Dissertações defendidas

2020

326 - Título: Migrações, trajetórias, retornos: imigrantes brasileiros no Paraguai (1970-2018)

Autora: Vanucia Gnoatto
Orientadora: Profa. Dra. Rosane Marcia Neumann
Banca: Prof. Dr. Marcos Leandro Mondardo (UFGD) e Prof. Dr. João Carlos Tedesco (UPF)
Data Defesa: 02/03/2020
Resumo: A dissertação analisa as trajetórias migratórias de famílias brasileiras ao Paraguai e o retorno ao Brasil, no período de 1970 a 2018, nos distritos de Santa Rita, Raul Peña, Naranjal e San Alberto, do departamento de Alto Paraná e nas cidades de Foz do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu e Missal, no estado do Paraná, buscando perceber as redes criadas por esses sujeitos ao longo de suas migrações e as variantes ligadas a esses processos migratórios. A partir do estudo das trajetórias migratórias desses sujeitos, é possível afirmar que se trata de um contingente migratório fruto de múltiplas migrações internas no Brasil, acompanhando o avanço da fronteira agrícola, partindo das colônias velhas para as colônias novas no Rio Grande do Sul, avançando posteriormente ao oeste de Santa Catarina e Paraná para, enfim, ultrapassar a fronteira, instalando-se no leste do Paraguai. Outro contingente que se agregou a esse grupo é proveniente do nordeste e do sudeste do país, que partiram do norte do Paraná, instalando-se no mesmo local no Paraguai. O que une os dois grupos é a busca pelo acesso e propriedade da terra. O estudo busca localizar e identificar, em um primeiro momento, a presença de redes migratórias, sejam familiares ou sociais. Em um segundo momento, analisa a inserção e readaptação dos imigrantes brasileiros no local de chegada, via redes associativas e de sociabilidade, e a definição de um elemento de distinção pautado no uso da língua portuguesa. Ainda, a relação dos imigrantes brasileiros com a propriedade da terra e os conflitos agrários, somado ao avanço do agronegócio e uma expansão da fronteira agrícola. Como último ponto, discute-se a permanência do movimento migratório, por meio do retorno de brasileiros do Paraguai, reinstalando-se no oeste do estado do Paraná, as redes criadas por estes sujeitos que possibilitam a migração de retorno. O estudo permite afirmar que o avanço do agronegócio foi o fator central que impulsionou a emigração do Brasil ao Paraguai e, no momento, o mesmo processo está provocando em grande parte do retorno ao Brasil. Ainda, o retorno se dá pela busca de educação, saúde, previdência social, entre outros fatores. Em termos teórico-metodológicos, trata-se de um estudo dos movimentos migratórios contemporâneos a partir do uso da história oral. A tessitura do corpus documental da pesquisa constituiu-se de histórias de vidas, recolhidas entre os imigrantes brasileiros no Paraguai, e os retornados, situados na fronteira entre os dois países.

327 - Título: IMIGRAÇÃO ALEMÃ E CONSTRUÇÃO DOS TEMPLOS RELIGIOSOS: As Igrejas Evangélicas de Confissão Luterana no Brasil, da Paróquia de Tapera/RS

Autora: Tábara Varissa Petry
Orientadora: Profa. Dra. Jacqueline Ahlert
Banca: Profa. Dra. Eloisa Capovilla (Unisinos) e Profa. Dra. Gizele Zanotto (UPF)
Data Defesa: 02/04/2020
Resumo: Entender o processo de substituição das igrejas construídas pelos primeiros colonizadores alemães pelas construções em alvenaria durante o século XX é o principal objetivo da presente pesquisa. Para tanto, usa-se como fonte de estudo a Paróquia da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), localizada na cidade de Tapera – no estado do Rio Grande do Sul. Compõe o escopo do estudo aferir se os princípios do período moderno influenciaram nesta substituição. Ao estabelecerem-se interfaces entre os estilos e técnicas construtivas e as narrativas obtidas através da história oral, expor-se-ão as transformações representadas no sistema construtivo desde sua chegada na região; far-se-á, então, a partir de um olhar histórico e arquitetônico, uma análise comparada das edificações, vistas tanto através dos métodos construtivos, estéticos e de pertencimento a estilos religiosos e suas características culturais, quanto através da adaptação dos grupos em um novo espaço e do processo de mutações decorrentes do contexto histórico que compreende o recorte temporal proposto. São levados em consideração nesta pesquisa os fatores e ações que influenciaram os (i)migrantes alemães luteranos a fazerem escolhas e assimilações de práticas e linguagens diversas daquelas que trouxeram em sua memória. Para analisar a arquitetura vigente dos templos protestantes destas comunidades é necessário seguir um percurso, conhecer os preceitos e diretrizes da religião e a formação da identidade cultural no âmbito de terras pouco conhecidas. Para isso, inicialmente, apresentar-se-ão aspectos da história do luteranismo, das questões de emigração/imigração/migração, seu processo de desenvolvimento e o perfil cultural e identitário dos sujeitos em tela. Nos demais capítulos, a intenção será a de trabalhar a análise arquitetônica técnica e estilística dos estudos de caso, que totalizam oito comunidades. O levantamento de dados sobre a formação das comunidades e construção das igrejas é adquirido por meio de fontes orais, atas e documentos, sendo as fotografias um recurso importante para a análise comparativa. Autores como Yi-Fu Tuan auxiliam para o entendimento da transição da linguagem arquitetônica e os usos do espaço, principalmente o religioso, que cria e consolida uma unidade social através de seu entorno. Os modos e as formas de construção são fontes latentes de representação identitária, como as construções em madeira, que são características do processo (i)migratório. Mais especificamente, perceber-se-á o percurso de transformação vista na arquitetura atual que nos mostra de que maneira a memória histórica, cultural e vernacular se sustenta, permanece ou é esquecida entre construções de mata-junta. Concluir-seá que, na região de estudo, a contribuição do sistema de construção em mata-junta é um símbolo (i)migratório, e, não obstante, constata-se característica não somente a uma etnia, mas, sim, uma forma construtiva própria das (i)migrações alemã, italiana e polonesa, que adaptaram um método simples a um material abundante de sua nova terra e o padronizaram em construções de diferentes usos, criando uma similaridade arquitetônica entre, por exemplo, igrejas e construções residenciais. Pelo seu baixo custo, tanto em material como em mão de obra, e pelas formas simples, este sistema construtivo torna-se popular em áreas interioranas, tendo expandindo aproximadamente até os anos 1980, período em que a madeira se torna material de custo elevado.

328 - Título: A ATUAÇÃO DE DOM DANIEL HOSTIN NO PROCESSO DE RECATOLIZAÇÃO NO VALE DO RIO DO PEIXE (1930-1960)

Autor: Roberto Carlos Rodrigues
Orientadora: Profa. Dra. Gizele Zanotto
Banca: Prof. Dr. José Carlos Radin (UFFS) e Prof. Dr. Adelar Heinsfeld (UPF)
Data Defesa: 08/04/2020
Resumo: A presente dissertação tem como objetivo analisar como se deu o processo denominado “recatolização”, termo dado ao processo de restauração da Igreja Católica no Brasil, na primeira metade do século XX, que promove a sua reestruturação. Recatolização é o termo usado, nesta pesquisa, para conceituar o fenômeno em que os católicos praticantes do chamado “catolicismo popular” são chamados a praticar o “catolicismo romanizado”, que buscava o retorno ao conservadorismo tradicional tridentino e, com isso, promover o fortalecimento dos dogmas católicos contra as práticas do “catolicismo popular” e investidas doutrinárias das demais denominações religiosas. O enfoque do trabalho se deu na atuação do primeiro Bispo de Lages - Dom Daniel Hostin no processo de recatolização, entre os anos 1930-1960, na região da Diocese de Lages – SC. Por meio de várias estratégias, em comum com um programa de pleno alinhamento com a Igreja Universal Católica, Dom Daniel, através de estreitos laços com vários campos da sociedade do oeste catarinense e planalto serrano, buscou implantar e reformar o espírito católico. Para tanto, implementou leis e práticas religiosas, aumentando e incentivando, sobretudo, as devoções à eucaristia, o nacionalismo, a hierarquia católica e o amor e obediência ao Papa. A metodologia utilizada apoia-se em uma revisão bibliográfica em relação ao tema, na realização de pesquisa documental nas atas de visitas e cartas pastorais, comunicados e avisos diocesanos nos arquivos da Diocese de Lages, e, sobretudo, no Livro Tombo da Paróquia de Joaçaba –SC e em outros documentos oficiais da Igreja Católica que contemplaram a atuação de Dom Daniel no período proposto. Foram, ainda, consultados jornais e periódicos que abordam essa temática. O recorte temporal de 1930-1960 se fez necessário pela forte atuação do Bispo Dom Daniel no governo diocesano nesse período, que pôde ser considerado de suma importância para o avanço institucional da Igreja Católica na mesorregião Oeste Catarinense. Focaliza-se neste trabalho a relação Igreja e Estado, principalmente no período imperial; as relações de poder entre o clero e as elites locais da mesorregião Oeste Catarinense e Planalto Serrano, no período proposto pela pesquisa; a relação da hierarquia eclesiástica com os fiéis leigos; o poder simbólico, proposto por Bourdieu; a analogia do pêndulo, proposta por Ivan Manoel. A pretensão dessa pesquisa é contribuir na discussão sobre o processo de recatolização na região estudada, sem esgotar o assunto, servindo como instrumento para futuras pesquisas sobre essa temática.

329 - Título: QUEM É QUEM? A ELITE POLÍTICA PASSO-FUNDENSE (1945-1988)

Autor: Luiz Alfredo Fernando Lottermann
Orientador: Prof. Dr. Alessandro Batistella
Banca: Profa. Dra. Marluza Marques Harres (Unisinos) e Profa. Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF)
Data Defesa: 30/04/2020
Resumo: O presente trabalho analisa, através do método prosopográfico, a elite política do município de Passo Fundo entre os anos de 1945 e 1988. Para traçar o perfil coletivo da elite política municipal, são aferidas as idades, o gênero, as profissões, a etnia, a naturalidade e a formação superior dos prefeitos e vice-prefeitos, e dos vereadores eleitos e suplentes que assumiram o mandato na Câmara de Vereadores do município em algum momento das legislaturas. Como fontes, são utilizados os jornais Diário da Manhã e O Nacional, e a publicação Galeria de exvereadores de 1947 a 1988, além de documentos disponíveis no Arquivo Histórico Regional, na Câmara de Vereadores de Passo Fundo, na Prefeitura Municipal e dados disponibilizados pelo TRE-RS sobre as eleições no Rio Grande do Sul. Discute-se o processo de abertura política durante a crise que leva à queda do regime ditatorial do Estado Novo, comandado por Getúlio Vargas, e o surgimento do sistema pluripartidário, dos partidos políticos nacionais, e sua organização no Rio Grande do Sul e em Passo Fundo, entre os anos de 1945 e 1964. Bem como, após o golpe civil-militar de 1964, busca-se analisar o reordenamento da estrutura política do país durante a ditadura, os efeitos do Ato Institucional nº II no município e o surgimento do sistema bipartidário, que leva ao realinhamento das lideranças políticas locais em torno da ARENA, partido de sustentação do regime ditatorial, e do MDB, de oposição vigiada. Do mesmo modo, é abordado o processo de transição, a partir de 1979 e o restabelecimento da democracia ao final da ditadura militar iniciada em 1964. Trata-se também dos resultados eleitorais a nível nacional e estadual, nas cinco eleições ocorridas durante o período democrático e nos cinco pleitos que aconteceram durante ditadura militar, além disso o desempenho dos candidatos e forças políticas na disputa pelo poder e dos representantes locais nas esferas nacional e estadual.

330 - Título: CARTAS, FAVORES, FAMÍLIA E PODER: A TRAJETÓRIA E O EPISTOLÁRIO DE UM COMERCIANTE PORTUGUÊS NO RIO GRANDE DO SUL (1851-1916)

Autor: Djiovan Vinícius Carvalho
Orientadora: Profa. Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel
Banca: Prof. Dr. Paulo Roberto Staudt Moreira (Unisinos) e Profa. Dra. Gizele Zanotto (UPF)
Data Defesa: 30/07/2020
Resumo: A renovação historiográfica ocorrida no Brasil, a partir da década de 1980, alicerçada na inserção de novas possibilidades teóricas, metodológicas e a utilização de diversificadas fontes históricas, juntamente com a “reinserção” dos indivíduos na história, permitiu a ampliação dos estudos biográficos, muitas vezes, a partir de seus documentos pessoais. Portanto, esta pesquisa propõe-se a acompanhar o “fazer-se” de um indivíduo específico, seguindo o conjunto de ações desempenhadas por ele, visando compreender sua inserção social, práticas relacionais e aspirações, a partir de correspondências preservadas em seu epistolário. Trata-se do comerciante português Antonio da Silva Vasconcellos, que imigrou em 1850, fixando residência, inicialmente, no Rio de Janeiro. Dez anos depois, Vasconcellos migrou para a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, residindo e construindo vínculos sociais, sobretudo, nas cidades de São Gabriel e São Vicente. Assim, objetivou-se compreender certas práticas sociais, de ordem econômica, política e social, no interior do Rio Grande do Sul, a partir da construção de redes e vínculos e da ascensão ou manutenção de posições sociais, por meio do levantamento, leitura e análise de seu epistolário pessoal, examinando as missivas qualitativa e quantitativamente, juntamente ao cotejo de outras fontes documentais. O estudo buscou reconstituir a história de vida de Vasconcellos e, consequentemente, parte do tecido social no qual ele estava inserido. Dessa maneira, constatou-se que as cartas pessoais se configuram como fontes privilegiadas por reunirem informações que permitem a compreensão de determinados contextos históricos, por meio da leitura da troca de favores, pactos e relacionamentos, profissionais e afetivos, entre diversos indivíduos, sendo a escrita epistolar uma prática eminentemente relacional. Ademais, concluiu-se que o comerciante português Antonio da Silva Vasconcellos, manejou, ao longo da vida, estratégias para ascender social, econômica e politicamente, utilizando-se de recursos e contatos para seu favorecimento e diferenciando-se de seus contemporâneos por ter tido parte de seu cotidiano preservado em suas correspondências.

331 - Título: Muito além de Leonel Brizola: a encampação e a desapropriação da AMFORP em Porto Alegre (1959)

Autora: Lauren dos Reis Bastos
Orientadora: Profa. Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel
Banca: Prof. Dr. Cláudia Musa Fay (PUCRS) e Prof. Dr. Felipe Cittolin Abal (UPF)
Data Defesa: 06/08/2020
Resumo: Essa dissertação tem como objetivo estudar as circunstâncias que envolveram a encampação e a desapropriação da American & Foreign Power Company (AMFORP), ocorrida em 1959, através da perspectiva entregue pela fonte judicial do processo 7606, que tramitou no Foro Central de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A AMFORP era uma companhia concessionária de energia elétrica radicada nos Estados Unidos, que veio a se instalar no Brasil em 1927 e no estado sul-rio-grandense em 1928, gerando e distribuindo energia para a capital. Durante o período que desenvolveu sua atividade empresarial, a companhia foi acumulando atritos com políticos, industriários e demais consumidores, tendo sua atuação questionada a partir de 1939, quando o prefeito Loureiro da Silva manifestou insatisfação com as cláusulas contratuais firmadas para a concessão. Contudo, a questão somente ganhou desenlace no governo estadual de Leonel Brizola, a quem ficou associada a iniciativa de encampação quando, em realidade, a mobilização para retomada do serviço foi anterior. Objetiva-se agregar diversa perspectiva aos estudos existentes sobre o tema, a qual consiste em trazer para o cenário dos acontecimentos o que se desenrolou no âmbito do Direito, a partir da análise da fonte judicial. Nesse sentido, o estudo aborda a precedência da companhia estadunidense, suas características de origem e estratégias elaboradas para expansão e investimento internacional, que em conjunto com as idiossincrasias nacionais, permitiram-na transformar o incipiente mercado brasileiro em um dos seus negócios mais rentáveis. Igualmente, apresenta as características contratuais e estatutárias que a firmaram em Porto Alegre, bem como os efeitos que a lei brasileira teve na atividade da companhia. O contexto histórico no qual se desenrola a encampação remete ao antagonismo entre duas propostas de poder, a saber o nacionalismo e o imperialismo. As fontes utilizadas na pesquisa conduzem ao processo n° 7606 para a desapropriação dos bens da companhia, depositado no Memorial do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, muito embora seu local de guarda seja o Arquivo Central desse mesmo órgão. Essa é a fonte principal que dá o substrato para a análise da encampação, contrapondo a reprodução da narrativa de Leonel Brizola e revelando questões fundamentais para a compreensão da desapropriação da companhia estadunidense. A fim de articular os elementos de História e Direito presentes na dissertação, elegeu-se com método uma abordagem hermenêutica e qualitativa, que desvelará os aspectos relacionados à indenização, aos argumentos da defesa, recursos, provas e os contrastes entre as decisões produzidas nos gabinetes. A partir de uma interpretação sistêmica, onde foram incluídas as legislações, o cenário político e o crescente discurso anti-imperialista, foi possível atingir o resultado que revelou as especificidades existentes na encampação e desapropriação da AMFORP, bem como sua trajetória nos trinta anos de atividade em Porto Alegre.

332 - Título: OS KAINGANG DE CACIQUE DOBLE E A POLÍTICA INDIGENISTA DO SERVIÇO DE PROTEÇÃO AOS ÍNDIOS: TRABALHO, EDUCAÇÃO E INTEGRAÇÃO (1941-1967)

Autor: Alex Antonio Vanin
Orientador: Prof. Dr. João Carlos Tedesco
Banca: Prof. Dr. Humberto José da Rocha (UFFS) e Profa. Dra. Rosane Márcia Neumann (UPF)
Data Defesa: 03/09/2020
Resumo: O presente estudo visa contemplar, como tema principal, a política indigenista do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) aplicada durante o período de 1941 a 1967, em uma experiência específica de sua implementação entre os Kaingang do Posto Indígena de Cacique Doble, este localizado numa porção territorial que compreende, atualmente, parte das regiões Norte e Nordeste do estado do Rio Grande do Sul. O problema de pesquisa está centrado em compreender os desdobramentos dessa política em torno das alterações decorrentes de sua implementação entre os Kaingang de Cacique Doble, especificamente nos âmbitos das relações sociais, de trabalho, de produção e de relacionamento com a terra e os conflitos que compuseram essa realidade. A fontes utilizadas são compostas principalmente pela documentação do SPI referente ao Posto Indígena de Cacique Doble, fontes bibliográficas acerca da região onde esteve inserido, bem como documentos institucionais do órgão federal e dos ministérios ao qual esteve subordinado. Intenta-se compreender os aspectos da estruturação do projeto de integração indígena, nesse período em que os objetivos da ação indigenista são reorientados e adquirem feições correspondentes às mudanças que ocorrem no desenvolvimento da produção econômica nacional, com a adoção do desenvolvimentismo como modelo de crescimento econômico. O SPI torna-se o condutor dessa nova orientação econômica, que se materializou na ação indigenista através do objetivo de formação de trabalhadores rurais produtivos. Em torno disso, a ação do SPI buscou fixar o Kaingang à terra e delimitar sua territorialidade ao espaço definido pelo órgão federal, com vistas de elevá-lo à condição pretendida de trabalhador rural, passível de alcançar sua emancipação da tutela estatal. Em simultâneo, intentou-se integrar os indígenas a partir da introdução de um sistema educacional que visou a nacionalização dos Kaingang por meio da sobreposição de sua língua vernácula, de costumes e pela inserção de ritualizações voltadas ao culto à nação. Portanto, o SPI, no que concerne às práticas aplicadas no Posto Indígena de Cacique Doble, buscou redefinir a organização social e espacial indígena através do trabalho e da educação, instituindo para ambas as frentes uma disciplinarização rígida pautada em um regime de punições, que, contudo, antes que ser aceito passivamente pelos Kaingang, enfrentou a resistência indígena a esses processos integrativos.

333 - Título: A GUERRA E A CONSTRUÇÃO DOS INIMIGOS DO OCIDENTE NAS FRANQUIAS DE JOGOS DIGITAIS: BATTLEFIELD, CALL OF DUTY E MEDAL OF HONOR (2007-2012)

Autor: Ruggiero Moreira
Orientador: Prof. Dr. Felipe Cittolin Abal
Banca: Prof. Dr. Luís Carlos dos Passos Martins (PUCRS) e Profa. Dra. Jacqueline Ahlert (UPF)
Data Defesa: 04/09/2020
Resumo: No final do século XX foi possível observar o nascimento dos jogos digitais, uma mídia caracterizada pela interatividade entre o aparelho e o operador, relação traduzida pelo conceito de jogabilidade. Com sua vasta diversidade de gêneros e mecânicas, os jogos digitais conquistaram cada vez mais espaço na sociedade ocidental, fator que se torna perceptível a partir do início do século XXI com o grande crescimento da indústria dos jogos digitais, que se consolidaram como um produto que carrega valor econômico e simbólico. Para analisar os jogos digitais, é necessário compreendê-los como produtos que carregam uma duplicidade inerente a eles, são “jogos” inseridos na mídia de comunicação de massa. Logo, temos de analisa-los em um primeiro momento como jogos, observando sua construção cultural e os conceitos relacionados a este fenômeno, em um segundo momento, temos de compreender como eles estão inseridos no mercado mundial de comunicação de massa como uma mídia que utiliza os seus recursos (áudio, visual e interatividade) para a construção de suas narrativas. Entre as diversas categorias de jogos, uma das que irá se destacar no mercado será a dos First Person Shooters (FPS). Voltados para a temática de guerra, os FPS, desde seus primórdios, utilizaram eventos e conceitos históricos como pano de fundo de seus jogos, sendo recorrente a utilização da Segunda Guerra Mundial como um dos principais temas das suas narrativas. Um fator que é de suma importância para o sucesso dos jogos que utilizam a Segunda Guerra Mundial como temática, é o fato da construção de “mocinhos” e “bandidos” nas representações. A partir do início de 2002 até 2015, o mercado de videogames, vislumbrou um crescente lançamento de jogos com temáticas que tinham como pano de fundo a guerra no século XXI, também chamada de “guerra moderna”. Tal mudança de paradigma se deu após os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 e a declaração da “Guerra ao Terror” pelos Estados Unidos da América. Como um produto cultural, os jogos digitais, constroem suas representações pela e para a sociedade a qual estão inseridos, assim, a visão da “guerra moderna” e dos “novos inimigos do Ocidente” se dá através de uma visão ocidental e de um produto criado por ela. Pretendemos, portanto, compreender de que forma os jogos das franquias Call of Duty, Battlefield e Medal of Honor constroem a imagem sobre a guerra no século XXI e seus agentes tanto as “forças do ocidente” quanto seus inimigos.

334 - Título: A atuação dos bombeiros na Guerra dos Farrapos (1835-1845): agentes de informação e redes de espionagem

Autora: Santa Giovana Mendes Giordani
Orientador: Prof. Dr. Alessandro Batistella
Banca: Prof. Dr. José Iran Ribeiro (UFSM) e Prof. Dr. Luiz Carlos Tau Golin (UPF)
Data Defesa: 25/09/2020
Resumo: A presente pesquisa se destina a tratar das atividades desenvolvidas pelos agentes de informação durante a Guerra dos Farrapos no período de 1835-1845. Sendo assim, o espaço de estudo será a Província de Rio Grande de São Pedro, criada em 28 de fevereiro de 1821. Estes agentes de informação são denominados de espias, bombeiros e vaqueanos. Que durante toda a guerra, operacionalizaram-se numa rede de espionagem que ocupou todo o conflito. Ao longo de quase dez anos de guerra, as duas forças divergentes, deslocaram uma rede de agentes sobre os principais pontos da província. Os rebeldes foram os primeiros a montar uma rede de espionagem no sentido de mover-se em campo aberto. Com o tempo, os imperiais passaram a trabalhar com essa estratégia de guerra. Os informantes atuavam em localidades satélites e estrategicamente localizadas. Eram incumbidos de informar os oficiais e demais comandantes acerca dos preparativos militares desenvolvidos na província. Esses agentes informavam as posições exatas das forças inimigas, os preparativos militares, além de, quando possível, as futuras movimentações. Infiltravam-se algumas vezes, no corpo do exército inimigo e suas informações facilitavam as previsões ofensivas e defensivas, lançando patrulhas de reconhecimento e observação. Desta forma, tais agentes de informação tiveram papel importante para as estratégia militares, tanto dos farrapos quanto dos imperiais. Devemos considerar que e em tempos de guerra a rede de espionagem aumentava, e com isso a confidencialidade das atividades desenvolvidas pelos agentes de informação. Assim sendo, lidamos com a natureza discreta dessa atividade, sendo ela essencial, para estabelecer as relações de reciprocidade e confiança entre comandante e comandado. Tais relações instituídas na província expressam as hierarquias sociais e as relações de poder da sociedade sulina. Contudo e de forma geral a função dos espiões, era a de coleta e repasse de informações, informações estas que deveriam chegar de forma modesta e confiável às autoridades superiores e das quais pretendemos mapear.

335 - Título: HISTÓRIA, IMPACTOS E RUPTURAS: O USO COMERCIAL NAS EDIFICAÇÕES DA REGIÃO CENTRAL DE CRUZ ALTA (1970-2020)

Autora: Monique Villani
Orientador: Prof. Dr. Gerson Luís Trombetta
Banca: Profa. Dra. Eloisa Helena Capovilla da Luz Ramos (Unisinos) e Profa. Dra. Jacqueline Ahlert (UPF)
Data Defesa: 09/11/2020
Resumo: O trabalho discorre sobre um conjunto de quatro vias da Rua Pinheiro Machado, na cidade de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. Situado entre as Praças General Firmino de Paula e Érico Veríssimo, é um espaço de importância histórica e social para a cidade por ser uma das primeiras ruas a compor sua malha urbana. Ao longo dos anos, passou por transformações em seus aspectos espaciais, devido às intervenções realizadas nas edificações para o desenvolvimento de práticas comerciais. O trabalho tem o intuito de fortalecer o diálogo e avaliar os conflitos dessa relação entre espaço, arquitetura, intervenções, identidade e memória. Apresentam-se caracteres históricos, políticos e urbanísticos que, de modo geral, esclarecem a composição desse espaço e de sua paisagem urbana, adotando-se uma postura plástica visual. A problemática se encontra na forma como as intervenções arquitetônicas externas, as mídias e as propagandas são aplicadas às edificações como consequência da comercialização intensiva no local. Isso faz com que se sobressaiam às construções e acabem por dar uma identidade desconhecida a esse espaço, o que se reflete na memória urbana. A pesquisa também transcorre brevemente sobre a história de Cruz Alta, o desenvolvimento de sua morfologia, lugares e elementos identitários, assim como alguns dos principais estilos arquitetônicos presentes nas edificações do centro da cidade e entorno. Também avalia como tais espaços são dominados pela especulação imobiliária e pela alta comercialização. A fundamentação teórica tem base em autores como Rossi (1998) e Jacobs (2000), abordando a utilização das áreas urbanas e as transformações ocorridas nas cidades no que diz respeito ao espaço e à memória. Carlos (2007) retrata a cidade como espaço a explorar, visando ao capital financeiro, ao comércio e à economia, quando esses passam a ser fatores dominantes. Cavalari (2011) retrata a história de Cruz Alta e alguns de seus elementos identitários como base de sua formação histórica. Complementando as fontes de pesquisa, alguns periódicos, artigos e trabalhos acadêmicos foram abordados. No que se refere à área em estudo, foram realizados levantamentos técnicos, descrições e observações. O espaço apresenta um misto de elementos em sua composição - fatores históricos, sociais, culturais, econômicos, arquitetônicos -, que fazem com que tenha uma identidade única. Destaca-se sua transformação ao longo dos anos e sua resiliência às ações impostas ao espaço. Mesmo que algumas de suas características essenciais tenham sido alteradas, permanece sua grande representação identitária para a cidade de Cruz Alta, motivo do reconhecimento de seu papel social.

336 - Título: As transformações socioambientais provocadas pela modernização da agricultura no norte do Rio Grande do Sul: 1960-1990

Autor: Marcos Paulo de Oliveira Junior
Orientador: Prof. Dr. Marcos Gerhardt
Banca: Prof. Dr. Miguel Mundstock Xavier de Carvalho (UFFS) e Prof. Dr. Jaime Martinez (UPF)
Data Defesa: 03/12/2020
Resumo: O processo de modernização da agricultura na região recortada para estudo intensificou-se a partir da década de 1960 com a forte intervenção do Estado e a adoção de um pacote tecnológico disseminado em algumas partes do mundo. Com os créditos rurais subsidiados, incentivos econômicos e investimentos em estrutura e transportes, a região passou a ganhar notoriedade em razão do desenvolvimento agrícola. Ao longo desse processo, perceberam-se diversos impactos ambientais relacionados à desmatamento, à degradação e à contaminação do solo, dos recursos hídricos e do ar. Também se observaram impactos socioeconômicos, tais como o êxodo rural, a diminuição da oferta de emprego no campo, o aprofundamento das desigualdades sociais, o crescimento descontrolado das cidades, o desenvolvimento da economia e dos municípios, dentre outros. Nesse contexto, o presente trabalho procura entender quais são os impactos ambientais e socioeconômicos mais significativamente relacionados com a expansão da modernização da agricultura. A pesquisa busca compreender as transformações socioambientais, introduzidas pela modernização da agricultura no Norte do Rio Grande do Sul, onde atualmente se encontram os municípios de Carazinho e Não-MeToque. Esse recorte regional está articulado com o processo global de transformações da agricultura e precisa ser compreendido nesse contexto. O recorte temporal começa um pouco antes do auge da modernização da agricultura na região, que ocorreu por volta de 1960 e se estendeu até os anos de 1990. A pesquisa emprega os referenciais conceituais e metodológicos da História Ambiental e utiliza como fontes: mapas de agrimensores, material iconográfico, jornais e também fontes orais, tais como: testemunhos de engenheiros agrônomos, madeireiros e agricultores que vivenciaram tal processo de modernização da agricultura. Conclui-se, preliminarmente, que as principais mudanças socioambientais foram o desmatamento para abertura de novas áreas agrícolas e a contaminação do meio ambiente pelo uso de agroquímicos, êxodo rural entre outros. Nessa perspectiva, percebe-se que, por um lado, a modernização agrícola que gerou crescimento econômico, renda, melhorias estruturais e desenvolvimento não impediu, por outro, a geração de impactos ambientais significativos para a região em estudo.