Acontece na UPF

Negacionismos e Revisionismos: o conhecimento histórico sob ameaça

  • 21 a 23/08

  • CET, Campus I, Passo Fundo

O crescimento da polarização no debate político-eleitoral brasileiro colocou o conhecimento histórico no epicentro da agenda nacional. Territórios e temas onde havia certo consenso entre historiadores acadêmicos e amplos setores da sociedade civil, em que pesem as interpretações variadas e debates inerentes à pesquisa científica, foram colocados em xeque, sobretudo pela opinião pública de direita e extrema-direita (mas não apenas). Mesmo historiadores que não fazem parte do meio acadêmico muitas vezes aderem a um revisionismo de natureza puramente ideológica, sob o pretexto de combater a falsidade ideológica e o vitimismo histórico produzidos pelas supostas "narrativas de esquerda" que dominam a historiografia. O resultado é que temas sensíveis com grande acúmulo de conhecimento sistematizado na historiografia de várias tendências teóricas e ideológicas, diga-se, foram colocados na berlinda: escravização de africanos, genocídio indígena na Colônia, golpe de Estado e regime militar, por exemplo, foram simplesmente negados, para perplexidade dos historiadores e da parcela da opinião pública que, independentemente das posições ideológicas, mantinha o debate dentro de termos razoáveis e racionais. Em escala inédita, a sociedade brasileira está conhecendo os efeitos do que se convencionou chamar de negacionismo histórico, que poderia ser definido como a negação não apenas de interpretações dominantes sobre o passado, mas a negação do próprio fato/processo histórico que as gerou (como a negação da existência do Holocausto, por exemplo), por razões puramente ideológicas, frequentemente marcadas por preconceito e racismo. Em torno do tema negacionismo acumulou-se um amplo debate, sobretudo entre aqueles que se destacaram nos estudos e reflexões sobre o Holocausto judeu sob o nazismo. Mas, ao que parece, estamos diante de vários negacionismos (assim mesmo, no plural), não apenas no Brasil, mas em outras partes do mundo, envolvendo sociedades distintas que realizaram, ou não, reflexão e catarse sobre temas sensíveis do passado. Esta questão vem extrapolando as bases da própria relação entre História e memória, cuja convivência tensa, em princípio, não implica na negação de fatos e processos reconhecidos. A proposta desse evento é realizar uma reflexão acadêmica, com as naturais implicações de ordem ideológica, visando trocar reflexões e experiências sobre como os historiadores profissionais brasileiros devem tratar este novo fenômeno. Vale lembrar que a própria natureza de sua difusão, por circuitos que não passam mais pela chancela dos mediadores tradicionais da produção e difusão do conhecimento(universidades, imprensa, mercado editorial e sistema escolar), dificulta o debate e a troca de argumentos. Para os historiadores, afigura-se um impasse: é preciso levar em conta uma perspectiva ética que não dê dignidade científica para os assassinos da memória do campo negacionista, mas ao mesmo tempo não é possível silenciar diante do novo lugar social.

Objetivos

  • Discutir fenômenos recentes que impactam o conhecimento histórico e o pensamento crítico,a partir da temática do Holocausto, referência quando se trata do tema.
  • Analisar como os negacionismos, revisionismos e usos da memória têm se manifestado em distintos países do Ocidente. No Brasil contemporâneo, por exemplo, destacam-se as tentativas de negação do Golpe de 1964, das práticas sistematizadas de tortura durante o regime militar, do tráfico de escravos, do genocídio indígena.
  • Analisar o negacionismo como fenômeno de opinião na sociedade brasileira e suas implicações éticas e culturais.
  • Analisar o negacionismo como fenômeno de opinião em distintas sociedades do ocidente.
  • Mapear as elaborações, argumentos e circuitos de difusão do negacionismo histórico.
  • Refletir sobre os limites éticos e interações epistemológicas entre o revisionismo historiográfico, revisionismo ideológico e o negacionismo.
  • Analisar o impacto do revisionismo ideológico e do negacionismo em temas específicos,ligados ao passado sensível das sociedades.
  • Analisar as tensões e interações entre História e memória social em temas sensíveis do passado, compreendidos como temas que ainda tem impacto na definição do lugar e identidades de grupos sociais amplos.
  • Debater as possíveis consequências de tais negacionismos/revisionismos no presente e suas consequências futuras.
  • Discutir a importância do pensamento crítico, portanto o papel das humanidades em geral, e da História em particular, para as sociedades.
  • Fortalecer o meio acadêmico/historiográfico como lugar de reflexão e de produção de conhecimento histórico, em um contexto de ataque às humanidades, e em especial contra o campo da História.
  • Orientar profissionais e estudantes de História a tratar do tema, a partir da troca de experiências, dentro das regras epistemológicas e metodológicas reconhecidas pela área, bem como seus parâmetros éticos profissionais.

Programação

21/08/2019
ABERTURA
Negacionismos e revisionismos como desafios ao conhecimento histórico: Dra.Ana Luiza Setti Reckziegel
MESA 1: Negacionismo e Escravidão: Dr. Mario Maestri

22/08/2019
MESA 2: Negacionismo e Holocausto: Dr. Adelar Heinsfeld
MESA 3: Negacionismos no campo da história rural: Dr. João Carlos Tedesco e Dra. Ironita P. Machado

23/08/2019
MESA 4: Negacionismos e história indígena: Dr. Tau Golin
MESA 5: Negacionismos das ditaduras militares na América do Sul: Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel e Dr. Alessandro Batistella

Inscrições e investimento

O evento é aberto a estudantes, professores e interessados em geral.
As inscrições terão o valor de R$ 10,00 para estudantes e R$ 30,00 para público em geral.
Inscrições: até 21/08