Pesquisa e Inovação

Abate de peixes: Professor da UPF cria guia inédito para o Ministério da Agricultura

21/09/2022

09:17

Por: Caroline Simor / Assessoria de Imprensa UPF

Fotos: Camila Guedes

Materiais voltados à piscicultura abordam a criação, o transporte e o abate de peixes de forma humanitária

O conhecimento não apenas gera melhores resultados, mas proporciona o avanço de metodologias e atitudes que trazem o bem-estar conectado com o desenvolvimento sustentável. Referência em diversas áreas, a Universidade de Passo Fundo (UPF) conta com um quadro de professores cujo reconhecimento ultrapassa as salas de aula e, neste sentido, o conhecimento ganha força. Participando de um edital de chamamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), do Governo Federal, o professor Dr. Leonardo José Gil Barcellos foi o selecionado para elaborar uma série de materiais que irão guiar o setor da aquicultura no Brasil. Divido em quatro etapas, os conteúdos estão sendo elaborados, mas alguns já estão disponíveis no site do Ministério.

Os manuais sobre bem-estar de peixes abordam tudo que está relacionado a prática, bem-estar, passando pela estrutura e fisiologia animal. Produzido e distribuído pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por meio da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Sustentável e Irrigação (SDI), Departamento de Desenvolvimento das Cadeias Produtivas, e Coordenação de Boas Práticas e Bem-estar Animal, eles podem ser acessados AQUI.

O projeto que ancora os manuais é desenvolvido e financiado em parceria do MAPA com o IICA - Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura.

Conteúdo inédito para a área

Além de ser um trabalho que irá guiar a produção, os manuais desenvolvidos trazem temas que nunca foram abordados em manuais ou orientações do Ministério. O tópico Abate Humanitário de Peixes, por exemplo, não é materializado em nenhum tipo de legislação no país.

De acordo com Barcellos, o tema é polêmico. A partir do documento elaborado pelo professor, se cria, se transporta e se abate de forma humanitária. “Não existe legislação sobre abate de peixe no país, e, sendo assim, em termos legais hoje qualquer tipo de abate é permitido. Então, esse documento, publicado pelo Ministério, vem justamente organizar um pouco essa questão e orientar os produtores, bem como inserir outros setores do próprio MAPA, que legislam sobre o tema no debate”, observa.

O professor também fez parte do desenvolvimento do Plano Nacional de Desenvolvimento da Aquicultura, que dará as diretrizes para os próximos 10 anos. Segundo ele, o documento abordará, entre outros temas, a modernização da aquicultura e a criação de uma legislação específica. “Embora seja polêmico, em função de que altera processos e traz novos custos, esse movimento é fundamental e qualificará a área”, pontua.

Lizie Buss, coordenadora de Boas Práticas e Bem-estar Animal do MAPA, ressalta que a evolução da área e as mudanças inseridas por uma visão mais humanitária fizeram com que o Ministério buscasse alternativas e melhorias. “Ele é um primeiro passo e reúne as melhores recomendações e orientações que podemos fazer no momento para ajudar a indústria a direcionar seus investimentos para um futuro mais sustentável e melhor qualidade dos produtos, inclusive no aspecto ético”, destaca.

Em sua visão, hoje sabe-se que os peixes são animais sencientes, ou seja, com capacidade de sentir sensações e emoções de forma consciente. Ela pondera que há muito tempo busca-se inclui-los dentro das políticas públicas de boas práticas e bem-estar animal, mas até o momento não havia nenhum material de orientação. “Sabemos que o animal hoje sofre muito no momento do abate e o futuro passa pela mudança desses processos. Ter um documento com uma linguagem acessível e que chegue até o produtor não é apenas um passo, mas um grande e importante passo”, finaliza.

Conhecimento construído e partilhado

Com mais de 30 anos de experiência na área, Barcellos foi selecionado após enviar o currículo e passar por uma entrevista. “Estar na Universidade há 22 anos, ministrando as disciplinas de aquicultura e sanidade aquícola, de fisiologia e de bem-estar animal, me deu uma base muito boa para escrever os manuais, uma vez que os conteúdos são utilizados em sala de aula. Fui buscar atualizações e então fui selecionado”, recorda, lembrando que o edital foi publicado ainda em 2021.

O pesquisador já desenvolveu os Manuais de Boas Práticas na criação de peixes de cultivo, Boas Práticas no transporte de Peixes Vivos e de Abate Humanitário. Restando ainda uma programação de cursos que serão ministrados. Os materiais estão dentro do objetivo de modernização da gestão estratégica do MAPA para aperfeiçoar as políticas públicas de promoção do desenvolvimento sustentável, segurança alimentar e competitividade do agronegócio.

Para o professor, o bem-estar animal é um tema sensível que, no âmbito desse projeto, tem em sua essência o combate a resistência microbiana. Ele pontua que a consultoria está alinhada à Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO) e à Organização Internacional de Epizootias (OIE). “O trabalho é feito no sentido de buscar boas práticas, para obter melhores graus de bem-estar, proporcionando maior saúde aos animais. Como consequência dessas novas posturas, os animais precisam de menos antimicrobianos, produzindo uma alimentação mais saudável e reduzindo a problemática global da resistência bacteriana aos antimicrobianos”, observa.

Para a diretora da Escola de Ciências Agrárias, Inovação e Negócios (ESAN) da UPF, Dra. Cleide Moretto, o trabalho do professor Leonardo marca a contribuição de uma Universidade que sempre elegeu a pesquisa como um dos vetores para a qualificação do ensino. “Ver os resultados da ciência e tecnologia desenvolvidos em nossa universidade comunitária, como é o caso da produção científica do professor Leonardo, sendo utilizados como referência pelo MAPA enaltece o compromisso institucional não apenas com a qualidade acadêmica, mas sobretudo com a responsabilidade social. A Escola de Ciências Agrárias, Inovação e Negócios sente-se honrada em poder ter em seu quadro pesquisadores de excelência, com reconhecimento nacional e internacional”, comentou.