Extensão

Por uma sociedade mais inclusiva: um olhar dedicado às pessoas trans

06/12/2021

11:44

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Natália Fávero

Projeto de extensão da UPF "Diversidades: visibilidade e garantia de direitos”, criado em 2016, realiza ações voltadas especialmente para a realidade vivenciada pela população transexual

O projeto de extensão "Diversidades: visibilidade e garantia de direitos” da Universidade de Passo Fundo (UPF) coloca em prática e tece vínculos entre a Universidade e as demandas da população LGBTQIA+. Além disso, contribui com o avanço de uma sociedade mais inclusiva, atuando de forma interdisciplinar envolvendo vários cursos da UPF. Uma das principais ações do projeto é voltada para o cuidado com a comunicação e atenção psicossocial à população transexual e seus familiares, associado à intervenção psicológica e da assistência social no contexto clínico por meio de multiconsultas e acompanhamento integral.

“Infelizmente, a nossa sociedade é heteronormativa e as pessoas tratam muito pela voz”
A voz diz muito sobre cada pessoa. Por meio dela é possível expressar as emoções e se comunicar. Além disso, é um fator marcante na percepção de gênero, questão essa que influencia muito na vida das pessoas transexuais, que são aquelas que não se identificam com o seu gênero de nascimento. A não conformidade da voz com o gênero pode causar sentimentos de inadequação e um impacto psicossocial. Nesse sentido, um dos principais eixos do projeto é oferecer, por meio da Clínica de Fonoaudiologia da Universidade, o acompanhamento fonoaudiológico para conformação vocal.

O estudante de Medicina, Seeley Joseph Machado Monteiro, que recebeu atendimento na Clínica de Fonoaudiologia da UPF, revela o quanto a adequação da voz é importante para pessoas trans. “Sou homem trans e no início da minha transição, minha voz era mais ‘feminina’. Mesmo já tendo toda a característica predominante do gênero que você se identifica, quando você abre a boca a voz não acompanha. Infelizmente, a nossa sociedade é heteronormativa e as pessoas tratam muito pela voz. Se você tem uma voz 'masculina', elas tendem a te tratar no masculino, se você tem voz 'feminina', elas tendem a te tratar no feminino. Não nos tratam corretamente e isso afeta a questão do bem-estar psicológico, causando até disforia. É algo bem complexo”, relata Seeley.

Muitas vezes, ao tentar adequar o tom desejado para deixar a voz mais fina ou mais grossa, a saúde da voz pode ser prejudicada causando lesões significativas. Por isso, profissionais da fonoaudiologia tem um papel importante neste processo. “Achava que a minha voz não era ‘masculina’ o suficiente. Achava que ela parecia rouca ou algo assim. E quando cheguei na Clínica da Fono da UPF foi feito vários testes e avaliações. Fiz todo um trabalho, durante quase dois semestres, para conseguir pronunciar minha voz. O projeto foi muito importante, porque tirou muito a insegurança que eu tinha em relação minha voz. É muito importante achar um tom que a pessoa se sinta bem e consiga ser ‘ouvida’”, enfatiza Seeley.

A transfobia é uma realidade
A realidade das pessoas que não se enquadram no padrão heteronormativo de sexualidade e gênero, especialmente das pessoas transexuais, é permeada por preconceito e discriminação. Nesse sentido, o projeto Diversidades atua na defesa e promoção dos direitos da população LGBTQIA+, especialmente em ações voltadas para a realidade vivenciada por pessoas transexuais. 

O Diversidades entende que a transfobia é uma realidade inegável, a qual leva a muitos episódios de violência, havendo vários contextos de negatividade e resistência. Nesse sentido, e por ter iniciado as suas atividades a partir das demandas do Ambulatório de Identidade de Gênero, ligado à Secretaria de Saúde de Passo Fundo, o projeto tem uma forte atuação focada na população trans. “Parece tão básico falar que somos diferentes uns dos outros e que essas diferenças tornam o ser humano tão especial, porque podemos habitar esse planeta e interagir com o meio ambiente de múltiplas formas. A diversidade é fundamental para que possamos sobreviver. Entretanto, apesar desse reconhecimento a diversidade de gênero tende a ser um assunto ainda nos dias de hoje tratado de forma parcial. É claro que a sexualidade humana sempre envolve múltiplos tabus, mas a discussão e o debate sobre o assunto podem colocar luz sobre as diferenças e proporcionar uma aproximação com as demandas individuais”, afirma uma das coordenadoras do projeto, professora Dra. Luciana Grolli Ardenghi.

A experiência dos estudantes: formação humanizada
Atuando há mais de cinco anos junto à comunidade, o projeto conta com a participação de professores de diferentes áreas do conhecimento e de alunos de graduação da UPF (Psicologia, Fonoaudiologia, Serviço Social e Administração) e mestrado (Administração e Envelhecimento Humano). “No país que mais mata pessoas LGBTQIAP+ é importante estarmos unidos e abraçarmos as lutas, não basta ser contra a violência é preciso combatê-la. Na minha prática profissional, entendi o conceito de respeitar o paciente, as suas escolhas, sua história de vida, tornar o ambiente acolhedor e um plano atendimento voltado para ele e suas necessidades, para que os atendimentos sejam benéficos”, relata a acadêmica do oitavo semestre do curso de Fonoaudiologia da UPF, Kerolay Romani, que participou do projeto neste ano.

Projeto se aproxima das demandas da comunidade
O projeto Diversidades atua na defesa e promoção dos direitos da população LGBTQIA+, na promoção do cuidado em saúde e atenção a demandas psicossociais e de saúde, no acolhimento e escuta às famílias dos pacientes e no acompanhamento fonoaudiológico para conformação vocal. Por mais que as mais variadas diversidades (gênero, gerações/idade, raça, etnia, pessoas com deficiências) sejam contempladas neste projeto de extensão, muitas das ações são voltadas para pessoas transexuais.

Sendo assim, o projeto conta com os eixos Educacional e Clínico. O eixo Educacional tem como foco a superação dos preconceitos e a atenção a demandas psicossociais, socioeducativas e jurídicas da população LGBTQIA+ com ações desenvolvidas em diferentes espaços sociais, como escolas, associações, Universidade, entre outros. Já o eixo Clínico é constituído por atividades realizadas na Clínica de Fonoaudiologia e Psicologia da UPF, com foco na atenção à população transexual e seus familiares, via Sistema Único de Saúde.

As ações desenvolvidas promovem o atendimento clínico dos sujeitos compreendendo as suas demandas pessoais e as demandas impostas pela sociedade. “Promovemos um atendimento com visão ampliada em saúde na perspectiva coletiva e social. Além disso, desenvolvemos ações em educação e divulgação em saúde com o olhar para a diversidade de gênero com a finalidade de promover a compreensão e expandir o debate livre sobre o tema”, salienta uma das coordenadoras do projeto, a professora Luciana.

Além da professora Luciana, o projeto também é coordenado pela professora Dra. Cristina Fiorezi, com a participação das professoras Dra. Anelise Rebelato Mozzato e Dra. Patricia Ketzer.

Artigo sobre o projeto foi publicado em revista que trata sobre o tema  
No mês de novembro, um artigo feito com o objetivo de socializar a experiência em extensão universitária do Projeto “Diversidades: Visibilidade e garantia de direitos” e suas articulações com a pesquisa e o ensino UPF foi selecionado e publicado para fazer parte do Dossiê - Cultura e diversidade étnico-raciais: articulando pesquisa e extensão, na revista UFG (Universidade Federal de Goiás).

O artigo intitulado “Diversidades - visibilidade e garantia de direitos: extensão, pesquisa e ensino universitário” mostra que ações como as do Projeto Diversidades constituem-se em práticas capazes de tecer vínculos entre a universidade e as demandas da população, além de contribuir para a formação de profissionais comprometidos com o avanço de uma sociedade mais inclusiva. 

Além disso, integrantes do projeto participaram recentemente do Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária (ForExt) com o trabalho “A extensão universitária e o ODS: um relato sobre a percepção dos extensionistas do projeto “Diversidades”.