Djanira Ribeiro
Djanira Ribeiro
Alexis Taliyah do Amaral Vignochi, Eduardo Gaio, Francisco F. Tres, Rafaela W. Figueiredo
História da África e da Cultura Afro-brasileira | Turma 2025.01 | Curso de História | Universidade de Passo Fundo
VIDA PESSOAL
Nascida em 04 de fevereiro de 1943 em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, filha única de Clodomiro Machado e Almerinda de Jesus Isaías, Djanira Isaias Ribeiro foi carnavalesca, musicista e educadora de destaque. Vinda de família inserida na difusão da cultura negra, era frequentadora do Clube Visconde do Rio Branco desde criança e passou a ter maior protagonismo ao estar à frente da organização do carnaval do Clube. Dedicou-se ao carnaval de Passo Fundo e, posteriormente, ao de Santa Maria, exercendo forte papel de influência. Em 27 de abril de 1963, casou-se com José Leônidas Ribeiro, filho de Odorico Ribeiro e de Clotilde Carvalho Ribeiro. Djanira e José tiveram 4 filhos: Odorico José Ribeiro, Ludmilla Ribeiro, Alexandre Ribeiro e Gustavo Ribeiro.
Djanira cursou o primeiro grau em Carazinho, e o segundo em Passo Fundo, formando-se no curso do magistério. Trabalhou como educadora em diversas escolas de Passo Fundo e região. A convite da direção do Colégio Centenário, mudou-se para Santa Maria, onde ganhou o curso de formação superior na Faculdade Metodista, graduando-se em Espanhol.
Faleceu no ano de 2019, aos 76 anos, deixando um importante legado para a cultura local, em especial, para o carnaval do norte do estado. Enquanto mulher negra, sua figura constitui relevante representatividade aos resistentes contemporâneos da tradição afro-brasileira. Deixa saudades principalmente à sua família e continua sendo relembrada com sua importância cultural com homenagens como: nomeações de rua, artigos, dedicações e exposições, e é sempre lembrada como uma das maiores figuras para a preservação histórica da cultura negra de Passo Fundo.
Dois anos após o seu falecimento, em 2021, um Projeto de Lei de autoria da vereadora Eva Valéria Lorenzato (PT) foi aprovado e posteriormente sancionado pelo Executivo, dando seu nome à uma via pública situada no Loteamento Parque dos Eucaliptos, na Vila Mattos.
ATUAÇÃO
Retornando a Passo Fundo em 2009 para participar da Festa e da Romaria de São Miguel, Djanira idealizou e foi uma das fundadoras da Confraria de São Miguel - Grupo Alforria no ano seguinte, buscando “[...] fazer alguma coisa que possamos contar, relembrar e comemorar a história do descobrimento e da formação da festa” (RIBEIRO, 2009). O grupo tem como objetivo difundir a cultura Afro-Brasileira por meio da história, música e do canto, e segue atuando nos dias de hoje como uma das entidades mais relevantes da identidade afro-brasileira no município de Passo Fundo e na região do Planalto Médio, marcando forte presença na Romaria de São Miguel.
Era muito dedicada ao carnaval de Passo Fundo e Santa Maria, este último onde, por sua enorme influência, foi homenageada com um samba enredo. Passou pelas escolas de samba passo-fundenses Visconde do Rio Branco, Bom Sucesso, Academia do Cohab, Industrial e, ainda, foi a criadora do grupo Sandálias de Prata, tendo assídua participação nos figurinos, na confecção das fantasias, passando pelo enredo, composição e chegando à interpretação dos sambas-enredo. Importando elementos do carnaval do Rio de Janeiro, tido como referência, e trabalhando à frente do Clube Visconde do Rio Branco, Djanira foi uma peça crucial para que o carnaval passo-fundense tivesse um grande avanço estético, impactando os critérios utilizados nas avaliações dos desfiles e popularizando o evento na cidade e região.
Djanira também atuou como educadora da rede pública dos municípios de Três Passos, Campo Novo e Passo Fundo, onde destacou-se em sua carreira como professora efetiva no Colégio Notre Dame. Além disso, integrou um grupo de apoio que, por meio de aulas gratuitas, incentivou a educação de jovens negros de comunidades mais humildes, principalmente mulheres, estimulando-os a ingressarem em universidades.
O CLUBE VISCONDE DO RIO BRANCO
A família de Djanira esteve intimamente ligada à fundação e atuação do clube, que teve relevante contribuição na difusão de culturas como as rodas de samba e o carnaval de Passo Fundo, também servindo de abrigo para negros, que não eram aceitos nos demais clubes “brancos” da cidade.
Sua história teve início em 1912, quando foi organizada a Sociedade José do Patrocínio, a predecessora do Clube Visconde do Rio Branco. Dentro seus fundadores estavam o bisavô paterno de Djanira Ribeiro, Bento Isaías, e dois tios-bisavôs. Por certo período, ficou conhecida pelo nome de Sociedade Cultural Sebastião Braga que, segundo consta a história, foi em homenagem a um palhaço que, em visita a Passo Fundo, sugeriu a criação de uma sociedade para a comunidade negra. A mudança de seu nome para o conhecido Clube Visconde do Rio Branco ocorreu em 1916, cuja primeira diretoria foi eleita no dia 23 de abril do mesmo ano, dia de São Jorge, data oficial de fundação. A sede foi inaugurada em 1932, à rua Morom, n. 2680, e ampliada em 1947; em 1949, teve seu primeiro Estatuto registrado. Ao longo do século XX, teve uma intensa atuação social e participação ativa nas festividades carnavalescas do município — dentre elas, a fundação de uma escola de samba na década de 1950, que deu origem a outras entidades carnavalescas locais.
Identificados: Edi Isaías, Djanira Ribeiro. Na banda: Alegre Corrêa, Guinha Ramires, Adelino, Xoxo Colavin.
Referências
RIBEIRO, Odorico José. Entrevista concedida à Alexis Taliyah do Amaral Vignochi. Passo Fundo, 18 jul. 2025. Disponível em: https://lnk.ink/OQ5Yd.
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CARVALHO, Djiovan Vinícius. “O negro foi mais forte que a dor”: notas sobre festividades e trajetórias negras em Passo Fundo. In: TEDESCO, João Carlos; BATISTELLA, Alessandro; VANIN, Alex Antônio (org.). Capítulos da história de Passo Fundo. Passo Fundo: Acervus, 2022. p. 143 - 170.
MORAES, Matheus. Romaria de São Miguel resgata a história da cultura negra em Passo Fundo. Zero Hora, 23 set. 2023. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/passo-fundo/geral/noticia/2023/09/romaria-de-sao-miguel-resgata-a-historia-da-cultura-negra-em-passo-fundo-clms32m2q002i01672x5e64xz.html. Acesso em: 11 jun 2025.
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DJANIRA RIBEIRO, Um legado ao carnaval de Passo Fundo. Bella Cittá, Passo Fundo, 16 fev. 2023. Disponível em: https://www.bellacitta.com.br/novidades/ver/1109/DJANIRA+RIBEIRO+Um+legado+ao+carnaval+de+Passo+Fundo. Acesso em: 29 maio 2025.
COLUSSI, Zulmara. Djanira Ribeiro é homenageada com nome de rua. Uirapuru, Passo Fundo, 15 jan. 2021. Disponível em: https://rduirapuru.com.br/djanira-ribeiro-e-homenageada-com-nome-de-rua/. Acesso em: 11 jun. 2025.
DE ALMEIDA. Thaiane. Exposição “O Legado de Djanira Ribeiro” segue aberta no MHR. Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, 04 fev. 2020. Disponível em: https://www.upf.br/noticia/exposicao-o-legado-de-djanira-ribeiro-segue-aberta-no-mhr. Acesso em: 13 jun. 2025.
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