Ensino

O paradoxo de Weimar: Da Casa Goethe ao campo de concentração Buchenwald

19/07/2024

11:39

Por: Edison Alencar Casagranda

Fotos: Arquivo pessoal

Quem viajar pelo Estado Alemão da Turíngia, não pode deixar de visitar esta bela cidade alemã, com população aproximada de 65 mil habitantes e reconhecida pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade. Weimar fica cerca de 180 KM distante de Kassel, viajando-se melhor até lá de trem. Dele podemos observar, calmamente, a bonita paisagem que corta o caminho, marcado por pequenas vilas e fazendas cultiváveis, pequenos rios e vastas florestas. Uma viagem que nos remete ao passado e suas contradições, de muita cultura, mas também de barbárie cruel e sangrenta.

Weimar torna-se uma visita obrigatória para quem deseja entender o paradoxo da história da humanidade, marcado pelo conflito permanente entre civilização e barbárie. Além da Casa Schiller e do Arquivo Nietzsche, a cidade abriga também a famosa Casa Goethe e o belíssimo Jardim Goethe. Neste jardim, o escritor alemão compôs as mais belas poesias, adentrando nos labirintos da alma humana, nas suas forças, mas também nas suas fraquezas. Ao circular pelos cômodos da Casa Goethe, apreciando sua mobília e a enorme biblioteca, respiramos humanidade e, sobretudo, beleza poética. É um monumento da fantasia e da inspiração humana.

A experiência de estar próximo dos espaços e das coisas, que um dia fizeram parte do cotidiano de grandes expoentes do romantismo alemão e da cultura universal, causam um sentimento interessante, de maior proximidade com os autores, algo que, sem dúvida alguma, complementa e mantem vivo o interesse pela cultura e a admiração por uma forma de pensar, que influenciou e continua influenciando as diferentes gerações. Saber que determinadas ideias e, no caso de Goethe e Schiller, que certos textos considerados clássicos, que por isso ainda hoje contribuem para o fortalecimento da cultura universal, como por exemplo Fausto de Goethe e outros, foram pensados e escritos naquele espaço e naquele ambiente não desperta apenas emoção, mas principalmente a satisfação e a certeza da vivacidade da cultura.
Que ótimo seria se o ser humano e a sociedade pudessem viver plenamente belos ideais poéticos, afastando de suas ações a maldade corporificada na destruição cruel do outro. De tal crueldade não escapou nem mesmo a cidade de Goethe e de Schiller. Pois, a 8 quilômetros de onde eles escreveram suas poesias, os Nazistas construíram, no século XX, o campo de concentração Buchenwald, um dos maiores e mais horríveis da Alemanha, perdendo talvez só para Dachau (Munique). No portão de entrada principal lê-se a cínica e perversa insígnia: Jedem das seine (A cada um o seu)!
Transformado em museu para visitação pública, Buchenwald preserva, por todos os cantos, vestígios da maldade humana: trabalho forçado, fome, tortura, execução, câmara de gás, fornos para incineração humana e assassinato em massa. Estima-se que 280 mil pessoas foram aprisionadas durante seu funcionamento, de 1937 a 1945, e 56 mil morreram lá, todas tidas como inimigas do Nazismo: judeus, comunistas, ciganos, homossexuais.

Em seu depoimento, o professor Cláudio Dalbosco destacou a sua vivência. “Visitei várias vezes Weimar e Buchenwald, pois quando recebia amigos e conhecidos do Brasil, na época de meu doutorado em Kassel (1998-2001), levava-as para lá, para que pudessem sentir vivamente este paradoxo entre cultura e barbárie. Sobretudo, quem se ocupa com a educação de novas gerações jamais pode esquecer que a fronteira entre cultura e barbárie é muito tênue e que a brutalidade reside na interioridade de cada um. Impedir que Auschwitz (Buchenwald) se repita é, segundo Theodor Adorno, uma tarefa sempre atual e irrecusável da educação”. 


A Universidade de Passo Fundo (UPF) e a Universidade de Kassel têm uma parceria de muitos anos, consolidada por meio de pesquisas e compartilhamento de experiências. Por meio da Capes, recentemente o pró-reitor Acadêmico, Dr. Edison Alencar Casagranda, esteve visitando a instituição, fortalecendo ainda mais as ações e avançando no projeto institucional de internacionalização dos programas de pós-graduação. No dia 28 de junho, acompanhado dos professores Claudio A. Dalbosco (UPF) e Luciano Bonfin (UNEB), e ainda, do doutorando Marcelo Nolli (UPF), ele esteve na cidade de Weimar.