Jornada

Felipe Pena além do cânone

15/05/2017

14:41

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Divulgação

Jornalista, escritor e psicanalista comenta sobre sua primeira participação na Jornada Nacional de Literatura em outubro, fala sobre o seu envolvimento com a literatura e revela detalhes da sua nova trilogia

A 16ª edição das jornadas literárias, um dos maiores eventos literários da América Latina, tem como uma das principais características, nesses 36 anos de existência, a inovação. A Jornada Nacional de Literatura acontecerá de 2 a 6 de outubro, em Passo Fundo/RS, e, nesta edição, o palco principal terá, depois de alguns anos, novos coordenadores de debates. Um deles é Felipe Pena, que é escritor, jornalista, psicanalista e duas vezes finalista do Prêmio Jabuti. Com um currículo diverso e posições firmes, Felipe não se importa com opiniões contrárias, na verdade, parece adorar que o contrário apareça, porque, como ele mesmo já disse: “Só não muda de ideia quem não tem ideia”. Além de Felipe Pena, os escritores Alice Ruiz e Augusto Massi também integram a coordenação dos debates da Jornada.


O jornalista, escritor, psicanalista e doutor em Letras, Felipe Pena, é um dos coordenadores de debates da 16ª Jornada Nacional de Literatura


Para um dos coordenadores da Jornada Nacional de Literatura, Miguel Rettenmaier, Felipe Pena é um pesquisador que se interessa pela literatura além dos limites do cânone, ou seja, fora de um padrão estético consagrado. Rettenmaier cita, por exemplo, a obra Geração Subzero, organizada pelo escritor, que reúne uma coletânea de contos de vinte autores que, frequentemente, não são levados a sério pelo restrito mundo dos críticos literários. “É o criador da expressão ‘Geração Subzero’, relativa a escritores que são adorados pelo público, mas esquecidos, ‘congelados’ pela academia e pela crítica. Queríamos alguém com uma visão ampla da estética literária, pluralizada em várias tendências”, ressalta o coordenador.
 
Apesar desse feedback sobre o escritor, Felipe Pena não gosta de se autodefinir. “Não me autodefino, porque são os outros os nossos narradores. Nossa história não nos pertence”, afirmou Pena. Quando perguntado sobre a sua expectativa em coordenar mesas de debate da Jornada de Literatura em Passo Fundo, o autor foi bem direto. “Só quero propor questões que interessem aos leitores. Essa é a missão do mediador. Quando não se cria expectativa, as coisas fluem melhor”, pontua, enfatizando que sempre ouviu falar da Jornada e que cresceu acompanhando os debates e lendo obras de muitos escritores que participaram do evento.
 
Felipe Pena também é um dos autores do Manifesto Silvestre, escrito em 2010, em defesa da narrativa, do entretenimento e da popularização da literatura, com o objetivo de apresentar algumas propostas para a literatura brasileira contemporânea. Nesse sentido, Pena salienta a importância de uma literatura inclusiva. “Escrevemos o Manifesto Silvestre há sete anos, desde lá, mudei algumas posições, mas ressalto que a literatura não pode ser elitista, um discurso para poucos. Escrever fácil não significa escrever de forma superficial. Escrever fácil é muito difícil porque significa a tradução da complexidade. É traduzir conceitos e sentimentos com signos linguísticos. Conceitos e sentimentos que são altamente complexos e, portanto, difíceis de serem expostos em linguagem acessível”, afirma o escritor.
 
O envolvimento do escritor com a literatura começou muito cedo. “Quando eu tinha quatro anos de idade, meu avô espanhol ficava lendo contos galegos e russos, poemas de Rosalía de Castro, contos de Tolstói. Dá pra imaginar? Esse foi meu primeiro contato com poemas e contos altamente complexos. Pela minha própria formação, tudo na minha vida tem a ver com a escrita. Eu vivo de escrever. A escrita é meu pão, como professor, como roteirista, como psicanalista, como romancista, tudo que me sustenta vem da escrita”, declarou Pena.

Nova trilogia
Para este ano, o escritor prepara a trilogia da mídia. Ele foi duas vezes finalista do prêmio Jabuti, nas categorias biografia e comunicação, mas nenhuma vez na categoria romance, embora tenha três publicados, entre eles o Fábrica de Diplomas, que já foi traduzido para o espanhol e alemão. “Agora estou escrevendo esse quarto romance, que é o primeiro de uma trilogia histórica sobre o Brasil”, revela Pena.
 
Cada uma das obras da trilogia abrange um personagem narrador, um período histórico e um tipo de mídia. No primeiro romance, conforme descreve Pena, o período histórico se dá entre o Golpe de 1964 e o Golpe de 2016, narrado por um personagem português que enxerga o mundo através do que passa na televisão.
 
No segundo romance, o período da história acontece entre a Revolução de 1930 e o Golpe de 1964. A história é narrada por um índio e a mídia utilizada como linguagem de visão de mundo é o rádio.  Já o terceiro romance começa no período da Proclamação da República, em 1889, estendendo-se até a Revolução de 1930. A narração é feita por um negro, recém-liberto, e o veículo pelo qual o personagem vê o mundo é o jornal. 
 
Pena afirma que as obras retratam, de certo modo, a forma como as pessoas costumam conhecer a história e as coisas que se passam no mundo. “Os personagens narram esses períodos históricos baseados em um meio de comunicação. Eles veem o mundo pelo meio de comunicação e é assim que acontece conosco: vemos o mundo através da mediação de um meio de comunicação e você sabe que eles manipulam, né?”, provoca o escritor.
 
Ele estima concluir a trilogia em setembro deste ano. Os romances serão publicados pela editora Record.
 
Um pouco mais sobre o autor
Felipe Pena é jornalista, escritor e psicanalista. Iniciou como repórter de televisão na Manchete e também foi comentarista da GloboNews. Fez doutorado em Literatura na PUC-Rio, pós-doutorado em semiologia da imagem na Sorbonne 3 e foi visiting scholar da NYU. Hoje, é professor de roteiro na Universidade Federal Fluminense (UFF), escritor, colunista do Jornal Extra do Rio de Janeiro e apresentador do programa Viva Roda, na web.
 
É autor de 15 livros, entre romances, biografias, crônicas e ensaios sobre comunicação e cultura. Na área da ficção, o escritor publicou três romances pela editora Record: Fábrica de diplomas; O marido perfeito mora ao lado; e O verso do cartão de embarque. Eles formam a trilogia do Campus. “Eles têm em comum o cenário, campi universitários; o personagem principal, o investigador-psicanalista Antonio Pastoriza; a abordagem psicanalítica dos personagens e a narrativa dupla, sempre alternando uma história de amor e uma investigação policial. Mas são muito diferentes no conteúdo, a começar pela própria escolha da abordagem psicanalítica. No primeiro romance, Sandor Ferenczi é o norte teórico. No segundo, avanço com o próprio Freud. E no terceiro minha escolha é Lacan”, comenta Pena.
 
Na área de ensaios acadêmicos, publicados pela editora Contexto e Cassará, o destaque é para o livro No Jornalismo não há fibrose (2013), que foi finalista do prêmio Jabuti. Já na área de crônicas, roteiros e biografias, Pena foi diretor de análise de conteúdo da Rede Globo e, segundo ele, publicou seus piores roteiros no livro Meus fracassos na TV. Também publicou livros de crônicas e a biografia de Adolpho Bloch, finalista do Jabuti em 2011.
 
A Jornada
A 16ª Jornada Nacional de Literatura é realizada pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e pela Prefeitura de Passo Fundo. As Jornadas Literárias renderam à cidade o título de Capital Nacional da Literatura, reconhecida pela lei nº 11.264/2006, e de Capital Estadual de Literatura, pela lei nº 12.838/2007. Nesta edição, além de serem realizadas no Campus I da UPF, as atividades serão estendidas por diversos espaços culturais de Passo Fundo, com ações como o “Projeto transversais: rotas leitoras”, o “Livros na mesa: leituras boêmias” e o “Caminho das artes”.
 
Em 2017, as Jornadas Literárias também homenagearão quatro grandes escritores brasileiros: Moacyr Scliar, Ariano Suassuna, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector, contemplando sua trajetória e as obras que marcaram suas carreiras. Os espaços da Jornada receberão o nome desses escritores. 
 
O Palco de Debates, denominado nesta edição de Palco da Compadecida, ressurge dentro da grande lona, agora denominada Espaço Suassuna. Para comandar as temáticas da Jornada, foram convidados Augusto Massi, Felipe Pena e Alice Ruiz, que mediarão os seguintes debates: “Por elas: a arte canta a igualdade”, “Centauro, pedra, rosa e estrela: Scliar, Suassuna, Drummond, Clarice”, “Monstros e outros medos colecionáveis” e “Literatura e imagem: além dos limites do real”. Entre os escritores confirmados, estão Affonso Romano de Sant'Anna, Bráulio Tavares, Cintia Moscovich, Conceição Evaristo, Julián Fuks, Marina Colasanti, Mário Corso, Michel Laub, Nádia Battella Gotlib, Pedro Gabriel, Rafael Coutinho, Roger Mello e Zeca Camargo.
 
Mais informações sobre a Jornada Nacional de Literatura podem ser obtidas por meio do site do evento (www.upf.br/16jornada). As inscrições estão abertas e devem ser feitas no site da Jornada.