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Coronavírus: acadêmicos da UPF relatam situações pelo mundo

20/03/2020

16:16

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Arquivos pessoais

Enquanto alguns permanecem nos países para os quais viajaram, outros retornaram ao Brasil

Desde o início do semestre, muitos acadêmicos da Universidade de Passo Fundo (UPF) estão em diferentes lugares do mundo, vivendo a experiência de um intercâmbio. Em função da pandemia de coronavírus, no entanto, muitos tiveram suas aulas suspensas temporariamente, enquanto outros seguem estudando de casa, respeitando as quarentenas impostas em muitos países, para evitar a disseminação do vírus. Alguns ainda, optaram por voltar ao país.

Confira o depoimento de alguns deles sobre a situação nos países onde estão ou onde estiveram nos últimos meses:

Fernanda Luiza Facioli – acadêmica de Medicina Veterinária, 8º nível – Espanha

Estou em León, na Espanha, e aqui há umas duas semanas, começaram a surgir os primeiros casos positivos. As pessoas no início, e eu inclusive, não estávamos muito preocupados, porque eram casos isolados, distantes de onde eu estava. Ainda tudo estava funcionando normalmente. Mas as coisas foram piorando muito rápido, começaram a surgir novos casos a cada dia. Na província de Castilla y León, por mais ou menos uma semana, os casos estavam abaixo da linha dos cem, mas como em todo o resto do país, tudo começou a aumentar muito rápido. Na sexta-feira, dia 13 de março, recebemos a informação de suspensão das aulas. Apesar de sexta-feira a Espanha estar com um número grande casos, ainda estávamos tendo aula, enquanto, por exemplo, Portugal já tinha suspendido. Da sexta para o sábado, a Espanha entrou em estado de alerta e quarentena em todo o território, porque os casos aumentaram muito, eram mais de dois mil casos novos por dia, e é o que vem acontecendo até agora.

Durante a quarentena aqui, não podemos sair para a rua. O comércio inteiro fechou, exceto mercados e farmácias, mas não são todos que estão abertos. Só temos autorização para ir até o mercado ou farmácia, ou quem tem algum documento que o permita fazer esse movimento de ter que se deslocar a algum lugar e retornar para casa, como pessoas que trabalham em empresas que funcionam a portas fechadas. Quem desrespeita a quarentena está suscetível a multas que partem dos 300 euros. Se for uma pessoa que está com a doença, ela pode ter uma pena de um ano de prisão.

Está bem complicada a situação aqui mesmo. No início ninguém imaginava que fosse tomar uma proporção dessas e agora está todo mundo apavorado. Muitos intercambistas retornaram para seus países enquanto ainda dava tempo. Alguns lugares como Madrid ainda têm voos, mas muito reduzido, mas é muito arriscado se deslocar nesse momento. Eu tinha companheiras de apartamento e agora estou sozinha porque elas voltaram para seus países. Alguns intercambistas abandonaram de fato o programa de intercâmbio, não vão voltar, mesmo quando as aulas retornarem. Nós não temos uma projeção exata de quando as aulas vão retornar, porque elas foram suspensas por 15 dias, seria até dia 30, mas essa suspensão vai ser prorrogada até no mínimo depois da Semana Santa.

A universidade está tentando ao máximo trabalhar com o calendário acadêmico que tem, estamos recebendo material para estudo individual, apresentações, algumas matérias estão fazendo videoconferência. Estamos fazendo trabalhos, respondendo alguns questionários, mas todas as práticas estão adiadas. Então, talvez isso leve a necessidade de estender o calendário acadêmico, principalmente por causa das questões práticas. Esperamos que no Brasil seja um pouco diferente, embora as coisas estejam apenas começando, mas eu desejo que no Brasil possa ser diferente daqui porque está bastante complicado.

Vitória Czarnobai – acadêmica de Agronegócio, 7º nível - Argentina

Quando cheguei em Rosário, nem acreditei, me senti uma criança em fase de conhecimento do mundo, porque tudo era novo pra mim e estava ali realizando um sonho, estudar fora do Brasil, conhecer uma nova cultura, costumes, culinária, novas amizades, idioma novo, enfim, um misto de sentimentos inexplicáveis.

Os primeiro dias foram muito difíceis, não conhecia nada, não me comunicava bem com eles, ir no mercado, loja, restaurante era sempre um novo desafio, quase desisti, achei que não ia aguentar, porque era tudo muito diferente, principalmente o jeito que olham quando percebem que você é brasileiro.

Tive uns dois dias bem turbulentos, mas foram passando, arrumei uma residência estudantil de meninas para morar, saí do hotel e fui pra lá, conheci três brasileiras que estão cursando Medicina, e então já me senti como se tivesse em casa.

Os dias se passaram, e a situação do covid-19 começou piorar no mundo inteiro, a Argentina no momento tinha 32 casos confirmados, nove deles eram na cidade em que eu morava, com um milhão de habitantes. No último domingo, à tarde, saíram boatos de que as universidades e escolas iam fechar por 15 dias. E no fim do domingo (15), o governo anunciou quarentena, recomendando somente sair se necessário, para mercado e farmácia, fronteiras fechadas, sem funcionamento de ônibus.

As gôndolas dos mercados esvaziaram ainda antes do meio-dia da segunda-feira (16), comecei me assustar, não sabia o que fazer, se ficava e realizava meu sonho ou se vinha embora pra passar esse momento difícil próximo da minha família.

Na quarta-feira (18), recebi a notícia que as fronteiras iriam se fechar, ninguém mais entrava nem saía do país por nenhum meio de locomoção, foi ai que decidi deixar meu sonho de lado e voltar para o Brasil, próximo de minha família, amigos e esperar toda essa triste situação que nos encontramos hoje passar.

Voltei, triste, por não poder terminar meu intercâmbio, mas feliz pois, esses dias de novas experiências, trouxeram de volta para o Brasil uma nova Vitória.

Nesse momento, me encontro em quarentena, para prevenção de minha saúde e de todos os meus familiares. Precisamos ter muita fé, orar muito e emanar energia positiva pro mundo inteiro, para que possamos sair dessa situação logo.

Andréia Lucca Christmann - acadêmica de Medicina - Austrália

Cheguei na Austrália na quinta-feira e na sexta-feira recebi o e-mail de cancelamento do meu estágio, uma semana antes do início, dizendo que infelizmente eles não poderiam me receber e que eu poderia pegar minha taxa de matrícula de volta. Fiquei um pouco desesperada, fui na universidade e conversei com o pessoal e me falaram que todos os alunos da medicina deles estavam na mesma situação. Tentaram me realocar em outros hospitais, mas todos estão com a mesma conduta e infelizmente não teve como.

A professora Luciane da Assessoria Internacional falou com o Cônsul, conseguimos contato com o diretor do hospital e mesmo com os contatos não teve como solucionar o problema. Tentei estágio com médicos nas clínicas deles, mas não foi bem sucedida, tentei estágio com os paramédicos, também não aconteceu. Cancelaram as aulas de Inglês do meu namorado e eu já tinha decidido voltar, mas ele ia ficar. Mas causou bastante estresse, nessas situações de pandemia que a gente não sabe o que vai acontecer é difícil ficar longe sem saber por quanto tempo, sem saber como vai ficar, mas como cancelaram as aulas dele, ele decidiu voltar.

Tentamos remarcar o voo para o final de semana, mas infelizmente estavam todos lotados, marcamos nosso voo para segunda-feira. A Latam deixou remarcarmos de graça, mas a Quantas que faz o voo até o Chile cobrou 500 Dólares americanos de cada um. Numa semana tínhamos toda viagem planejada, na outra não tinha nada.

Segunda-feira tentaremos voltar, mas já cancelaram nosso voo do Chile para o Brasil, mas até o Chile o voo ainda está confirmado, voltaremos eu, meu namorado e meu irmão, que mora aqui. Apenas minha irmã vai ficar, já que ela já tem uma vida aqui, é casada, tem uma empresa, não tem como voltar, o que é mais uma situação que é ruim.

Vou voltar porque preciso fazer meu estágio e quero ajudar nessa situação de Passo Fundo. O Ministério da Saúde está realocando os doutorandos e a gente vai ajudar no combate do coronavírus. Eu volto, faço uma quarentena e depois começo meu estágio.

Pra quem tá fora do país e tinha uma expectativa diferente para os próximos meses é muito decepcionante, muito frustrante, é um estresse atrás do outro. Cada dia uma notícia nova, cada dia tem que mudar de plano. É uma tensão emocional bem complicada estando fora do país, gastando tudo em dólar, sem saber o que vai acontecer amanhã. 

Larissa do Amaral - acadêmica de Medicina Veterinária - Bélgica

Estou atualmente na cidade de Lummen, na Bélgica, realizando meu estágio final. Estou no meio de toda essa loucura que se tornou o COVID19. Aqui a situação está piorando. Anteriormente as fronteiras por terra estavam abertas, agora não mais. No geral as pessoas têm respeitado as orientações. Aqui eles gostam muito de sair para andar de bicicleta, então o governo tem liberado isso, mas desde que a pessoa esteja sozinha, ou se forem no máximo duas pessoas, tem que comprovar que moram na mesma casa. A população ficou bem assustada pelo número de mortos na Itália.

Caso essa doença se alastre por Passo Fundo, eu gostaria que os acadêmicos se conscientizassem de que não é porque são jovens que não vão contrair a doença ou até mesmo correr risco de vida, e além disso, eles não podem pôr em risco as pessoas que já são consideradas grupo de risco. Também vale lembrar que não é uma questão de dinheiro, pois mesmo tendo dinheiro para pagar uma UTI particular, se os casos crescerem de forma exponencial simplesmente não vai ter leito. Eu estou exaustivamente falando com o máximo de pessoas que eu posso para tentar abrir os olhos e para que tenham noção da proporção que as atitudes deles podem tomar.

Aqui, há duas semanas todas as lojas, bares, restaurantes estavam funcionando normalmente, até que o governo achou por bem instaurar a quarentena parcial, e na última semana tomaram a decisão de quarentena total, assim como Itália e Espanha.