Pesquisa e Inovação

Mulheres na ciência e em qualquer lugar onde quiserem estar

11/02/2022

16:00

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Tainá Binelo e Pedro Bregolin

11 de fevereiro é lembrado como o Dia Internacional das Mulheres e das Meninas na Ciência, oportunizando o debate sobre a importância da inserção e do reconhecimento da mulher em todos os espaços

Dados recentes divulgados pela Unesco, agência da Organização das Nações Unidas (ONU), apontam que as mulheres representam apenas 28% dos pesquisadores do mundo. Entre os fatores considerados para a baixa inserção está o difícil acesso a investimentos e redes de estudo. Pensando em colocar o tema em debate e atuar para promover uma mudança na sociedade, a ONU criou o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, lembrado nesta sexta-feira, 11 de fevereiro. Na UPF, essa mudança já ocorreu e as mulheres são referência no ensino, na extensão e, sim, na pesquisa. Para aproveitar a data, três pesquisadoras contam um pouco da sua história e reforçam o recado: a mulher pode e deve estar onde ela quiser.

O tema faz parte das movimentações das Nações Unidas e integra a pauta da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. A data também homenageia cientistas de referência no mundo como Marie Curie, Rosalind Franklin e Nettie Stevens e busca inspirar e engajar outras meninas a seguirem na área.

Mais do que sonhar, concretizar
As inspirações também estão dentro das salas de aula da UPF. Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, a Dra. Luciane Colla viu a ciência entrar na sua vida de forma natural. Desde pequena já demonstrava interesse em ensinar e aos 12 anos dava aulas particulares de matemática, atividade que desempenhou ao longo da graduação.

Dra. Luciane Colla

Foi ao cursar a faculdade que teve contato com a iniciação científica e lembra que, à época, foi conversar com uma professora para trabalhar com enzimas, tema que estuda até hoje. “Pude conhecer vários perfis de orientadores/cientistas, porque todo ano eu procurava alguém para começar uma pesquisa nova. Tive quatro orientadores diferentes. Também fiz parte de um programa da Capes que se chamava Programa Especial de Treinamento – PET. Na pós-graduação, escolhi uma área com um cientista que hoje é referência mundial e segui”, conta.

Para Luciane, a carreira de pesquisadora teve e tem os desafios inerentes ao processo de trabalho, e gostar do que se faz, dedicar-se ao máximo, serão ferramentas para estar onde se quer. “Eu não vejo os desafios como empecilhos intransponíveis, acho que esse é um ponto importante. Estar na carreira requer dedicação e estudo contínuo, resiliência, trabalho aos fins de semana e fora do horário formal. Requer gostar de gente, porque formar cientistas é formar recursos humanos para atuar na sociedade. Há os problemas relacionados à visibilidade pública, à política, às ideologias que sempre acabam aparecendo, eu não deixo nada disso sobrepor o prazer que tenho no processo. Vejo isso como o meu trabalho”, pondera a pesquisadora.

Sobre as oportunidades para homens e mulheres na ciência, a professora acredita que elas existem para ambos, mas que o contexto no universo feminino tem peculiaridades que nem sempre são absorvidas pela sociedade. Ela observa que temas como o papel feminino na sociedade, à família e os filhos, acabam romantizando situações ou colocando barreiras que dificultam a permanência das mulheres nos espaços. “Eu diria que temos direito aos espaços sim, mas que há diferenças na forma como vemos o mundo e, portanto, em como atuaremos nesses espaços. Sou mãe, antes de ser cientista. Nunca me ocupei de pensar que não seria possível, simplesmente deu certo”, relata, destacando que na UPF e nos espaços onde circula, vê as mulheres dividindo esse espaço naturalmente, enfrentando desafios como qualquer profissional. 

“Para potencializar a presença feminina, temos que encarar com igualdade a capacidade delas para estarem nesse ambiente. Se a mulher chega na escola, na universidade, é natural que possa chegar a esse espaço também. Agora, se não chega na escola e nem na universidade, esse é um problema que tem que ser resolvido antes”, comenta Luciane, pontuando também que um dos desafios do pesquisador hoje em dia é a forma como a ciência é informada, divulgada, entendida. “Tudo isso depende do acesso da sociedade à educação e cultura. O entendimento do que é ciência/método científico e da importância disso tudo para a formação de uma sociedade livre e proativa”, frisa.

Para as meninas que querem atuar na área, a professora tem um recado bem objetivo. “Sejam cientistas. Sejam mães. Sejam o que quiserem ser, sem abrir mão de nenhuma parte. Não sonhem apenas. Às vezes quem sonha romantiza tudo fora da realidade do que é e culpando a tudo e a todos pela fantasia não ter dado certo. Caminhem os seus caminhos responsáveis por vocês mesmas”, incentiva.

Trilhar caminhos para melhorar o mundo
A iniciação científica também foi fator determinante para que a professora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental, Dra. Luciana Londero Brandli, ingressasse na área da pesquisa. A atuação, que se intensificou no mestrado, doutorado e pós-doutorado, foi colocada em prática a partir da docência.

Dra. Luciana Londero Brandli

Para ela, é sempre desafiador abrir caminhos profissionais, especialmente em espaços tão concorridos por financiamentos para a pesquisa, como é o caso do Brasil. “Acredito que meu maior desafio, olhando para trás, foi ir morar um ano na Alemanha, sozinha e sem saber o que me esperava por lá. A partir daquela experiência, durante o pós-doutoramento, os caminhos se abriram muito mais para mim, especialmente em termos de redes internacionais. E além disso, foi um choque cultural, um amadurecimento na forma de fazer ciência, fazer pesquisa”, relata.

Ao olhar o cenário em que está inserida e com uma visão de outros países, uma vez que desenvolve pesquisas com outras universidades, ela considera que tanto no Brasil como internacionalmente, é possível ver as mulheres apontando na ciência sem desigualdade. “Meu grupo de pesquisa na UPF, é formado por mulheres, na sua maioria, por exemplo. Penso que não é preciso fazer algo específico para potencializar a presença feminina na pesquisa, o que precisa ser pensado, sempre, é como dar oportunidade para todos, independentemente do gênero, raça, condições econômicas, etc”, opina.

Em tempos em que a ciência é questionada e que as fake news tornam ainda mais desafiadora a atuação do pesquisador, Brandli destaca que o cientista tem hoje um papel ainda mais fundamental. Por isso, aos que querem ingressar na carreira, a professora pontua que, com dedicação, tudo é possível. “A humanidade precisa muito da ciência para manter padrões de vida aceitáveis no planeta, visto que há um crescimento exponencial da população, com previsão de se chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050. É preciso de inovação, novas descobertas, melhorias na saúde, na produção de alimentos, no desenvolvimento de tecnologias, na produção de bens. As gerações de hoje precisam contribuir para um futuro melhor e a ciência será chave neste processo”, observa.

Dra. Cleci Werner da Rosa

Buscar seu espaço e fazer aquilo que gosta
A professora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Dra. Cleci Werner da Rosa, começou a gostar da ciência ainda dentro de casa. Com afinidade com a matemática, na escola teve uma aproximação com outras áreas e acabou sendo conquistada pela física. “Fui conquistada dentro da Universidade para trabalhar mais diretamente na pesquisa e no ensino. Nos laboratórios aprendi a lecionar e essa minha paixão, que hoje é pela educação científica e tecnológica, tem esse início em casa e depois aqui dentro da UPF”, comenta.

Em uma área predominantemente masculina, Cleci destaca que foi buscando seu espaço e hoje ela é a pesquisadora com mais tempo de casa na área de atuação. “Conquistei esse espaço e acredito que a mulher precisa fazer isso. Impor-se, mostrar o seu potencial e se colocar como protagonista. Dentro do departamento de Física da UPF, sempre fui muito respeitada e vejo que a Universidade tem uma cultura que busca não diferenciar homens e mulheres na atuação acadêmica, em qualquer área do conhecimento”, ressalta, destacando que a pesquisa exige tempo e comprometimento, muitas horas de dedicação. “As pessoas precisam se organizar para dividir a vida de pesquisador, de mãe, esposa, e tudo mais”, conta.

A pesquisa também demanda investimentos e, para a professora, o país não vê a ciência como algo fundamental. Diante desse cenário, uma pergunta orienta a sua jornada junto à ciência e ao ensino: Como ajudar os estudantes a aprenderem física, química, matemática e serem, lá na frente, novos cientistas, pesquisadores e pessoas que contribuam com a sociedade? É com essa paixão que ela segue construindo pontes e formando novos produtores de conhecimento.

Apesar dos percalços, existentes em todas as áreas, a pesquisadora reforça a importância de se buscar espaços, mostrar os potenciais e tomar à frente das ações. “O que digo para as meninas é que se identifiquem com aquilo que querem fazer. Independente de questões de gênero, a mulher pode ser o que ela quiser, no tempo que ela quiser, desde que ela faça o que goste, que atue para ser referência e que conquiste os espaços e reconhecimentos por meio do trabalho e da dedicação”, frisa.