Pesquisa e Inovação

Estudo inédito aponta presença de mais de 12.500 espécies no Bioma Pampa

03/03/2023

14:34

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Divulgação Assessoria de Imprensa UPF

A biodiversidade da região do extremo sul do Brasil é tema de uma pesquisa que envolve mais de 120 pesquisadores de 70 instituições, incluindo a Universidade de Passo Fundo

Um estudo recém-publicado na revista internacional Frontiers of Biogeography aponta a presença de mais de 12.500 espécies atualmente conhecidas no bioma Pampa, entre plantas, animais, fungos e outros microorganismos. De acordo com a publicação, o bioma, que cobre pouco mais de 2% do território brasileiro, contém 9% da biodiversidade atualmente conhecida do país. Os dados foram compilados por um grupo de 120 pesquisadores, de 70 instituições, entre elas a Universidade de Passo Fundo (UPF). Os resultados servirão de base para discussões sobre a conservação do bioma que atualmente sofre com a rápida destruição dos seus ecossistemas naturais.

O artigo “12,500+ and counting: biodiversity of the Brazilian Pampa” (“12.500 e contando: biodiversidade do Pampa brasileiro”) foi liderado pelo Professor Gerhard Overbeck e os pesquisadores de pós-doutorado Bianca Ott Andrade e William Dröse, do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre. Em um trabalho que levou mais de dois anos, eles, junto com a rede de pesquisadores, construíram uma base de dados de biodiversidade do Pampa e obtiveram resultados surpreendentes. 

William Dröse explica que, para praticamente todos os grupos de organismos, o estudo resultou em números mais altos do que o conhecido ou estimado anteriormente. Já para alguns grupos em especial, como é o caso das algas e fungos, esse número foi muito maior do que se conhecia para a região e proporcionalmente para o Brasil. Os dados também evidenciam uma contribuição especialmente alta do Pampa para alguns grupos de organismos, como aves, mamíferos e abelhas. “Os dados demonstram que o Pampa possui biodiversidade alta não só no grupo de plantas campestres, onde já havia um bom conhecimento antes, mas também em muitos outros grupos”, detalha o pesquisador. 

Os autores do artigo chamam atenção para o fato de que, em nosso mundo sob efeito de mudanças globais, a biodiversidade é um tema de fundamental importância em políticas públicas. Consequentemente, precisa – além da conservação, obviamente – investir em programas de pesquisa sobre biodiversidade, bem como na melhor consideração do tema biodiversidade em currículos escolares. Os dados compilados pelos pesquisadores estão disponíveis online, através da página da revista. A ideia do grupo dos autores é realizar atualizações periódicas da base de dados.

Participação fundamental da UPF
Os professores Dr. Cristiano R. Buzatto e Dr. André Luza, são os representantes da UPF na pesquisa. De acordo com Buzatto, foi por meio dos trabalhos com orquídeas terrestres, iniciado no mestrado, com atividades de campo em formações campestres, que ele se envolveu com a temática do bioma Pampa. Ele destaca que no Laboratório Multidisciplinar Vegetal (Multiveg) do Instituto da Saúde (IS), tem atuado em pesquisas sobre florística, taxonomia, biologia da polinização de orquídeas e outras espécies que ocorrem na região, além do ensino de botânica. Como coordenador do espaço, ele também orienta acadêmicos de diferentes níveis de ensino sobre essas temáticas. 

Para o professor, o conhecimento sobre a biodiversidade é fundamental para traçar estratégias de conservação. Em sua visão, o estudo publicado destaca a biodiversidade deste bioma e o coloca em evidência. “No entanto, o estudo aponta fragilidades na preservação de mais de 12.500 espécies. Entre elas, um número elevado de espécies de plantas ameaçadas de extinção, devido à perda de habitat e a prática de manejo não sustentável. Por outro lado, apresenta dados substanciais para criação de políticas governamentais apropriadas para financiar estudos sobre a biodiversidade, criar e manter bancos de dados de biodiversidade, como herbários e outras coleções biológicas acessíveis e atualizadas, além de considerar a biodiversidade nos currículos escolares e outras atividades de extensão”, frisa.

Buzatto ressalta que a UPF tem papel fundamental neste estudo. Ele pontua que em 2019 o IBGE atualizou as áreas de abrangências dos biomas brasileiros e, atualmente, o Campus I da UPF é dividido entre Bioma Pampa e Mata Atlântica. Com essa nova configuração, ele explica que Passo Fundo e outras cidades da região fazem parte do Bioma Pampa. “No campo acadêmico, é um privilégio para a formação de profissionais de Ciências Biológicas pelo acesso à uma parte da diversidade vegetal de ambos os biomas. Além disso, nossos alunos contam com a possibilidade de realizar estudos florísticos, taxonômicos e biossistemáticos de espécies nativas do Bioma Pampa na nossa região e levar esse conhecimento à comunidade externa, através de atividades de extensão”, observa. 

A UPF conta também com o Herbário RSPF que tem como função guardar e manter os registros da flora regional, nacional e internacional na forma de exsicatas, que é o material vegetal coletado, prensado, desidratado e montado em pranchas que acompanham os dados de coleta. Atualmente, a coleção tem aproximadamente 15.000 exemplares da flora, das quais muitos são registros da região de abrangência da UPF. “Para a comunidade externa, nós fazemos parte deste bioma que por muito tempo era considerado restrito ao sul do Estado. Por ser novo, temos o compromisso de conhecê-lo e nos sentirmos pertencentes também ao Bioma Pampa. Para conhecê-lo, precisamos contar com o fomento de pesquisas e permitir o acesso às informações geradas pela universidade para levá-las ao ensino básico e comunidade em geral. Somente quando conhecemos, podemos preservá-la”, destaca.