Primeira reunião de famílias autistas promove a troca de experiências entre pessoas que convivem com a doença
No intuito de ampliar os conhecimentos sobre o tema, a Associação dos Amigos da Criança Autista (Auma), o programa de extensão ComSaúde e o projeto Sorriso Voluntário da Universidade de Passo Fundo (UPF), com apoio da Associação de Pais e Professores da Escola Municipal de Autistas Olga Caetano Dias, realizaram o 1º Encontro da Família dos Autistas. O evento buscou a união dos pais de mais de 60 autistas estudantes da Escola de Autistas e recebeu interessados em entender mais sobre o assunto.
A tarde, com diversas atividades lúdicas, foi marcada pelo envolvimento de pais e familiares, alguns participando pela primeira vez de uma ação relacionada ao Autismo. A presença de muitos dos participantes foi incentivada pelos já integrantes da Escola ou da Auma. Com o apoio do Programa ComSaúde, a coordenadora do Programa, professora Cristiane Barelli, destaca que o evento busca a união dos pais e o compartilhamento de conhecimentos, inclusive para os acadêmicos dos diferentes cursos da UPF que estavam envolvidos. “Buscamos confraternizar e fortalecer os vínculos”, finaliza a professora.
Há 40 anos, Myrna Rolando Pierozan, uma das fundadoras do Auma, viu-se sem nenhuma informação sobre a doença do filho. Myrna conta que sempre percebeu algo em especial no filho. Quando levado ao médico, o seu primeiro diagnóstico foi problema de audição. “Naquele tempo, não tinha nem pediatra, os médicos não sabiam quase nada sobre o Autismo”, explica.
Myrna dividiu conhecimentos com uma jornalista de Porto Alegre, que também tinha um filho autista, e compartilhava o que sabia. Dessa forma, ela foi compreendendo cada vez mais a doença do filho, e, em 31 de março de 1999, ajudou a fundar a Auma em Passo Fundo.
Hoje, ela é uma das principais fontes de informação sobre o assunto: seu filho Álvaro Olando Pierovan completa 40 anos e é o maior pilar da mãe. “Ele dirige, é letrado, me ajuda em tudo. Estou idosa e sempre preciso de ajuda, ele é meu braço direito”, relata a mãe. Álvaro, como característico no Autismo, tem dificuldades em conversar; então, em poucas palavras, diz que gosta muito da escola e dos amigos que tem lá.
Troca de experiências
Anilton Roratto, pai de Arthur Felipi Roratto, de 15 anos, que estuda em uma escola de ensino médio regular e em uma especial para autistas, relata que sempre procurou manter o filho nas duas modalidades de ensino. É estudante da Escola Municipal de Autistas e da Escola Redentorista Menino Deus de Passo Fundo, onde em breve vai se formar no nono ano do ensino fundamental. O pai conta, no entanto, que, antes de organizarem assim a rotina do filho, Arthur teve que passar por diversas escolas até ser aceito. Anilton avalia a importância da troca de experiências entre os pais. “É muito importante trocar experiências, saber o que deu certo e indicar para os outros pais. Hoje, até eu dou conselhos para outros pais autistas”, relata Anilton.
O Autismo é um transtorno de desenvolvimento que afeta a habilidade de interação e comunicação, entre outros problemas. Geralmente aparece nas crianças em torno de três anos e, aos poucos, entra em pauta nas rodas de conversas, mas o seu diagnóstico nem sempre foi tão bem esclarecido.
Diversos alunos também fizeram parte da atividade, entre eles o estudante do sexto nível de Medicina, Tiago Azambuja, que participa como voluntário do projeto desde 2015. “É muito importante ter essa visão diferenciada da academia. Aqui, temos contato direto de como é viver com um autista, como é a vida de deles, o seu dia a dia, coisas que não aprendemos na universidade”. O estudante explica, ainda, que além da teoria oferecida na sala de aula, a parte prática oferecida no programa é muito importante para o crescimento como pessoa e como profissional.
A atual presidente da Auma, Salua Younes, que também tem um filho autista, explica que a intenção do encontro é o compartilhamento de aprendizados, além de trazer novos integrantes para a Associação. “Queremos que o Autismo seja falado durante o ano todo, não somente no dia 2 de abril, que é o dia do autista. Esse é o nosso intuito” explica Salua.
O Primeiro Encontro da Família Autista foi realizado na tarde de sábado (15), e contou com a participação do grupo Sorriso Voluntário para a animação da tarde e a comemoração do aniversário de Álvaro, um dos autistas mais velhos participantes da Escola de Autistas em Passo Fundo.