que destinou 388,7 hectares para a titulação permanente da comunidade. No entanto, essa conquista não marca o fim da jornada, pois o documento não estabelece um prazo para sua implementação, sugerindo que, enquanto alguns celebram uma vitória, para a comunidade é apenas o início de um longo caminho em busca de reconhecimento e valorização. É crucial perceber que a luta por terras quilombolas é um assunto complexo, que vai além da legalização fundiária; envolve a proteção da identidade cultural e a promoção de políticas que defendam os direitos desses povos. A situação do Quilombo da Arvinha não é única, mas reflete um padrão comum em muitas partes do Brasil, onde descendentes de quilombolas enfrentam desafios semelhantes na busca por reconhecimento e direitos sobre suas terras.
Referências
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SENTINELA DOS PAMPAS. O GESP no Quilombo da Arvinha. Disponível em: <http://www.sentineladospampas.eco.br/2018/01/o-gesp-no-quilombo-da-arvinha.html?m=1>. Acesso em: 16 maio. 2025.
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NOTAS
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