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  2. 24/07/2020
  3. Ensino

Um jornalismo feito com cuidado e respeito

A ética profissional é abastecida e melhorada pelo conhecimento. Ao compreender melhor culturas, comportamentos, realidades e situações, é possível desenvolver qualquer atividade de forma mais humana e respeitosa. Pensando fornecer ferramentas para auxiliar nesse processo, acadêmicos do curso de Jornalismo da Universidade de Passo Fundo (UPF) desenvolveram um Manual de redação para um jornalismo antirracista. O material, produzido em parceria com a Unisc e UCS, foi editado pelos estudantes da UPF e disponibilizado no espaço da Revista ComArte. A atividade foi realizada sob a orientação do professor Dr. João Vicente Ribas, na disciplina de Jornalismo e Mídias Digitais.

Segundo o professor, a ideia surgiu quando a turma trabalhou, ao longo do semestre, escrevendo reportagens sobre racismo e culturas negras. “Quando íamos editar os textos, sempre nos deparávamos com expressões que precisavam ser cuidadas, repensadas. Então sugeri que os alunos fossem anotando e pesquisando. No final do semestre, tínhamos uma lista e surgiu a ideia de começar um manual de redação que ajudasse outros jornalistas a se posicionar diante destas questões”, explicou, lembrando que, ao mesmo tempo, alguns estudantes já haviam entrando em contato com outras universidades para saber se existiam jornais laboratório em atividade, pensando em atividades em parceria. A partir daí, foi possível unir as iniciativas.

Para Ribas a produção do Manual foi importante por vários aspectos, mas dois em especial. “Primeiro, os alunos trabalharam com um dos principais temas emergentes na mídia, um dos mais importantes para a sociedade atualmente. A escolha de escrever sobre racismo e culturas negras foi tomada em março, antes da pandemia e dos protestos que se espalharam pelo mundo. Segundo, tiveram a experiência de produzir conjuntamente, relacionando-se com a comunidade externa à UPF e se responsabilizando por liderar uma produção”, destacou.

Prática e reflexão
Como atividade da disciplina, os acadêmicos sempre produzem uma revista. Desta vez, de acordo com a estudante Camila Pellin, a ideia foi escolher uma temática específica. Vários temas foram debatidos entre a equipe, mas pela relevância do assunto, o racismo foi o escolhido. “Nossa ideia foi dar visibilidade aos negros, abordando questões culturais e sociais. O objetivo foi trazer a temática para a sociedade, mas também para os profissionais, já que, muitas vezes, as redações e as salas de aula têm, em sua grande maioria, pessoas brancas”, pontua.

No Manual, entre as dicas e orientações, estão a forma correta no uso de termos e reflexões sobre o que é racismo. O aprendizado sobre como agir e como respeitar todas as culturas e a escolha das palavras e dos contextos na construção de uma reportagem, foram os pontos importantes ressaltados pelos estudantes.
Para divulgar a ação, cards e materiais foram disponibilizados nas redes sociais do projeto ComArte e no site da Revista.

Trabalhos paralelos
O professor João Vicente ressalta que as principais produções da ComArte no semestre foram pautadas pela temática. Segundo ele, os acadêmicos produziram uma série em três partes sobre os quilombos na região de Passo Fundo, escreveram 14 resenhas de livros, filmes, séries e discos de artistas negros e produziram uma vídeo-reportagem sobre a sambista Djanira Ribeiro, falecida no ano passado, recuperando uma canção inédita. Além disso, os estudantes também escreveram artigos avaliando os fatos mais importantes dos últimos meses que envolveram racismo, como o assassinato do menino João Pedro, o Big Brother Brasil, e o movimento Black Lives Matter. Por fim, entrevistaram jornalistas negros contando suas experiências em redações pelo Brasil.