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Dia da ave: UPF abriga mais de 60% das espécies encontradas em Passo Fundo

05/10/2022

08:20

Por: Caroline Lima/Assessoria de imprensa

Fotos: Jaime Martinez

Ações de preservação e conservação da biodiversidade são realizadas de forma permanente em toda a estrutura do Campus I e RPPN da UPF

De diferentes tamanhos e diversas cores, as aves estão por toda parte e chamam a atenção de quem as vê, seja pela beleza das penas, pelo espetáculo sonoro emitido através do canto ou pelo voo que fazem sozinhas ou acompanhadas. Mais do que simbolizar a liberdade, elas desenvolvem um importante papel junto à natureza. Na Universidade de Passo Fundo (UPF) mais de 150 espécies podem ser encontradas por todo o Campus I e nos espaços naturais preservados da Reserva Particular do Patrimônio Natural da Fundação Universidade de Passo Fundo (RPPN/FUPF).

O dia 5 de outubro é lembrado como o Dia da Ave. A história de 54 anos da UPF, é marcada pelo compromisso em oferecer espaços de formação e de construção do conhecimento. Somado a isso, a preocupação em preservar o meio ambiente está na essência da instituição, que mantém um amplo e rico espaço de conexão com a natureza, desenvolvendo ações de ensino, pesquisa e extensão que contribuem para a preservação da biodiversidade e conservação das aves existentes.

Os ambientes do Campus I e dos 32,2 hectares de espaços naturais preservados da RPPN/FUPF, permitem uma riqueza ainda maior de espécies de aves, pois acrescenta ambientes florestais mais evoluídos, ambientes de florestas ciliares ao longo do Arroio Miranda, dando suporte a cerca de 150 espécies entre residentes e migrantes.

“Mais de 60% das aves ocorrentes no município de Passo Fundo podem ser encontradas no mosaico de ambientes da Universidade e da RPPN”, afirma o professor do curso de Ciências Biológicas do Instituto da Saúde da UPF, Dr. Jaime Martinez.

O professor destaca que o Campus I se diferencia por ter o que as mantêm vivas: o ambiente. Com isso, todos os anos o espaço recebe a visita de aves migrantes que vêm de regiões mais ao norte do país, geralmente na primavera e verão, para aqui realizarem sua reprodução, a exemplo da tesourinha (Tirannus savana), o Sovi (Ictinia plumbea), o gavião-tesoura (Elanoides forficatus), o Irré (Myiarchus swainsoni) e o bem-te-vi-rajado (Myiodynastes maculatus). “Locais que abrigam espécies migratórias são de grande importância pois garantem a preservação de espécies que têm parte de seu ciclo biológico anual em regiões distantes, às vezes, até mesmo em outro hemisfério”, ressalta o professor.

Existem também algumas espécies ameaçadas de extinção que frequentam as áreas da UPF, como é o caso do papagaio-charão (Amazona pretrei). “Essa espécie pode ser avistada quase todos os dias ao final da tarde, sobrevoando sobre os ambientes da UPF, no período de julho a janeiro. Eventualmente, o papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) também é observado sobrevoando nesses locais, porém com maior raridade”, destaca Martinez.

Natureza como protagonista

Os ambientes do Campus I e RPPN da UPF constituem um mosaico de áreas de vegetação, algumas naturais e outras implantadas pelo homem, que é composto por áreas de capoeirões, florestas em formação, áreas de regeneração natural, áreas abertas com campos e lavouras, áreas úmidas, lagos, florestamentos e ajardinamentos. “Toda essa diversidade de ambientes possibilita uma grande quantidade de habitats e microhabitats que são utilizados pela fauna silvestre, com destaque em termos de riqueza de espécies para o grupo das aves”, pontua Martinez.

A comunidade acadêmica da Instituição já está acostumada com a presença das aves no campus, que estão presentes em todos os momentos do dia e até mesmo durante a noite, com os voos e vocalizações de aves noturnas, como é o caso das corujas. “É uma sensação muito agradável e reconfortante caminharmos pelo campus e observarmos espetáculos da vida animal proporcionado pelas diferentes espécies de aves, vivendo em seu ambiente natural, demonstrando diferentes comportamentos na busca por alimentos, na construção de ninhos, vocalizando com seus cantos para demarcar territórios e atrair parceiros”, observa o professor.

Ações permanentes de preservação da biodiversidade

Desde 1999 são desenvolvidos na UPF estudos sobre as aves, por meio do projeto denominado Aves da Floresta com Araucárias que tem como área central a Floresta Nacional de Passo Fundo, no município de Mato Castelhano e outras unidades de conservação da natureza da região norte do Rio Grande do Sul, entre elas, a RPPN da UPF. A pesquisa com as aves integra também as atividades do Projeto Charão (AMA-UPF) que, há 31 anos, busca identificar deslocamentos e movimentos migratórios das aves, tempo de vida e aspectos da biologia, ecologia e comportamento das aves. O reconhecimento do projeto pela comunidade rendeu o Prêmio Nacional de Biodiversidade, em 2017.

Técnica do anilhamento para identificação das espécies

Para isso, as aves necessitam ser individualizadas, o que é realizado através da técnica do anilhamento, onde elas recebem uma espécie de anel de metal que é instalado na pata. “Essa anilha contém um código que passa a ser uma marca permanente para cada animal, como se fosse uma carteira de identidade. Assim, no campo, os pesquisadores capturam as aves com redes especiais para o estudo, realizam a identificação da espécie, coletam dados biométricos, instalam a anilha e logo após realizam a soltura das aves no mesmo ambiente onde foi coletada. O trabalho conta com licença do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação das Aves Silvestres (CEMAVE), ligado ao Instituto Chico Mendes de Proteção da Biodiversidade (ICMBio)”, explica o professor Jaime.

Considerando a região como um todo, as pesquisas com o anilhamento das aves somam mais de 6 mil indivíduos marcados, sendo quase 400 somente no Campus I e RPPN da UPF. O professor afirma que a inclusão das áreas da UPF nas atividades ocorreu como uma forma de oportunizar aos acadêmicos o conhecimento e a prática dessa atividade de pesquisa. “Em função da RPPN UPF ser criada em caráter permanente, como determina a legislação para esse tipo de área natural protegida, a estruturação da natureza só tende a melhorar com o tempo, criando cada vez mais novas possibilidades de hábitats para as aves, ampliando a diversidade de espécies”, observa o professor.

Estudantes realizam a captura das aves
para realizar a técnica de anilhamento

No momento, há estudantes de graduação e pós-graduação envolvidos em pesquisas com as aves, principalmente relacionados ao tema de interação animal-planta, avaliando a importância desse grupo animal na dispersão de sementes de várias espécies vegetais, o que é algo importante para a manutenção da linha de pesquisa. “Para o futuro, esperamos que sempre haja estudantes interessados em realizar pesquisas com as aves silvestres, o que será possível se preservarmos os ambientes que elas utilizam para reprodução e alimentação, a exemplo de todo o trabalho que é realizado na UPF e na RPPN”, destaca.

Algumas curiosidades

Ao longo de tantos anos de pesquisas e ações, o professor compartilha uma curiosidade que ocorreu em 2008 em uma aula prática conduzida pela professora Nêmora Pauletti Prestes. “Um fato que chamou a atenção de toda a comunidade científica foi a captura, em pleno campus da UPF, de uma ave que não possuía ainda registro para o Rio Grande do Sul. Com essa captura, o Estado ampliou sua riqueza de aves, incluindo a pequena “Tijerila” (Xenopsaris albinucha) em sua lista”, lembra.

Recaptura da ave conhecida como "Patinho", com 10 anos de idade

Outro fato interessante foi registrado na Floresta Nacional de Passo Fundo, quando ocorreu a recaptura de uma ave de pequeno porte, pesando apenas cerca de 10 gramas, que havia sido anilhada há 10 anos. Devido ao código de identidade gravado na anilha, a pequena ave conhecida por “patinho” (Platyrinhus mystaceus), em função de seu bico largo, deixou evidente que sua longevidade chega, pelo menos, até os 10 anos de idade.

Ao longo de 23 anos de pesquisas, uma das espécies de aves mais capturadas e marcadas pelo Projeto Aves da Floresta com Araucárias foi o cabecinha-castanha (Thlypopsis pyrrhocoma). “Um indivíduo dessa espécie foi capturado anos mais tarde em regiões próximas do litoral do Rio Grande do Sul, realizando um deslocamento até então desconhecido”, comenta o professor.