Pesquisa e Inovação

Pesquisadores do PPGEdu publicam ensaio em revista europeia

03/06/2020

08:35

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Reprodução

Artigo, publicado na Medicine, Health Care and Philosophy, aborda a ideia hermenêutica da saúde e a noção formativa do tratamento médico dela resultante

Com o tema “Discernimento médico e práxis dialógica: tratamento como cura de si mesmo”, os pesquisadores Dr. Claudio Almir Dalbosco, Dr. Francisco Carlos dos Santos Filho, Dra. Renata Maraschin e Me. Luciana Oltramari Cezar, publicaram um importante ensaio na revista europeia Medicine, Health Care and Philosophy. O artigo pode ser acessado aqui.

Segundo os autores, o ensaio investiga a ideia hermenêutica da saúde e o efeito formativo resultante do tratamento. Em sua primeira parte, com base em alguns textos do filósofo alemão Hans-Georg Gadamer (1900-2002), eles abordam a crescente “tecnologização” das profissões contemporâneas e, especificamente no caso da medicina, o risco de desaparecimento do autotratamento causado por esse processo. Para construir o pensamento, além da medicina, os pesquisadores também levaram em consideração, brevemente, filosofia e a psicanálise, exemplificando os riscos contemporâneos de uma profissionalização cada vez mais especializada. 

Na segunda parte, o ensaio procura fundamentar a ideia hermenêutica da saúde com base em dois argumentos: por um lado, na herança da medicina hipocrática que apoia o ponto de vista de Gadamer e, por outro lado, na práxis dialógica, considerada o núcleo da própria hermenêutica filosófica. Na terceira e última parte, o ensaio mostra que o tratamento médico compreendido em uma perspectiva hermenêutica abre a possibilidade do autotratamento como condição necessária, mas não suficiente para a cura do paciente. Para eles, a práxis dialógica não substitui, obviamente, a eficiência do tratamento técnico-especializado, mas também possui, em certo sentido, o poder de cura na medida em que atua na “alma” dos envolvidos no tratamento, tanto o médico como, principalmente, o paciente.

Dr. Cláudio Dalbosco explica que, em resumo, quando os pacientes são mobilizados pela práxis dialógica da medicina, eles são mais capazes de entender a importância de se submeter ao tratamento, seguindo à risca as prescrições médicas, sendo que é precisamente por isso, então, que o tratamento se transforma em autotratamento. Segundo ele, as ciências médicas, sobretudo a partir do contexto da pandemia do coronavirus, adquiriram uma força social e profissional ainda maior e somente os supersticiosos, agarrados em crenças arcaicas e ultrapassadas, são capazes de duvidar do poder da ciência. 

Para os pesquisadores, esse poder aumentou consideravelmente devido ao desenvolvimento técnico-científico, tornando possível experimentos cada vez mais sofisticados e formas precisas de investigação e controle de doenças. Como consequência, existe um consenso de que o desenvolvimento tecnológico gera enormes benefícios para a humanidade, entre eles, o aumento da expectativa de vida das pessoas e o alívio de muitas dores e muito sofrimento. “No entanto, o aumento da tecnologia na prática médica tem efeitos negativos que devem ser levados em consideração, sobretudo, para a prática profissional e para a educação de médicos. Esses efeitos negativos incluem o esquecimento da concepção clássica de saúde como busca permanente do equilíbrio entre o organismo humano e o ambiente sócio natural, a relação com o meio ambiente; o poder quase sobrenatural atribuído a medicamentos, desconsiderando o papel ativo do paciente (o doente) na recuperação de sua própria saúde”, pontuam os autores.

Por isso, no ensaio publicado, os autores buscaram confrontar os dois aspectos negativos citados com uma perspectiva de saúde mais ampla, argumentando a favor do modo formativo humano de tratamento que resulta de tal perspectiva.