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“Sabemos que venenos não se conservam nos corpos”

27/09/2019

17:48

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Natália Fávero

Declaração é do antropólogo e arqueólogo José María Mazz, que trabalhou na exumação do cadáver do ex-presidente João Goulart

O antropólogo e arqueólogo José María Mazz, que é uruguaio, revelou que a exumação feita no corpo do ex-presidente João Goulart, em 2013, não detectou indícios de envenenamento. No entanto, não é possível descartar possibilidades, já que venenos não se conservam nos corpos. A morte de Jango ocorreu há mais de 40 anos, em 1976. Essa e outras experiências de Mazz – que é reconhecido pelos seus trabalhos de arqueologia forense em atividades de perito de órgãos internacionais como ONU, Cruz Vermelha e comissões de identificação de desaparecidos em cemitérios clandestinos nas ditaduras militares – foram compartilhadas na quinta-feira, 26 de setembro, com acadêmicos e professores da Universidade de Passo Fundo (UPF), em evento ocorrido no Salão de Atos da Faculdade de Direito.

Os mistérios sobre a morte do ex-presidente Jango permanecem. A exumação feita em 2013 não conseguiu apontar se a morte, ocorrida durante o regime militar, foi causada por infarto ou por envenenamento. A investigação foi realizada juntamente com uma equipe de especialistas internacionais coordenados pela Cruz Vermelha. As atividades foram relatadas no “Laudo final da pesquisa sobre a morte do Presidente João Goulart”.  “Uma das versões dizia que ele tinha sido envenenado, por isso, a exumação. A perícia contou com diferentes especialistas e não foi encontrada qualquer prova. Sabemos que os venenos não se conservam nos corpos e, então, o caso não foi fechado, mas está à espera de novas informações”, revelou Mazz.

“Arqueologia forense - História, justiça e direitos humanos”
A palestra de Mazz foi sobre “Arqueologia forense - História, justiça e direitos humanos”. As ciências forenses, em especial a arqueologia forense, estão ajudando a Justiça a resolver muitos casos importantes para a sociedade. “Inicialmente, se desenvolveu em torno da violência política nos anos 1970. Essa tecnologia permite pesquisar os corpos, recuperar e identificar, ajudando a Justiça. Todo esse conhecimento está transladando a outros âmbitos de interesses da Justiça, como acidentes, tsunamis, acidentes aéreos e na Justiça ordinária. O rigor científico é maior. A Justiça precisa ter informações de qualidade e confiáveis para tomar decisões”, comenta o arqueólogo.

Ele também coordenou as escavações arqueológicas sobre desaparecidos no Uruguai, que resultaram nos dossiês “informe general de los trabajos arqueológicos en busca de los detenidos desaparecidos” e “Informe anual de trabajos antropológicos en busca de los detenidos desaparecidos”, entre os anos de 2009 e 2013, para a presidência da República e Secretaria para os DDHH daquele país. “Eu trabalhei 10 anos nisso. Essa situação de procurar desaparecidos da ditadura não é algo que acontece espontaneamente. Teve pressão social muito forte e o retorno à democracia dos países permitiu que se implementasse projetos dessa natureza. Não é fácil realizar esse trabalho, pois ninguém deixa escrito onde enterrou os mortos. A pesquisa arqueológica nesses casos não apenas permite encontrar corpos, mas recuperar informações históricas para episódios sobre os quais todo mundo ignora o que realmente aconteceu”, destacou Mazz.

O evento integra uma série de conferências, entre os dias 25 e 27 de setembro, promovidas pelo Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da UPF, juntamente com o Núcleo de Pré-História e Arqueologia (Nupha), Instituto Cultural e Educacional Harmonia Gabrielense e a Unipampa.