Cultura

Verdade ou mentira? Como identificar as notícias falsas em pesquisas arqueológicas

28/06/2022

10:31

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: H. Prümers / DAI via Nature

Após pesquisa divulgada sobre as descobertas de novos sítios arqueológicos na Amazônia, uma onda de desinformação ganhou a internet com a falsa história da “cidade perdida de Ratanabá”

No dia 25 de maio, uma pesquisa publicada na revista Nature revelou um estudo que pode mudar a história sobre o povoamento na América do Sul. A pesquisa localizou dois sítios arqueológicos na Planície Llanos de Mojos, na Amazônia Boliviana, com pirâmides de até 22 metros e “assentamentos urbanos de baixa densidade”, segundo os pesquisadores. Duas áreas da cultura Casarabe foram descobertas, que datam entre os anos de 400 d.C. até 1400 d.C, ou seja, antes da colonização espanhola.

Porém, várias teorias começaram a viralizar na internet. A história da cidade perdida de “Ratanabá”, de 450 milhões de anos, cheia de riquezas, pedras preciosas, com túneis subterrâneos e toda uma arquitetura nunca antes vista na humanidade, ganhou o mundo on-line. Mas esses relatos, entretanto, não estão na divulgação da pesquisa alemã e geraram uma onda de desinformação sobre o tema.

O arqueólogo e colaborador do Programa de Pós-graduação em História da Universidade de Passo Fundo (PPGH/UPF) , Fabrício Vicroski, explica como a falta de informação sobre a área parte, muitas vezes, de uma divulgação sensacionalista. “A arqueologia é uma ciência com a qual a maioria dos brasileiros tem pouca intimidade. A questão é que a falta de conhecimento sobre o ofício do arqueólogo e a arqueologia brasileira é extremamente prejudicial para a comunidade científica e, principalmente, danosa ao patrimônio arqueológico nacional”, ressalta. 

Como identificar o que é falso

Para não cair em notícias falsas, Vicroski aponta cinco métodos para verificar a veracidade sobre as descobertas arqueológicas, como é o caso da pesquisa na Amazônia:

Verificar se a pesquisa foi autorizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) 

No Brasil, o patrimônio arqueológico é considerado Bem da União. Todas as pesquisas arqueológicas desenvolvidas em território nacional precisam observar uma série de critérios e procedimentos em etapa prévia à execução dos estudos. As permissões de pesquisa são publicadas através de Portarias no Diário Oficial da União (DOU). A portaria traz informações como o nome do arqueólogo responsável pela pesquisa, título do projeto, localização, instituição apoiadora e prazo de validade da autorização. Qualquer escavação ou coleta de vestígios arqueológicos que não tenha a autorização prévia do IPHAN é inequivocamente ilegal.

Os interessados podem buscar as informações diretamente na página do DOU ou entrar em contato com o IPHAN para solicitar informações. As dúvidas podem ser encaminhadas para a sede do IPHAN em Brasília (faleconosco@iphan.gov.br) ou para as Superintendências Estaduais.

Verificar quem é o(a) arqueólogo(a) responsável pela pesquisa

A profissão de arqueólogo foi regulamentada através da Lei nº 13.653, de 18 de abril de 2018, estabelecendo os critérios necessários ao exercício da profissão. Em geral, os pesquisadores reconhecidos como arqueólogos possuem formação em arqueologia ou áreas correlatas, além de publicações científicas e também autorizações de pesquisa já publicadas no DOU. Por vezes, uma simples pesquisa em buscadores na internet pode mostrar se o pesquisador atende ou não os critérios estabelecidos pela lei.

Verificar qual é a instituição apoiadora da pesquisa

Todas as pesquisas arqueológicas executadas legalmente em território nacional precisam contar com o apoio de uma instituição devidamente reconhecida e cadastrada junto ao IPHAN. Em geral, são museus, universidades e laboratórios de arqueologia que possuem as condições adequadas para o armazenamento dos vestígios arqueológicos. Todo o acervo resultante da pesquisa ficará sob a guarda da instituição parceira, onde poderá ser pesquisado e utilizado em exposições, atividades educativas e demais ações voltadas à população em geral. Para conferir a idoneidade da instituição, é possível acessar e pesquisar sobre ela no Cadastro Nacional de Instituições de Guarda e Pesquisa (CNIGP).

Verificar qual o conhecimento já disponível sobre o sítio arqueológico em questão

A legislação brasileira exige que os resultados das pesquisas arqueológicas sejam divulgados não somente no meio acadêmico, mas, também para a população em geral. A respeito da possibilidade de descobertas ainda inéditas, em geral trata-se de povos e culturas sobre os quais já há um conhecimento mínimo. As descobertas com teor sensacionalista em geral estão desconectadas do conhecimento científico. Portanto, buscar referências prévias em livros, artigos e demais publicações de caráter acadêmico e científico, é uma forma de identificar a veracidade da descoberta.

Verificar a posição dos demais pesquisadores e comunidade científica

O conhecimento se constrói de forma coletiva e as hipóteses e teorias são avaliadas e testadas no rigor do método científico. As descobertas são ainda amplamente debatidas dentre os pesquisadores. Então, a comunidade científica é uma fonte idônea para emitir opiniões sobre quaisquer discussões que envolvam o patrimônio arqueológico brasileiro. Nesse sentido, buscar a opinião dos demais arqueólogos, além de universidades, laboratórios de arqueologia e sociedades científicas, seja em matérias sobre um estudo específico, é um meio de verificar as informações sobre as descobertas arqueológicas.

Mudança olhando para o futuro

As ações de conscientização sobre a importância do patrimônio arqueológico devem ser voltadas, sobretudo, para as crianças, conforme explica Vicroski. “Elas possuem um alto potencial de apreensão e difusão dessas informações, além de serem potencialmente os futuros promotores das ações de preservação e valorização do patrimônio arqueológico nacional”, pontua.

Quer saber mais? 

Com apoio do Núcleo de Pré-História e Arqueologia (NuPHA) foi desenvolvida uma cartilha com o objetivo de difundir informações sobre Arqueologia do Rio Grande do Sul para crianças na faixa etária entre 10 e 12 anos.