Pesquisa e Inovação

Pesquisa propõe alternativa para redução de poluentes emergentes em efluentes

02/10/2020

11:43

Por: Caroline Simor - Assessoria de Imprensa

Fotos: Arquivo pessoal

Trabalho desenvolvido por doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental descobriu que a natureza pode ajudar ainda mais

O consumo deliberado de substâncias químicas, fruto, muitas vezes, da automedicação, faz com que o organismo não seja capaz de absorver a totalidade dos compostos. E o que acontece com o que sobra? É descartado na natureza por meio da urina ou das fezes. Sim, o ser humano contamina a natureza de diversas formas. E pensando nesse problema, o doutorando Alan Rempel, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental da UPF, pode ter encontrado uma solução: a biorremediação de poluentes emergentes via metabolismo microalgal.

Com pesquisas voltadas para a área do meio ambiente, Rempel explica que a proposta do trabalho é apresentar uma alternativa de tratamento de águas residuárias contaminadas com fármacos (remédios). Segundo ele, a justificativa está no fato de que as estações de tratamento convencionais não foram projetas para realizar o tratamento destes contaminantes, já que elas são consideradas fontes relativamente novas de contaminação.

Entre os novos poluentes emergentes encontrados pela pesquisa estão a cafeína, o ácido acetil salicílico (AAS), o diazepan, o paracetamol e fluoxetina.

De acordo com o doutorando, a não retirada destes poluentes implica a contaminação de mananciais, trazendo problemas a biota aquática (conjunto de todos seres vivos de um determinado ambiente ou de um determinado período). Além disso, muitos destes mananciais, são utilizados para a captação de água para abastecimento humano. 

Ele relata que as estações de tratamento de água por sua vez, quando foram pensadas, não foram projetadas com estratégias para remoção destes fármacos, ou contam com uma remoção de baixa eficiência, o que torna esta situação em um problema de saúde pública. “Estamos pesquisando uma nova alternativa de tratamento destes poluentes, através das microalgas. As microalgas podem retirar estes contaminantes destes efluentes, e realizar transformações em compostos menos tóxicos, reduzindo assim a sua toxicidade e por consequência reduzindo seus efeitos nos organismos aquáticos e nos humanos”, explica.

Além de limpar, produzir

Após o crescimento da microalga nos efluentes contaminados com estes fármacos, e depois de aplicar a remediação, Rempel destaca que a biomassa da microalga ainda pode ser utilizada para a produção de bioetanol, agregando sustentabilidade ao processo. “Além de retirarmos estes contaminantes podemos ainda realizar a produção de um biocombustível”, pontua.

Orientadora do trabalho, a professora Dra. Luciane Colla explica que nos efluentes domésticos podem ser encontradas pequenas concentrações como hormônios, antinflamatórios, pesticidas e antibióticos. “Esses contaminantes atrapalham o processo de tratamento de efluentes, visto que eles não são atingidos pelos processos convencionais, por isso a nossa ideia é utilizar efluentes já tratados e verificar os níveis de contaminação, realizando então o pós-tratamento desses efluentes domésticos já tratados, utilizando microalgas”, observa.

Ela lembra que, ainda durante o mestrado, Alan já trabalhava com biocombustíveis de 3ª geração, que são o bioetanol ou biodiesel a partir de microalgas. Contudo, Luciane ressalta que, para produzir o combustível, é necessário antes cultivar a biomassa de microalgas e, para isso, é preciso fazer o uso de algum tipo de efluente, a fim de minimizar os custos e viabilizar o processo. 

Mas então, o que o estudo busca identificar? De acordo com Luciane, o objetivo é verificar se as microalgas crescem em meios que tem esses contaminantes, assim, elas passam a ser uma possibilidade no tratamento dos pós efluentes. “No trabalho do Alan, testamos várias microalgas e identificamos quais são as mais resistentes às contaminações. Agora sabemos quais microalgas resistiram a esses contaminantes e estamos na etapa em que vamos misturar esses contaminantes e usar o efluente pós-tratado para cultivo da microalga, descobrindo então uma alternativa de pós-tratamento de efluentes contendo contaminantes emergentes”, pontua, frisando que o estudo é uma novidade e não existe registro na literatura.

Formação qualificada e frutos

Alan lembra que, até o momento, o doutorado que tem previsão de término em 2022, já gerou a produção de um artigo científico, na Bioenergy research, além de proporcionar a troca de experiências com professores, acadêmicos, mestrandos e doutorandos. “O doutorado está me proporcionando trabalhar e integrar com estudantes da graduação, principalmente acadêmicos da Engenharia Química e Ambiental, além de me auxiliar no desenvolvimento no trabalho, proporciona a eles a vivência com outros profissionais”, destaca.