Universidade

Da África para o Brasil: um caminho de formação, conhecimento e troca de experiências

02/09/2021

10:19

Por: Assessoria de Imprensa

Fotos: Camila Guedes e Tainá Binelo

Africanos cursam mestrado na Universidade de Passo Fundo (UPF) e compartilham a experiência de estudar no Brasil

Elia Maria Uangna, Gerda do Rosário Fernandes e 
Aladino Fernandes fazem mestrado na UPF

A mais de cinco mil quilômetros de distância de casa, muitas expectativas, saudades, desafios e um orgulho muito grande dos seus países de origem. Assim, três mestrandos da Universidade de Passo Fundo (UPF), que vieram de países da África, revelam os seus anseios e experiências em solo brasileiro, compartilhando sua cultura, que aliás tem muita influência na cultura brasileira. Os jovens, que saíram de seus países para estudar em outro continente, já estão no Brasil há sete anos.

Aladino Fernandes e Gerda do Rosário Fernandes, mestrandos do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), e Elia Maria Uangna, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEdu), estão no Brasil desde 2014. Vieram para estudar e se formaram na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), localizada no Nordeste do Brasil. 

Natural de Guiné-Bissau,
Aladino Fernandes tem 27 anos e
é mestrando em História da UPF

“A cultura brasileira sempre me encantou e sempre tive essa vontade de vir ao Brasil”
Natural de Guiné-Bissau, Aladino Fernandes tem 27 anos e é formado em duas graduações: Sociologia e Humanidades (Unilab). O mestrando em História da UPF explica que em seu país se fala português e, assim como o Brasil, lá também foi colonizado pelos portugueses. O orgulho pelo seu país de origem e o sonho de um país ainda melhor move Aladino a estudar no mestrado a relação entre sociedade civil e o estado na Guiné-Bissau, que busca a consolidação do seu regime democrático.

“Eu vim estudar por meio de uma cooperação entre o meu país e o Brasil e também buscar oportunidades de emprego. A cultura brasileira sempre me encantou e sempre tive essa vontade de vir ao Brasil”, revela Aladino, ao salientar a saudade que sente dos seus pais e dos seus cinco irmãos, explicando que pretende retornar a Guiné-Bissau, após terminar os estudos.

Aladino ressalta que está gostando de Passo Fundo e acha a cidade tranquila e segura. O estudante comenta que desde que chegou ao Brasil já recebeu diversas perguntas estranhas e que tenta desmistificar a visão que as pessoas têm da África.

“Muitas pessoas pensam que passamos fome, que não temos condições de trabalho no meu país. E não é assim. Além disso, sempre comento que a África tem lugares lindos e muito bacanas”, explica Aladino, que conseguiu emprego no turno da noite para poder se manter financeiramente.

Gerda do Rosário Fernandes, 26 anos,
também chegou ao Brasil em 2014 para estudar.
Hoje, é mestranda em História da UPF

“A questão do estudo não é difícil lá, mas a gente cresce com a ideia que tudo que é de fora é melhor”
Gerda do Rosário Fernandes, 26 anos, também chegou ao Brasil em 2014 para estudar. Assim como Aladino, formou-se nos cursos de Sociologia e de Humanidades (Unilab). Seu país de origem é São Tomé e Príncipe, que são duas ilhas, localizadas na costa equatorial ocidental da África Central.

“No início foi um pouco complicado, porque foi a primeira vez que saí de perto da família para ir para um país distante, com realidades diferentes. Mas com o tempo fui me adaptando”, observa Gerda.

Neste ano, se inscreveu no processo seletivo da pós-graduação na UPF e foi selecionada para o mestrado em História. A intenção é pesquisar sobre as questões de gênero no Carnaval. Em Passo Fundo, está há cerca de dois meses.

“A cidade e as pessoas estão sendo muito acolhedoras. Estou gostando do campus, da proposta da Universidade e comentava com uma amiga que, quando terminar o mestrado, pretendo fazer doutorado e dar aula em Passo Fundo”, comenta a mestranda. 

Gerda ressalta que cresceu escutando que tinha que estudar fora e que essa é uma realidade comum no país.

“A questão do estudo não é difícil lá, mas a gente cresce com a ideia que tudo que é de fora é melhor e crescemos com esta ideia de se formar fora. Mas quando você está fora você consegue enxergar a verdadeira realidade do seu país e percebe que não é bem assim. Não quer dizer que o ensino lá não seja bom, apenas têm áreas que não apresentam muitas opções. É isso”, explica a estudante, ressaltando que sente saudade da família e que seu país é muito bonito.  

Ela enfatiza que a área de Humanidades não é muito valorizada no seu país e, por isso, busca oportunidades no Brasil.

“São duas ilhas pequenas e com grande número de estudantes formados, o que dificulta a questão de emprego. O que me faz querer ficar é essa desvalorização das áreas de humanidades, sociologia e história lá. Não tem muito campo. Não tem muitas oportunidades”, comenta Gerda.

Elia Maria Uangna, mestranda do
PPGEdu da UPF, é de Guiné-Bissau 

“Sempre pensei em ir para o exterior, mas com foco em voltar para o meu país e dar a minha contribuição”
Sair de casa e estudar fora do país sempre foi o desejo de Elia Maria Uangna. Ela é de Guiné-Bissau, e também veio para o Brasil em 2014, e se formou em Humanidades e em Pedagogia na Unilab. Elia encontrou na UPF o lugar para dar sequência à sua formação. Hoje, a mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação se vê acolhida pela cidade, pela Instituição e faz planos para o futuro.

De acordo com a estudante, Passo Fundo tem muitas semelhanças com a sua cidade natal. Apesar da diferença nas temperaturas, a preservação ambiental e o verde presente na cidade fizeram ela se sentir em casa. Sobre o futuro Elia destaca que ainda tem tempo para pensar, mas acredita que ainda há um longo caminho de formação a ser percorrido.

“Sempre pensei em ir para o exterior, mas com foco em voltar para o meu país e dar a minha contribuição. Ainda não sei o que o futuro reserva, mas estou pensando que a caminhada acadêmica ainda não terminou. Me senti acolhida pela cidade e aqui encontrei um espaço parecido com a minha cidade. Me senti conectada”, observa Elia.

Troca de experiências enriquece formação
A professora da UPF, Gizele Zanotto, doutora em História Cultural, e coordenadora do PPGH, ressalta o quanto a presença do Aladino, da Gerda, da Elia e de tantos outros estrangeiros que estudam na UPF enriquecem a formação nos programas de pós-graduação da Universidade.

“Toda interação relacional, teórica e cultural é válida na capacitação da formação de historiadores e, no caso de experiências compartilhadas com colegas de países e continentes diversos, certamente temos um adendo maior para a humanização e troca de experiências”, comenta Gizele.

Em especial, no PPGH, essa troca de experiências é um diferencial importante.

“Para o Programa é essencial termos essa relação de troca teórico-metodológica e experiencial na formação de todos os envolvidos, bem como produzir conhecimento renovador da historiografia a partir da UPF abordando outras realidades histórico-sociais”, ressalta a professora.