VIDA

A fase de escrever

A partir de 1964 passa a viver na clandestinidade, com o nome de Samuel Ortiz. Nesse período vive em Santos e em São Paulo, trabalha em inúmeras publicações, abre uma livraria e vende montepios. Inicia-se o que Josué chamava a “fase de escrever”.

 

 

Em 1969 é descoberto pelos órgãos de segurança, responde a inquérito e retorna a Porto Alegre. Sua carreira literária se inicia. Com o pseudônimo de Jericó (mesmo nome que havia no título do livro proibido)  é premiado no II Concurso Nacional de Contos do Estado do Paraná. mais importante prêmio literário da época no Brasil, que já agraciara autores como Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles e Inácio de Loyola Brandão. Os contos premiados “João do Rosário”, “Mãos sujas de terra” e “O princípio do fim” viriam a integrar seu primeiro livro, uma coletânea de contos publicada em 1970, chamada Os ladrões.
Em 1971 retorna ao jornalismo, publicando no jornal Zero Hora a coluna “A volta ao mundo”, na qual se relatam viagens e entrevistas imaginárias de um correspondente, também imaginário, chamado Phileas Fogg (inspirado na personagem de Júlio Verne). Na carreira literária, dá inicio a um projeto que fica inacabado: a trilogia A ferro e fogo. “Tempo de Solidão” é de 1972 e “Tempo de Guerra”, de 1975. A obra trata das dificuldades dos imigrantes alemães chegados ao Brasil no século XIX. A terceira parte, “Tempo de Angústia”, destinada ao episódio dos Muckers, não foi concluída.

Lança em 1973, inegavelmente contaminado pelo realismo mágico latino-americano, a obra Depois do último trem. Em 1974 vai a Portugal cobrir o pós-revolução dos Cravos, quando, ao final do regime ditatorial de Salazar, pode já transitar sem os riscos derivados de suas convicções políticas.

 

 

Retorna em 1976, mas em solo lusitano escreve um livro de crônicas jornalísticas, Lisboa Urgente, Tambores silenciosos, prêmio Erico Verissimo, e É tarde para saber,  clássico de leitura aos jovens. Em 1976, ainda em Portugal, lança o jornal Chaimite, revolucionário experiência jornalística aos portugueses, que saiam de um regime de supressão de liberdade.

 

 

Seguem as publicações de Dona Anja, de 1978 – hilária crítica contra o conservadorismo em tempos de legalização do divórcio no Brasil – e de dois livros de contos, O cavalo Cego e O gato no escuro, respectivamente de 1979 e 1982, a obra a quatro mãos, com Moacyr Scliar, Luís Fernando Verissimo e Edgar Vasques, Pega para kapput!, de 1978, Enquanto a noite não chega, também de 1978, e de seu talvez melhor romance, Camilo Mortágua, de 1980.

 

 

O último grande romance de Josué Guimarães é uma retomada histórica do século XX até 1964.  Deveria ser uma espécie de autobiografia, mas acaba por tornar-se a narrativa de um homem gradativamente alijado do poder em uma sociedade em transformação, da economia agrária à urbana, do patriarcado rural à ditadura militar.

 

 

Em 1981, depois de anos de convivência, realizado o divórcio do primeiro casamento, casa-se Josué Guimarães com Nydia Moojen Guimarães.Na carreira literária publica ainda, em 1983, o texto para teatro Um corpo estranho entre nós, sua única criação dramática publicada. A década de 80, contudo, se inicia com outro projeto: formar leitores.