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  2. 01/11/2018
  3. Geral

Número de famílias brasileiras endividadas chega a 60%, entenda o porquê

Em tempos de crise e de desemprego, uma consequência natural é o endividamento e a inadimplência das famílias. O percentual de famílias nessa situação chegou a 62,5% em 2013, desde então, a diminuição desse índice foi pequena e gradual, chegando, em 2017, a 60,8%, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Em 2018, a situação apresentou uma sensível melhora, mas muito aquém do necessário. Em setembro deste ano, o número de famílias endividadas era de 60,7%. Dentre elas, quase 10% afirma não ter condições de pagar as dívidas.

Para entender os motivos que levaram as famílias a essa situação e como o problema pode ser solucionado, o Núcleo Experimental de Jornalismo da Universidade de Passo Fundo (Nexjor) conversou com o professor da UPF, o economista Ginez Leopoldo Rodrigues de Campos. Ele também é doutor em Sociologia Política e mestre em Sociologia. Ginez destacou o problema da falta de educação financeira no país e os principais fatores que levam ao endividamento. Confira:

Nexjor: Por que tantas famílias brasileiras estão endividadas ou inadimplentes?

Ginez Campos: Muitos fatores podem explicar essa situação de endividamento. Nós temos uma alta taxa de desemprego que tem levado as pessoas a perderem a sua renda e consequentemente isso tem implicações no pagamento de suas dívidas. Outro fator é a falta de educação financeira. Nós temos essa carência educacional hoje no Brasil, que é a organização da vida financeira pessoal. A PEIC reflete o perfil do endividamento das famílias brasileiras, que encontram dificuldades de pagar suas dívidas, o cartão de crédito, o cheque pré-datado, carnês, empréstimos consignados e outras formas de financiamento. 

Nexjor: Qual a maior causa do endividamento, o desemprego ou a má gestão do orçamento?

Campos: Eu diria que nós não temos uma tradição de educação financeira no Brasil. Está iniciando a partir da estratégia nacional de educação financeira, a ENEF, uma iniciativa de desenvolvimento de programas e projetos de educação financeira nas escolas, nas empresas, visando educar as pessoas para saberem organizar seu orçamento doméstico, principalmente em momentos de crise, de inflação alta, quando o planejamento do orçamento doméstico é fundamental. 

Nexjor: Em julho de 2013, esse índice era ainda maior, de 65,2%, mas hoje não está muito diferente. Por que diminuiu tão pouco nos últimos anos?

Campos: O nível de endividamento vem diminuindo gradualmente, embora permaneça alto, até porque, na medida em que as pessoas vão pagando as suas dívidas, elas vão saindo dos cadastros negativos e criando uma situação para continuar viabilizando novas compras no crediário. É importante citar que a renda no Brasil, de maneira geral, é baixa. As pessoas costumam comprar grande parte dos seus produtos por meio de financiamentos, por meio do crediário.

Nexjor: Quais fatores poderiam mudar essa situação e diminuir o número de endividados?

Campos: Já existe uma política pública nacional de educação financeira, a ENEF. E a UPF também tem um projeto de extensão, no qual desenvolvemos um conjunto de oficinas pedagógicas de educação financeira para diversos grupos em situação de vulnerabilidade social por conta do endividamento: grupos de idosos, jovens nas escolas, colaboradores de muitas empresas. Além disso, desenvolvemos programas radiofônicos educativos que visam também educar os nossos ouvintes. Hoje, segundo pesquisas, um dos grupos mais vulnerabilizados com a questão do endividamento e da inadimplência é composto pelos idosos, principalmente por conta dos empréstimos consignados, e também associado ao fenômeno do desemprego, muitos casais jovens perdem seus empregos e acabam retornando para a casa dos pais. Então, hoje, a renda do idoso está ajudando muitos jovens, filhos, parentes endividados que vivem na dependência desse idoso.