Pesquisa e Inovação

Docente da UPF tomou posse como Acadêmico Correspondente Internacional na Espanha

22/02/2019

17:45

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Divulgação

Dr. Rafael Frandoloso agora integra a Academia de Ciências Veterinárias de Castilla y León

Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e do Programa de Pós-Graduação em Bioexperimentação (PPGBioexp) da Universidade de Passo Fundo (UPF), o Dr. Rafael Frandoloso foi empossado, na última semana, como membro da Academia de Ciências Veterinárias de Castilla y León (AVETCYL), na Espanha. Com o feito, o professor torna-se o primeiro brasileiro e o segundo pesquisador da América Latina a integrar a Academia.

O ato foi formalizado durante uma audiência pública realizada no Salão de Atos Gordón Ordás, no edifício El Albéiter da Universidade de León. A cerimônia foi presidida pelo professor Catedrático, Acadêmico de Número e Presidente da AVETCYL, Dr. Elías Fernando Rodríguez Ferri, que também conferiu a láurea ao professor da UPF. 

Durante o ato, Frandoloso realizou uma conferência sobre o livro “El sistema inmunitario porcino: del calostro a la inmunidad específica inducida por vacunas”. Ele ressaltou que o ato de posse dos acadêmicos está condicionado à redação de um livro que verse sobre o tema de maior experiência e reconhecimento científico do acadêmico. Para tanto, a publicação contou com o apoio de dois importantes laboratórios de produção e comercialização de produtos biológicos veterinários, a MSD Saúde Animal e a Ouro Fino Saúde Animal.

Em sua fala, ele explicou sobre a gênesis da resposta imune específica dos suínos induzida mediante a administração de vacinas, bem como a importância do colostro materno para garantir sobrevivência e desenvolvimento satisfatório dos leitões na fase de maternidade. Também destacou que o estudo do sistema imunológico suíno é um campo de grande interesse, não somente para a Medicina Veterinária, mas também para a Medicina Humana. “Pesquisas relacionadas com os transplantes, técnicas cirúrgicas, xenotransplantes, funções cardíaca e renal, absorção de fármacos cutâneos, tratamentos de queimaduras, estudo da fibrose cística, e a produção de imunoglobulinas policlonais humanizadas, recorrem, com bastante frequência, à espécie suína como modelo animal, extrapolando, depois, os resultados aos seres humanos com as devidas anotações”, pontuou.

Durante sua conferência, o novo acadêmico reforçou que a ciência está buscando na atualidade desenvolver vacinas que sejam capazes de evitar a colonização específica das mucosas. “Em outras palavras, buscamos vacinas que garantam que os animais vacinados não sejam portadores assintomáticos de patógenos que possam causar doenças em algum momento do seu ciclo de vida”, disse.

Pesquisa inédita
Na oportunidade, Rafael apresentou os resultados mais recentes das suas pesquisas realizadas na Universidade de Calgary, Canadá, durante o seu pós-doutoramento (2017) realizado no laboratório do Dr. Anthony Schryvers, desenvolvido por meio da CAPES e apoiado pela UPF. Entre os resultados, Frandoloso e Schryvers descrevem um fenômeno inédito e considerado por muitos cientistas uma utopia longínqua: conseguir evitar a colonização de Haemophilus parasuis nas mucosas respiratórias de suínos. De acordo com Frandoloso, esse descobrimento é fruto de um intenso trabalho realizado dentro de uma linha de pesquisa internacional que ele mantém com a Universidade de Calgary e a Universidade de León há mais de 8 anos e que já rendeu trabalhos científicos publicados dentro do grupo Nature. “Os resultados inéditos estão em fase de publicação numa das mais importantes revistas de vacinologia internacional. Cabe destacar também que a Universidade de Passo Fundo, por meio dessas pesquisas, possui uma patente compartida com as Universidades de Calgary, León e Toronto, que poderá mudar o cenário internacional da prevenção de uma das principais doenças bacterianas que acomete leitões jovens, conhecida como Doença de Glässer”, reforça o pesquisador.

Formação consolidada
Frandoloso concluiu o curso de Medicina Veterinária na UPF no ano de 2006. No mesmo ano, iniciou diretamente seus estudos de doutoramento no programa de Pós-Graduação em Sanidade Animal, subárea de Imunologia, da Universidade de León, Espanha. Em 2008, ganhou a suficiência investigatória com o trabalho intitulado “Estudio de la expresión, inmunogenicidad y respuesta inmune de base celular en cerdos inmunizados con las proteínas TbpB y TbpA de Haemophilus parasuis” e, em 2011, defendeu sua tese intitulada “Estudios moleculares e inmunobiológicos de la proteína TbpA (del receptor de transferrina) de Haemophilus parasuis y de otras proteínas de la membrana externa, con afinidad por la transferrina porcina”. Sua tese foi merecedora da máxima qualificação “sobressaliente cum laudem” e premiada depois com o Prêmio Extraordinário de Doutorado da Universidade de León (concedido à melhor tese doutoral da instituição). Da sua tese doutoral, foram publicados seis trabalhos internacionais. Além do doutoramento, o professor Frandoloso realizou dois estágios pós-doutorais, um na Universidade de León, e outro, recentemente, na Universidade de Calgary. 

Uma Academia sólida e reconhecida
De acordo com o professor Dr. Elías Fernando Rodríguez Ferri, presidente da Academia de Ciências Veterinárias, Castilla e León são duas regiões históricas e culturais da Espanha, unidas atualmente na Comunidade Autônoma de Castilla y León, que engloba nove províncias, três delas pertencentes à região leonesa (León, Zamora e Salamanca) e as outras seis pertencentes à região castelhana (Ávila, Burgos, Segovia, Soria, Palencia e Valladolid).

Ele recorda que o território atual de Castilla e León foi, no passado, berço de importantes acontecimentos que mudaram o mundo, pois lá foram criadas, pela primeira vez, leis escritas com validez para um reino (1017), e foram proclamadas as primeiras Cortes Democráticas (1188, sob o reinado de Alfonso IX). 

Durante o século XVIII, na Espanha, foram criadas as Reais Academias (Língua, Jurisprudência, Medicina, História, etc) e diversas instituições, entre elas a primeira Escola Superior de Veterinária da Espanha (1793), seguindo o modelo das francesas de Lyon e Paris. Segundo Ferri, nesse tempo, a universidade ficou fora do movimento científico e filosófico e a ciência se refugiava nas Academias, como centros do saber e do conhecimento.

O presidente contextualiza que as Reais Academia da Espanha estão integradas dentro do Instituto Espanhol e se definem como centros de cultivo do saber e difusão do conhecimento, que representam a excelência nos campos das ciências, artes, humanidades, figurando como valores essenciais a categoria dos seus membros e a sua estabilidade e independência, e estão sob o cuidado da Sua Majestade Excelentíssima, o Rei. 

Foi em 2009 que um grupo de Acadêmicos Número, entre os quais alguns dos membros mais antigos da Real Academia de Ciências Veterinárias da Espanha (RACVE), firmou o compromisso de fundar a Academia de Ciências Veterinárias de Castilla e León (AVETCyL), constituída por Acadêmicos Número e Correspondentes Nacionais e Internacionais altamente reconhecidos. “Todos os candidatos sugeridos à Academia são avaliados por dois Acadêmicos de Número. Seu curriculum vitae é submetido a um exame rigoroso, prévio a uma votação secreta na qual deverá obter uma maioria qualificada de votos positivos. A maioria dos acadêmicos são cientistas, docentes, funcionários públicos de alta qualificação, ou profissionais liberais de prestígio reconhecido em seu âmbito de competência. Até a presente data, dois Acadêmicos Correspondentes Internacionais (estrangeiros) foram incorporados na Academia: o professor Dr. Carlos Lanusse, da República Argentina, diretor do Laboratório de Farmacologia do Centro de Pesquisa Veterinária de Tandil, e, em fevereiro, o professor Dr. Rafael Frandoloso”, pontua o presidente da AVETCyL.